terça-feira, 16 de agosto de 2011
Sinais de retração
Financial Times - Londres
Os preços das commodities subiram ontem, à medida que os negociantes ensaiaram uma tentativa de retornar ao mercado, após uma semana tumultuada dominada por preocupações econômicas em todo o mundo e temores em relação a endividamento soberano.
O índice Reuters/Jefferies CRB, indicador referencial para preços de matérias-primas, subiu 0,9%, para 329,5 pontos. O índice subiu 4,5% desde que caiu a seu nível mais baixo em oito meses, na terça-feira passada.
Analistas disseram que investidores de longo prazo estavam na expectativa de poder entrar no mercado a preços mais baixos.
"Os investidores no mercado de commodities estão olhando para o petróleo e metais industriais, principalmente cobre, com muito interesse", disse Kevin Norrish, analista sênior de commodities do Barclays Capital.
Os contratos de petróleo tipo Brent para setembro na ICE, uma referência mundial de preços do petróleo, subiu 93 centavos, para US$ 108,96, ao passo que o petróleo tipo West Texas Intermediate na Nymex para setembro subiu US$ 1,40, para US$ 86,78.
O ânimo no mercado de petróleo permaneceu sem rumo definido. James Zhang, analista da Standard Bank, alertou que a calma nos mercados é ilusória.
"Embora o mercado pareça ter acalmado um pouco desde sexta-feira, não acho que podemos descartar inteiramente as preocupações com um duplo mergulho (recessivo)", disse ele.
No entanto, os negociantes estão cautelosos quanto a apostar numa queda dos preços do petróleo em meio a expectativas de uma intensa temporada de furacões.
O Commodity Weather Group, uma firma de consultoria, disse ontem acreditar que um grande furacão atingirá a área (americana) do Golfo (do México) produtora de petróleo e gás nesta temporada, que vai até outubro.
Apesar do incipiente retorno a ativos de risco, o ouro subiu 0,3%, para US$ 1.751,30, embora tenha permanecido bem abaixo do pico acima de US$ 1,8 mil atingido na quinta-feira.
Os metais básicos mostraram-se indefinidos, tendo o cobre para entrega em três meses na London Metal Exchange (LME) avançado um pouco rumo a uma marca de US$ 9 mil por tonelada. O metal subiu 0,4%, cotado a US$ 8.915 a tonelada, mas o alumínio caiu 1,1% no dia, para US$ 2.379,50 por tonelada. O níquel acentuou a queda ontem, com perda de 2,02%, terminando o pregão da LME cotado a US$ 21.360. Já a tonelada do estanho subiu 0,61% ontem, cotado a US$ 24.650.
Aplicações em fundos de ouro negociados em bolsa viveram um alívio na segunda metade da semana passada. O SPDR Gold Trust, maior dos Exchange Traded Funds (ETF), que negociam com ouro físico em bolsas, registrou uma saída líquida de 24 toneladas na quinta-feira, maior fluxo diário desde janeiro.
Isso revela-se coerente com dados da Comissão de Negócios com Contratos Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês) dos EUA, que mostram os investidores reduzindo suas apostas otimistas no mercado de futuros de ouro nos EUA na semana que finda na terça-feira passada.
Companhias aéreas dos EUA devem reduzir voos
Bloomberg
16/08/2011
As companhias aéreas americanas poderão ter de reduzir seus voos, num momento em que a desaceleração da economia anula sua capacidade de aumentar as tarifas, ao mesmo tempo em que enfrentam alta dos custos com o querosene de aviação.
Esse aperto "pede contração", diz Hunter Keay, analista da Wolfe Trahan. O índice referencial das despesas com refino de combustível subiu para níveis recorde na semana passada, reforçando as pressões para que as companhias aéreas sigam o exemplo da Delta Air Lines e da Southwest Airlines na redução da atual capacidade ou do crescimento futuro.
O grau de confiança do consumidor despencou este mês para seu patamar mais baixo desde 1980, intensificando o temor de que os americanos reduzam seus gastos. Esse indicador se seguiu, no último dia 12, às oscilações recorde das ações americanas, quando o Índice Standard & Poor's 500 flutuou entre altas ou baixas de pelo menos 4,4% por quatro dias consecutivos.
"Acho que as companhias aéreas não deveriam encarar esse nervosismo como tendência de curto prazo", disse Keay em entrevista. "Se os executivos partirem para supor que os altos preços dos combustíveis vieram para ficar, eles deverão ter como premissa que o medo e a destruição do patrimônio do consumidor permanecerão indefinidamente também."
As empresas elevaram as tarifas na maior parte de seus voos domésticos por pelo menos oito vezes em 2011, e suas projeções apontaram para uma recuperação da economia que permitiria a adoção de novos aumentos. Essas expectativas estão se desfazendo depois dos três fracassos registrados nas últimas quatro tentativas do setor de aumentar seus preços.
"Está muito claro que a economia não está se recuperando" disse Gary Kelly, principal executivo da Southwest. "As viagens de negócios, por exemplo, não vão aumentar enquanto a economia não crescer realmente a uma taxa saudável."
Os executivos em viagem de negócios são os passageiros mais lucrativos do setor, pois normalmente compram as passagens mais caras, de última hora. O período de pico das viagens de lazer termina com o Feriado do Dia do Trabalho, comemorado nos EUA em 5 de setembro.
"Em algum momento, com as empresas vislumbrando uma economia fraca e um gasto do consumidor fraco, elas poderão se retrair" nos voos, disse Philip Baggaley, analista de papéis da S&P. "Será mais difícil para as aéreas continuarem a elevar os preços."
Isso desloca o foco das companhias aéreas para o corte de despesas. Elas poderão economizar dinheiro com medidas como a redução das frequências de voos, o cancelamento de algumas rotas e a substituição de aeronaves de maior porte por aviões menores. Todas essas medidas reduzem a capacidade disponível de assentos, pelo critério do número de assentos deslocados por milha.
A expansão da economia dos EUA poderá ser mais lenta no segundo semestre de 2011 do que o previsto pelos analistas, depois que a expansão do Produto Interno Bruto até junho ficou aquém das expectativas, o que sugere que "não conseguiremos escapar de um desaquecimento das viagens de negócios no terceiro trimestre", disse Michael Linenberg, do Deutsche Bank, por meio de relatório.
As expectativas dos investidores em relação às companhias aéreas caíram mesmo antes do colapso que ceifou US$ 6,8 trilhões em valor de mercado das bolsas mundiais de 26 de julho a 11 de agosto. O Índice Bloomberg de Companhias aéreas americanas ingressou num mercado vendedor no mês passado, ao despencar 20% em relação à sua alta recorde de 2011. Sua queda de 35% computada este ano, até o último domingo, ultrapassou o recuo de 6,3% registrado pelo Índice S&P 500.
O índice das empresas aéreas tinha aumentado 3,3% às 11h20 de ontem, horário de Nova York, em meio à alta da maioria dos papéis americanos. Embora o petróleo bruto tenha fechado a US$ 85,38 o barril a 12 de agosto na Bolsa Mercantil de Nova York (Nymex), com uma queda de 25% em relação à sua alta recorde de 2011, nem todas as companhias aéreas se aproveitaram do recuo. O querosene de aviação alcançava o preço médio de US$ 3,08 o galão (de 3,785 litros) este ano até o fim da semana passada, cotação 45% superior à do mesmo período do ano passado.
O ônus para as companhias aéreas é maior quando medido pelo fator conhecido como spread de craqueamento entre o petróleo bruto e o óleo para calefação. Muitas empresas aéreas usam os contratos futuros de óleo para calefação para proteger com operações de hedge suas compras de querosene de aviação, produto que não é negociado na Bolsa Mercantil de Nova York. O spread alcançou US$ 37,45 o barril a 10 de agosto, seu maior nível de 25 anos da série histórica da Bloomberg, e mais do que duplicou este ano.
O principal executivo da Delta, Richard Anderson, disse aos funcionários da empresa na semana passada que eles não deveriam "se deixar enganar" pelo recuo do preço do petróleo bruto.
"A economia enfrenta muitos desafios, e não temos motivos para pensar que os preços baixos dos combustíveis vão persistir", disse ele. A Delta, sediada em Atlanta, vai reduzir sua capacidade nos próximos meses deste ano em 5%, em relação aos pretendidos 4%. Os rompimentos antecipados de contrato coletivo e os programas de demissão voluntária deste ano contribuíram para que a segunda maior companhia aérea do mundo fechasse mais de 2 mil vagas, disse seu porta-voz Eric Torbenson no mês passado.
A Southwest, maior companhia aérea de tarifas econômicas, reduziu o crescimento de sua capacidade para 2011 para uma faixa de 4 a 5%, em relação aos 6% avaliados anteriormente. O número de assentos da Southwest, sediada em Dallas, permanecerá inalterado em 2012, e "possivelmente sofrerá uma ligeira queda", disse Kelly.
A United Continental Holdings, a maior companhia aérea, disse que sua disponibilidade de poltronas de 2011 permanecerá inalterada. A American Airlines, a terceira maior do país, cortou seus planos de crescimento para 2011 por três vezes, para uma meta de 1,9%. É provável a adoção de mais ajustes no início de 2012, segundo a American, uma divisão da AMR.
"Apostar em viagens eletivas não é uma boa aposta neste momento", disse Robert Mann, ex-executivo da American e atual diretor da consultoria R.W. Mann de Port Washington, Estado de Nova York. "Tudo vai depender do grau pelo qual as viagens de negócios vão continuar e de quais serão os lucros corporativos no terceiro e quarto trimestres."
As companhias aéreas estão em condições de reagir depois de reduzir seus voos em meio ao duplo ônus dos preços recordes dos combustíveis de 2008 e do colapso das viagens de negócios da recessão, disse John Heimlich, economista-chefe da Associação de Transporte Aéreo, a entidade patronal do setor em Washington.
Mundo rico deve ter estagnação longa, dizem desenvolvimentistas
Sergio Lamucci De São Paulo
16/08/2011
Os países desenvolvidos devem enfrentar um longo período de estagnação econômica, num cenário em que Estados Unidos e Europa deixam os estímulos fiscais em segundo plano, os salários não acompanham a evolução da produtividade e a política monetária pouco afeta a atividade.
Reunidos ontem num seminário na Fundação Getulio Vargas (FGV), economistas desenvolvimentistas traçaram esse diagnóstico para a economia global, considerando mais provável um quadro de vários anos de baixo crescimento do que uma ruptura como a que sucedeu a quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008. A era de preços de commodities nas alturas tende a ficar para trás, afetando o Brasil, grande exportador de produtos primários.
O economista Thomas Palley, do instituto de políticas públicas New America Foundation, vê o cenário de uma longa estagnação nos países desenvolvidos como o cenário mais provável. "No curso dessa estagnação, contudo, haverá mais recessões", afirmou, avaliando que acabou o tempo de recuperações rápidas dos países mais industrializados. Um dos motivos é a separação entre o crescimento dos salários e da produtividade, um fator crucial para estimular a demanda, que deixou de ser uma realidade no mundo desenvolvido a partir dos anos 80, quando, segundo ele, o receituário keynesiano foi abandonado.
O economista-chefe da Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês), Heiner Flassbeck, também considera o divórcio entre os salários médios e a produtividade como um fator crucial para explicar a dificuldade do mundo desenvolvido em retomar o crescimento. É o que se passa nos EUA e no Japão, disse ele, destacando que salários em alta são fundamentais para impulsionar a demanda. Como Palley, Flassbeck participou ontem do primeiro dia do seminário "O novo desenvolvimentismo e uma nova macroeconomia do desenvolvimento", organizado pela Escola de Economia de São Paulo da FGV e pelo Centro Celso Furtado.
O economista Ricardo Carneiro, da Unicamp, também aposta num cenário de baixo crescimento por um longo período. Segundo ele, a digestão de uma crise financeira como a de 2008 costuma levar muito tempo para ser digerida, dado a necessidade de se reduzir o endividamento. A recuperação de crises desse tipo, disse Carneiro, é difícil mesmo quando se tomam as decisões corretas, o que não está longe de ocorrer nos EUA e na Europa. Com famílias endividadas e empresas sem investir, o impulso teria que vir do setor público, afirmou ele, mostrando ceticismo quanto a uma retomada do crescimento via exportações, já que essa estratégia não pode favorecer todos os países ao mesmo tempo.
Carneiro tampouco vê grande espaço para a ação da política monetária, com os juros próximos de zero no mundo desenvolvido. Caberia aos governos estimular a economia, caminho que não deve ser trilhado nem pelos EUA e nem pela Europa, pelo contrário.
O professor Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp, também vê como imprescindível o uso da política fiscal neste momento, lamentando que o impasse político nos EUA tenha travado essa alternativa. As duas rodadas de afrouxamento quantitativo (a política do banco central americano de comprar títulos públicos e privados) tiveram pouco efeito sobre a demanda, segundo ele. Nesse cenário, o que se pode esperar é crescimento baixo no países ricos.
Esse cenário de estagnação não combina com preços de commodities elevados, o que terá impacto sobre o Brasil. Para Palley, aliás, os brasileiros têm se mostrado otimistas demais. O país, observou ele, depende muito das altas cotações de produtos primários, que devem sofrer num momento em que os países desenvolvidos, ainda 70% da economia global, tendem a ficar estagnados. Além disso, não está claro se a China conseguirá crescer ao ritmo dos últimos anos, já que o país exporta muito para os EUA e para a Europa e há o risco de ocorrer algum problema no sistema bancário chinês.
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