quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Derrocada do mercado mais uma vez surpreende analistas de ações


Ben Hirschler e Scott Barber Reuters, de Londres
18/08/2011

Os analistas de ações parecem ter sido pegos mais uma vez por uma alteração tectônica no panorama econômico, realçando potenciais armadilhas nos modelos de lucros desenvolvidos por profissionais muito bem remunerados de Wall Street e da City de Londres.

Há meses empresas e lares dos dois lados do Atlântico vêm enviando uma mensagem clara de uma economia já fraca que vem se desacelerando rapidamente, mas as previsões de lucros futuros das empresas mal mudaram.

Analistas consultados pela Thomson Reuters ainda apontam para um crescimento de 15,3% dos lucros das companhias americanas nos próximos 12 meses, com um crescimento de 11,6% para as empresas da Europa. Agora, os dois números parecem destinados a fracassar. Se isso ocorrer, os preços das ações poderão não se mostrar tão baratos quanto estão parecendo.

Lucros inesperadamente vigorosos no primeiro semestre tiveram papel importante no aumento das esperanças até recentemente. Mas, conforme as casas de investimentos alertam, o desempenho passado não é garantia de resultados futuros e muitos investidores estão agora imaginando quando esses lucros começarão a cair.

Hoje, o quadro das previsões de lucros é parecido com o de 2008. Na ocasião, foi só o Lehman Brothers entrar em colapso para os analistas finalmente reduzirem suas projeções, apesar da crise anterior no Bear Stearns e dos fortes sinais de alerta emitidos pela economia.

Este ano, assim como em 2008, tanto o índice dos gerentes de compras do Institute for Supply Management, dos EUA, como o Purchasing Managers Index, da zona do euro - medidas da economia real -, caíram rapidamente muito antes de qualquer movimentação nas previsões de lucros.

A confusão nos mercados globais, motivada por temores em relação ao crescimento, mostra que os investidores não estão botando fé nos lucros corporativos, na esteira da decisão da agência Standard & Poor's (S&P) de reduzir a classificação da dívida dos Estados Unidos e da continuidade da crise da dívida da Europa.

Então, por que os analistas de ações aparentemente não computaram essas grandes mudanças macroeconômicas nas previsões de lucros das empresas?

Um motivo é que, além de seres racionais, eles também são seres sentimentais, segundo afirma David Tuckett, da University College London, que conduziu um estudo psicoanalítico dos mercados após entrevistar gestores de fundos que controlam mais de US$ 50 bilhões. "Os mercados financeiros são mercados dentro de histórias e os analistas financeiros são muito influenciados pelo contexto do clima do momento", diz. "Ao mesmo tempo, eles tendem simplesmente a extrapolar para o futuro o que já aconteceu e tendem a fazer isso em grupo, já que há muito o que perder ficando fora da multidão. Eles querem se destacar um pouco, mas não muito."

Tuckett descreve esse fenômeno como um sentimento de grupo. "É a mesma coisa que o pensamento em grupo, exceto que é baseado na vontade de se sentir como todo mundo, em vez de querer se sentir perigosamente fora da multidão. Isso naturalmente torna difícil para essas pessoas mudar rapidamente, a menos que todo mundo mude."

Os vencedores ao prever o cenário de lucros corporativos após a quebra do Lehman Brothers nos Estados Unidos e Europa incluíram o Bank of America Merrill Lynch, Goldman Sachs, Credit Suisse e UBS, segundo a empresa de pesquisas Starmine.

Daniel Beunza, professor de administração da London School of Economics, diz que as incertezas políticas que estão no coração da atual crise são particularmente difíceis de serem inseridas nos modelos dos analistas.

Beunza tem um artigo analisando um exemplo específico de política confundindo os analistas mais experientes, quando o comissário de competição da Europa Mario Monti bloqueou o takeover da Honeywell International pela General Electric em 2001.

De uma maneira parecida, analistas do setor de petróleo subestimaram as consequências políticas do derramamento de petróleo pela BP no Golfo do México em 2010. "Normalmente, os participantes do mercado erram quando precisam colocar no preço fatores políticos", diz Beunza. "A crise da dívida soberana exige um conhecimento de política que, na maioria das vezes, eles não têm."

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