Valor 05/08
O pessimismo voltou a tomar conta do mercado mundial de ações ontem, levando o Índice Bovespa a perder 5,72%, a maior queda em um dia deste 21 de novembro de 2008, ecoando as lembranças da grande crise global iniciada com a quebra do banco Lehman Brothers. O índice recuou para 52.811 pontos, o menor nível desde 17 de julho de 2009. Outro sinal ruim foi o volume negociado, de R$ 9,6 bilhões, o dobro do habitual, indicando apostas pesadas na queda.
Só na semana, o Ibovespa acumula uma perda de 10,2%, ou 23,8% no ano. O que significa que R$ 395 bilhões em valor de mercado das empresas brasileiras foram pulverizados no ano, dos quais R$ 160 bilhões apenas nesta semana.
A queda da bolsa tem fundamentos econômicos claros, baseados na piora das expectativas para as economias americana e europeia e que trazem o risco de uma nova recessão. Isso afetaria a demanda por commodities, setor com forte presença na bolsa brasileira. Ontem, o índice de matérias-primas CRB Reuters caiu 2,77%, acumulando no mês queda de 4,12%.
Assim, papéis importantes no Ibovespa e na carteira dos investidores como Petrobras e Vale fecharam ontem acumulando perdas de 11,37% e 9,53% nesta semana, respectivamente. Outra empresa de commodities, MMX, lidera os prejuízos, com 24,75%.
Mas o lado emocional amplificou os sinais ruins da economia, afirmam analistas. Ontem, o catalisador da forte queda foi a decisão do Banco Central do Japão de vender ienes e derrubar a moeda como forma de conter a valorização provocada pela busca por segurança dos investidores. Anteontem, a Suíça agiu na mesma linha cortando os juros.
A falta de coordenação global contra a crise e a busca irracional por proteção fizeram os juros de papéis de curtíssimo prazo americanos despencarem, levando o título do Tesouro de um mês a ser negociado com ágio, ou seja, o investidor pagaria para aplicar no papel. E o Bank of New York Mellon anunciou que vai cobrar taxa de 0,13% de quem tiver mais de US$ 50 milhões em conta.
A má notícia é de que esse movimento de queda da bolsa pode continuar. Segundo o operador de um importante banco estrangeiro no Brasil, vem aí "mais uma pernada" de baixa, que pode durar mais um ou dois meses. "Devemos ter agora saques em fundos globais dedicados a mercados emergentes, América Latina e Brasil, e esses fundos terão de vender papéis aqui", afirma o operador, que pediu para não ter seu nome citado.
Segundo ele, apesar de as perspectivas de longo prazo para o Brasil serem boas, é o lado emocional que está dirigindo os investidores. Ontem, houve um movimento forte de zeragem ("stop loss"), em que os preços das ações atingem limites de baixa que acionam vendas automáticas e ampliam ainda mais a queda do mercado. "Mas os preços das ações brasileiras estão ficando muito convidativos, apesar das previsões de menor crescimento mundial", acrescenta.
A falta de espaço fiscal e monetário para novos incentivos nos EUA e na Europa cria insegurança sobre o futuro da economia mundial e isso tem reflexos em todas as bolsas, diz Dório Ferman, do Opportunity, gestor do fundo Lógica II, que reúne R$ 2,6 bilhões. "Mas minha única convicção é que a Vale está muito barata, assim como Banco do Brasil, Bradesco e Itaú ", diz. Redecard e Cielo também aparecem na lista de Ferman. Mesmo Petrobras, com seus investimentos polêmicos, também está atrativa, diz.
Ferman observa que estamos vivendo uma situação totalmente nova, com risco de uma recessão nos países desenvolvidos, mas que pode ser compensada pelo crescimento chinês. Ao investidor, ele aconselha que se concentre no conteúdo e no fundamento das empresas, sem perder a racionalidade, escolhendo o que está barato no mercado. "Salvo uma catástrofe mundial, quem tem sangue-frio nesses momentos é que consegue ganhar dinheiro", diz.
O momento é de reversão, de ajuste dos preços dos ativos a um crescimento mais moderado e dúvidas se a economia americana vai se recuperar, afirma Raphael Martello, economista da Tendências Consultoria. "É essa incerteza que permeia o mercado; não se sabe o fundo do poço."
No início do ano, havia uma perspectiva positiva com a economia americana. Mas, recentemente, o desempenho econômico dos EUA se mostrou mais fraco. O economista diz que não trabalha, porém, com cenário de recessão nos Estados Unidos e projeta crescimento de 1,5% do PIB.
Na avaliação de Martello, a bolsa brasileira vem sofrendo mais porque havia gordura para queimar. Em 2009, por exemplo, o desempenho da bolsa brasileira foi muito bom, com alta de 82,66%. Para o investidor, comprar ações agora é entrar num momento de altíssima volatilidade. "Se a pessoa tiver horizonte para daqui a cinco anos, talvez faça sentido, pois várias janelas de oportunidade vêm se abrindo", afirma Martello. "Mas o cenário continua extremamente incerto e a bolsa pode cair mais; o investidor deve estar preparado para perder 10% ou 15% num único dia."
A bolsa deve continuar a sofrer nos próximos dias por conta de novos movimentos de zeragem de perdas, mas sem mudar para um novo nível de preços muito abaixo do atual, acredita Demosthenes Madureira de Pinho Neto, ex-diretor do Banco Central e diretor-executivo da Itaú Asset Management. "Mas em termos de fundamentos, os preços das empresas estão interessantes, apesar das incertezas todas", diz.
Ele alerta, porém, que as crises nos EUA e na Europa devem ser muito mais longas do que a que se viu logo após 2008, e que fragilizou muito as economias desenvolvidas, o que adiará uma recuperação dos mercados. Demosthenes observa que, nos EUA, não há problema no setor financeiro. "Mas na Europa não se sabe a exposição dos bancos a papéis governamentais, que estão se desvalorizando fortemente, um problema que se soma à crise fiscal."
Se os pessimistas de plantão estiverem certos e de fato houver recessão mundial, essa queda dos mercados estará longe de ser algo irracional, diz o economista-coordenador do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa. Ele acredita, no entanto, que a desaceleração da economia global não chegará a tanto, portanto, os mercados parecem estar exagerando na dose de pessimismo.
Mas não existem apenas pessimistas no mercado. O presidente da Citi Corretora, Roberto Serwaczak, acha que as quedas desta semana se mostram como uma oportunidade. "Já existem vários papéis superdepreciados e de empresas que possuem fundamentos sólidos", diz Serwaczak. Segundo ele, os investidores estrangeiros estão percebendo essas oportunidades e vêm comprando algumas dessas ações. "Nos últimos dias, o saldo na Citi e em outras corretoras bastante atuantes entre estrangeiros tem sido positivo", diz o executivo.
Serwaczak afirma também que o mercado esquece que uma desaceleração mundial e nas commodities pode fazer a taxa Selic no Brasil passar a cair. "E as quedas de juros costumam ser positivas para a renda variável."
Mercado tem um dia para ser esquecido
Os mercados ontem tiveram um dia para ser esquecido. No Brasil, o pregão foi de horror. No pior momento dos negócios, o Índice Bovespa chegou a cair 6%, ficando aos 52.628 pontos. O fechamento não foi muito melhor do que isso: queda de 5,72%, aos 52.811 pontos, menor pontuação desde 17 de julho de 2009, quando encerrou aos 52.072 pontos. Já em termos percentuais a situação é ainda pior: é a maior desvalorização desde 21 de novembro de 2008 (ápice da crise americana), quando o indicador caiu 6,45%.
Neste mês, que significa apenas quatro pregões, o Ibovespa já cai 10,2%. O desempenho é tão sofrível que nenhuma ação que faz parte do índice está no campo positivo em agosto. A ação que menos cai no mês é a ordinária (ON, com voto) da Cielo, em queda de 0,67%; e a que mais cai é a ON da MMX, em baixa de 24,75%.
No ano, os números também são assustadores. O Ibovespa acumula uma queda de 23,8% e apenas 13 papéis que compõem o indicador apresentam alguma valorização em 2011. Algumas ações chegam a acumular queda de mais de 50% no ano. As preferenciais (PN, sem voto) da Gol caem 59,73%, as ON da B2W, 57,21%, e as ON da Hypermarcas outros 51,25%.
O índice VIX, que mede a volatilidade das opções da bolsa americana, subiu 35,41% ontem. Esse indicador é visto como um importante termômetro do mercado.
Mas nem tudo parece estar perdido. Existem alguns indicadores que mostram que a queda do mercado pode ter chegado ao seu ponto máximo, dando lugar a um movimento de recuperação.
Uma maneira de olhar a questão é observar o chamado Índice de Força Relativa (IFR), que mede o nível de força dos movimentos de alta ou de queda do mercado. Esse indicador vai de 0 a 100 - quanto mais baixo, mais sobrevendido está o mercado e, portanto, as chances de recuperação são maiores. Isso porque o fluxo de vendas deve se esgotar. Já o referencial em níveis entre 80 e 100 mostra que os ativos estão sobrecomprados, ou seja, a alta pode perder o fôlego.
O que se vê atualmente no mercado brasileiro, segundo apurou a repórter Luciana Monteiro, é o Ibovespa com IFR em 10. Historicamente, um índice entre 0 e 20 significa que os investidores já venderam demasiadamente as ações. "Praticamente não há mais força para o Ibovespa cair", diz Alexandre Espírito Santo, economista da Way Investimentos e professor de finanças da ESPM-RJ e do Ibmec-RJ.
Só para se ter ideia, os papéis preferenciais da Gol estão com IFR de zero. "Em 24 anos de mercado, nunca vi isso", afirma ele. Já as ações ordinárias da CSN registram IFR de 3. O indicador da Petrobras PN ainda se sustenta nos 26, enquanto na Vale PNA é de 11, mesmo nível de Usiminas PNA. "O mercado se mostra exaurido de baixas", diz Espírito Santo.
Só na semana, o Ibovespa acumula uma perda de 10,2%, ou 23,8% no ano. O que significa que R$ 395 bilhões em valor de mercado das empresas brasileiras foram pulverizados no ano, dos quais R$ 160 bilhões apenas nesta semana.
A queda da bolsa tem fundamentos econômicos claros, baseados na piora das expectativas para as economias americana e europeia e que trazem o risco de uma nova recessão. Isso afetaria a demanda por commodities, setor com forte presença na bolsa brasileira. Ontem, o índice de matérias-primas CRB Reuters caiu 2,77%, acumulando no mês queda de 4,12%.
Assim, papéis importantes no Ibovespa e na carteira dos investidores como Petrobras e Vale fecharam ontem acumulando perdas de 11,37% e 9,53% nesta semana, respectivamente. Outra empresa de commodities, MMX, lidera os prejuízos, com 24,75%.
Mas o lado emocional amplificou os sinais ruins da economia, afirmam analistas. Ontem, o catalisador da forte queda foi a decisão do Banco Central do Japão de vender ienes e derrubar a moeda como forma de conter a valorização provocada pela busca por segurança dos investidores. Anteontem, a Suíça agiu na mesma linha cortando os juros.
A falta de coordenação global contra a crise e a busca irracional por proteção fizeram os juros de papéis de curtíssimo prazo americanos despencarem, levando o título do Tesouro de um mês a ser negociado com ágio, ou seja, o investidor pagaria para aplicar no papel. E o Bank of New York Mellon anunciou que vai cobrar taxa de 0,13% de quem tiver mais de US$ 50 milhões em conta.
A má notícia é de que esse movimento de queda da bolsa pode continuar. Segundo o operador de um importante banco estrangeiro no Brasil, vem aí "mais uma pernada" de baixa, que pode durar mais um ou dois meses. "Devemos ter agora saques em fundos globais dedicados a mercados emergentes, América Latina e Brasil, e esses fundos terão de vender papéis aqui", afirma o operador, que pediu para não ter seu nome citado.
Segundo ele, apesar de as perspectivas de longo prazo para o Brasil serem boas, é o lado emocional que está dirigindo os investidores. Ontem, houve um movimento forte de zeragem ("stop loss"), em que os preços das ações atingem limites de baixa que acionam vendas automáticas e ampliam ainda mais a queda do mercado. "Mas os preços das ações brasileiras estão ficando muito convidativos, apesar das previsões de menor crescimento mundial", acrescenta.
A falta de espaço fiscal e monetário para novos incentivos nos EUA e na Europa cria insegurança sobre o futuro da economia mundial e isso tem reflexos em todas as bolsas, diz Dório Ferman, do Opportunity, gestor do fundo Lógica II, que reúne R$ 2,6 bilhões. "Mas minha única convicção é que a Vale está muito barata, assim como Banco do Brasil, Bradesco e Itaú ", diz. Redecard e Cielo também aparecem na lista de Ferman. Mesmo Petrobras, com seus investimentos polêmicos, também está atrativa, diz.
Ferman observa que estamos vivendo uma situação totalmente nova, com risco de uma recessão nos países desenvolvidos, mas que pode ser compensada pelo crescimento chinês. Ao investidor, ele aconselha que se concentre no conteúdo e no fundamento das empresas, sem perder a racionalidade, escolhendo o que está barato no mercado. "Salvo uma catástrofe mundial, quem tem sangue-frio nesses momentos é que consegue ganhar dinheiro", diz.
O momento é de reversão, de ajuste dos preços dos ativos a um crescimento mais moderado e dúvidas se a economia americana vai se recuperar, afirma Raphael Martello, economista da Tendências Consultoria. "É essa incerteza que permeia o mercado; não se sabe o fundo do poço."
No início do ano, havia uma perspectiva positiva com a economia americana. Mas, recentemente, o desempenho econômico dos EUA se mostrou mais fraco. O economista diz que não trabalha, porém, com cenário de recessão nos Estados Unidos e projeta crescimento de 1,5% do PIB.
Na avaliação de Martello, a bolsa brasileira vem sofrendo mais porque havia gordura para queimar. Em 2009, por exemplo, o desempenho da bolsa brasileira foi muito bom, com alta de 82,66%. Para o investidor, comprar ações agora é entrar num momento de altíssima volatilidade. "Se a pessoa tiver horizonte para daqui a cinco anos, talvez faça sentido, pois várias janelas de oportunidade vêm se abrindo", afirma Martello. "Mas o cenário continua extremamente incerto e a bolsa pode cair mais; o investidor deve estar preparado para perder 10% ou 15% num único dia."
A bolsa deve continuar a sofrer nos próximos dias por conta de novos movimentos de zeragem de perdas, mas sem mudar para um novo nível de preços muito abaixo do atual, acredita Demosthenes Madureira de Pinho Neto, ex-diretor do Banco Central e diretor-executivo da Itaú Asset Management. "Mas em termos de fundamentos, os preços das empresas estão interessantes, apesar das incertezas todas", diz.
Ele alerta, porém, que as crises nos EUA e na Europa devem ser muito mais longas do que a que se viu logo após 2008, e que fragilizou muito as economias desenvolvidas, o que adiará uma recuperação dos mercados. Demosthenes observa que, nos EUA, não há problema no setor financeiro. "Mas na Europa não se sabe a exposição dos bancos a papéis governamentais, que estão se desvalorizando fortemente, um problema que se soma à crise fiscal."
Se os pessimistas de plantão estiverem certos e de fato houver recessão mundial, essa queda dos mercados estará longe de ser algo irracional, diz o economista-coordenador do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa. Ele acredita, no entanto, que a desaceleração da economia global não chegará a tanto, portanto, os mercados parecem estar exagerando na dose de pessimismo.
Mas não existem apenas pessimistas no mercado. O presidente da Citi Corretora, Roberto Serwaczak, acha que as quedas desta semana se mostram como uma oportunidade. "Já existem vários papéis superdepreciados e de empresas que possuem fundamentos sólidos", diz Serwaczak. Segundo ele, os investidores estrangeiros estão percebendo essas oportunidades e vêm comprando algumas dessas ações. "Nos últimos dias, o saldo na Citi e em outras corretoras bastante atuantes entre estrangeiros tem sido positivo", diz o executivo.
Serwaczak afirma também que o mercado esquece que uma desaceleração mundial e nas commodities pode fazer a taxa Selic no Brasil passar a cair. "E as quedas de juros costumam ser positivas para a renda variável."
Mercado tem um dia para ser esquecido
Os mercados ontem tiveram um dia para ser esquecido. No Brasil, o pregão foi de horror. No pior momento dos negócios, o Índice Bovespa chegou a cair 6%, ficando aos 52.628 pontos. O fechamento não foi muito melhor do que isso: queda de 5,72%, aos 52.811 pontos, menor pontuação desde 17 de julho de 2009, quando encerrou aos 52.072 pontos. Já em termos percentuais a situação é ainda pior: é a maior desvalorização desde 21 de novembro de 2008 (ápice da crise americana), quando o indicador caiu 6,45%.
Neste mês, que significa apenas quatro pregões, o Ibovespa já cai 10,2%. O desempenho é tão sofrível que nenhuma ação que faz parte do índice está no campo positivo em agosto. A ação que menos cai no mês é a ordinária (ON, com voto) da Cielo, em queda de 0,67%; e a que mais cai é a ON da MMX, em baixa de 24,75%.
No ano, os números também são assustadores. O Ibovespa acumula uma queda de 23,8% e apenas 13 papéis que compõem o indicador apresentam alguma valorização em 2011. Algumas ações chegam a acumular queda de mais de 50% no ano. As preferenciais (PN, sem voto) da Gol caem 59,73%, as ON da B2W, 57,21%, e as ON da Hypermarcas outros 51,25%.
O índice VIX, que mede a volatilidade das opções da bolsa americana, subiu 35,41% ontem. Esse indicador é visto como um importante termômetro do mercado.
Mas nem tudo parece estar perdido. Existem alguns indicadores que mostram que a queda do mercado pode ter chegado ao seu ponto máximo, dando lugar a um movimento de recuperação.
Uma maneira de olhar a questão é observar o chamado Índice de Força Relativa (IFR), que mede o nível de força dos movimentos de alta ou de queda do mercado. Esse indicador vai de 0 a 100 - quanto mais baixo, mais sobrevendido está o mercado e, portanto, as chances de recuperação são maiores. Isso porque o fluxo de vendas deve se esgotar. Já o referencial em níveis entre 80 e 100 mostra que os ativos estão sobrecomprados, ou seja, a alta pode perder o fôlego.
O que se vê atualmente no mercado brasileiro, segundo apurou a repórter Luciana Monteiro, é o Ibovespa com IFR em 10. Historicamente, um índice entre 0 e 20 significa que os investidores já venderam demasiadamente as ações. "Praticamente não há mais força para o Ibovespa cair", diz Alexandre Espírito Santo, economista da Way Investimentos e professor de finanças da ESPM-RJ e do Ibmec-RJ.
Só para se ter ideia, os papéis preferenciais da Gol estão com IFR de zero. "Em 24 anos de mercado, nunca vi isso", afirma ele. Já as ações ordinárias da CSN registram IFR de 3. O indicador da Petrobras PN ainda se sustenta nos 26, enquanto na Vale PNA é de 11, mesmo nível de Usiminas PNA. "O mercado se mostra exaurido de baixas", diz Espírito Santo.
Sardenberg: há razões de sobra para justificar quedas
Análise: Professor que elaborou indicador que mede grau de estresse das bolsas afirma que pressão vendedora deve se aprofundar mais.
Índice baseado em terremoto prevê novas quedas para bolsa
Depois da derrocada do Índice Bovespa de 10,2% somente nesta semana, elevando para 23,8% a queda no ano, os investidores se perguntam se este é o fundo do poço. As perspectivas, no entanto, não são positivas. Pelo menos é o que alerta o Índice de Mudanças Abruptas de entrada, batizado de IMA-entrada.
O indicador foi desenvolvido pelos pesquisador Marco Antonio Leonel Caetano, professor de Sistemas de Informação do Insper, em conjunto com Takashi Yoneyama, do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). O índice avalia o grau de estresse das bolsas nos períodos que antecedem crises ou que revelam bons momentos para compras. O referencial leva em conta as frequências com que os preços se moveram nos últimos 60 dias e, em seguida, revela a tendência do mercado.
A base para o índice veio de um estudo de sinais para prever terremotos. Parece loucura? O professor explica que, antes de uma grande virada, o mercado se torna absolutamente nervoso e frenético, fazendo com que as frequências das negociações oscilem muito rapidamente em uma determinada faixa.
Mas o que isso tem a ver com terremotos? Observando-se os dados de sismógrafos antes de um terremoto, é possível perceber que, quando as placas tectônicas se deslizam umas sobre as outras causando um certo movimento frenético no gráfico. Os sismólogos explicam ainda que, depois de um grande terremoto, tremores secundários ocorrem, mas vão diminuindo de frequência até desaparecerem.
Pois bem, com base nisso, o IMA foi elaborado e, em seguida, foi subdividido em dois. O primeiro, o IMA-crash, mede o risco de reversão de uma tendência de alta da bolsa. O segundo, o IMA-entrada, mensura o risco de uma mudança na tendência de queda. Ambos variam de zero a 1, sendo 1 o "fundo do poço", explica Caetano.
Hoje o IMA-entrada encontra-se em 0,76 e deve buscar o nível 1. Isso significa que o Ibovespa deverá aprofundar ainda mais sua queda, fazendo com que o índice alcance rapidamente algo próximo a 1. Ainda não será hora de entrar, explica o professor. "Só quando começar a reverter e cair será a melhor hora para o investidor de longo prazo entrar", diz Caetano.
Enquanto o indicador permanecer no alto, acima de 0,9, é melhor o investidor esperar. Já o IMA-crash está em zero. "Quando o índice indica que o mercado vai virar, as pessoas acham que o movimento vai acontecer amanhã, mas essa é uma tendência de longo prazo", ressalta o professor.
Se pelo lado do índice não é possível ser otimista neste momento, pelos fatores macroeconômicos a situação também não se mostra positiva. Caetano diz acreditar que o mundo entrará em recessão. "Alguns achavam que, depois da crise, a economia ia se comportar em forma de V, outros em W, mas na minha opinião será em M [ou seja, alta, queda, alta e uma queda violenta]", diz ele. "Algum grande banco vai quebrar, como nas outras crises, e teremos outro efeito manada."
Desde a pontuação máxima do Ibovespa neste ano - de 71.631, registrada em 12 de janeiro -, o principal referencial da bolsa brasileira acumula queda de 26,27%. Só para se ter ideia, naquele momento, o IMA-crash chegava a 0,76, enquanto o índice de entrada era zero. Ou seja, a frequência estava alta, abrindo espaço para quedas.
Já durante a crise de 2008, o índice de "crash" chegou próximo da máxima, a 0,96, em meados de maio. Vale lembrar que o Ibovespa despencou de 73.516 pontos no dia 20 de maio para 29.435 pontos em 27 de outubro - uma desvalorização de 60%.
Segundo Caetano, o grande culpado por essa crise chama-se Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que injetou mais de US$ 1 trilhão no mercado. "Ben Bernanke achava que, injetando dinheiro no sistema financeiro, a economia ia acalmar e haveria geração de emprego, o que não aconteceu", afirma o professor. Ao colocar dinheiro na economia, o Fed incentivou os grandes fundos a emprestar recursos no mercado para comprar títulos, o que resultou em uma movimentação artificial, diz Caetano. "Agora que o dinheiro fácil parou, os fundos vão naturalmente sair vendendo."
A situação na Europa deixa o cenário ainda pior, ressalta o professor, que acredita que Itália e Espanha vão, sim, precisar de um socorro financeiro dos países da União Europeia. "E não há recursos suficientes para ajudar essas duas economias", afirma Caetano. O Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês) poderá gastar, no máximo, €340 bilhões. O problema é que, o socorro, nos moldes aplicados a Portugal, exigiria € 800 bilhões. Ontem, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, tentou acalmar o mercado ao sinalizar que deve retomar o programa de compra de títulos e afirmar que pretende injetar mais liquidez nos mercados.
No caso da bolsa brasileira, os grandes fundos de investimento ficaram fora por um tempo neste ano para se concentrar no mercado americano. Agora, esses investidores estrangeiros voltaram, mas estão vendidos em índice futuro, ou seja, apostando na queda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário