sexta-feira, 26 de agosto de 2011

BC no "Day Trade"

Valor 26/08



Corretora terá acesso a linha de redesconto do BC


O Conselho Monetário Nacional (CMN) ampliou o universo de instituições financeiras que podem tomar empréstimos intradia no Banco Central. Essa linha de redesconto, que não tem custo financeiro, poderá ser acessada por qualquer instituição com Conta de Liquidação no Sistema de Transferência de Reservas (STR), como corretoras, distribuidoras de valores, cooperativas de crédito e outras empresas cujo funcionamento é autorizado pelo Banco Central.

Até então, somente instituições bancárias, ou seja, com conta de reserva no BC, podiam tomar empréstimo para devolução no mesmo dia, sem pagar juros. Com isso, o uso desse instrumento de socorro de liquidez estava restrito a bancos comerciais, bancos múltiplos, bancos de câmbio, bancos de investimento, de desenvolvimento e caixas econômicas.

A ampliação do acesso foi decidida ontem e tem como objetivo "aumentar a competição" do sistema financeiro e "favorecer a fluidez" no Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), do qual o STR é parte, justificou o BC. É pelo STR que são feitas as transações entre instituições financeiras. Antes março de 2009, quando foram criadas as contas de liquidação no STR, as empresas não bancárias dependias dos bancos inclusive para fazer transações nesse sistema.

O desenho da linha intradia não muda. Os recursos podem ser tomados mediante entrega de garantia de 100%, somente na forma de títulos públicos federais. Trata-se de operação com compromisso de recompra do papel no mesmo dia pelo tomador do recurso.

Enquanto isso...

O gato de Bernanke pode ter subido no telhado


Por Daniele Camba

Desde segunda-feira, analistas e investidores não pensam em outra coisa: a possibilidade do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, anunciar hoje a terceira versão do pacote de recompra de títulos - o "Quantitative Easing 3". Ontem, no entanto, o mercado funcionou como se o gato de Bernanke tivesse subido no telhado.

Os investidores começaram a colocar nos preços dos ativos uma possibilidade bem maior de que o presidente do Fed tente acalmar os ânimos apenas na lábia, sem anunciar um tostão a mais de estímulo à economia.

A reação dos mercados foi de queda. Nem mesmo a Bovespa se safou de ficar no vermelho, mesmo com a elevação da perspectiva da nota do Brasil, pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, de estável para positiva.

O Índice Bovespa passou boa parte do pregão em queda, fechando em baixa de 1,57%, aos 52.953 pontos. O volume de negócios foi de R$ 5,1 bilhões, abaixo da média diária recente.

Para o diretor da Ativa Corretora, Álvaro Bandeira, depois de muita resistência, os investidores caíram em si. A reunião de hoje, em Jackson Hole, deve ser no máximo uma carta de intenções, nada mais do que isso. "Deve sair algo bem teórico, longe de uma terceira versão do pacote de recompra de títulos", diz Bandeira.

O diretor da Ativa cita alguns motivos para que não saia nada muito "mão na massa" da reunião de hoje. Primeiro por não ser um fórum ideal para decisões tão práticas, apesar do "Quantitative Easing 2" ter saído exatamente desse encontro, no ano passado. No entanto, a situação da economia era bem diferente.

Para se ter ideia, naquela época, o índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês) em 12 meses estava em 1%. Já agora, a inflação ultrapassa a marca dos 3,5%. Em outras palavras, isso significa que o governo dos EUA tem muito menos condições de gastar dinheiro para estimular a economia e, por tabela, satisfazer o desejo do mercado.

"O Fed sempre deixou claro que um afrouxamento monetário deve ocorrer quando há deflação, sendo que agora o que existe é uma inflação já alta, ou seja, algo bem diferente", explica o diretor da Ativa.

Um outro motivo para que não saia nada de palpitante das montanhas de Jackson Hole, segundo Bandeira, é que faz mais sentido uma ação coordenada entre o BC dos Estados Unidos e outros bancos centrais, como o que ocorreu durante a crise de 2008, o que parece pouco provável, pelo menos por enquanto.

A pergunta agora é se o mercado vai retomar a tendência de queda acentuada que se viu no começo do mês, caso Bernanke realmente não tire um novo pacote da cartola hoje. Os analistas acreditam que não. "O mercado deve cair num primeiro momento e depois voltará a ficar volátil, à mercê de notícias dos EUA e da Europa", diz o gestor da Infinity Asset Management, George Sanders. A conferir.

Daniele Camba é repórter de Investimentos

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