quarta-feira, 10 de agosto de 2011

SALDÃO DA CRISE


VALOR 10/08
A queda de 13,04% do Índice Bovespa neste mês, que elevou para 26,19% as perdas no ano até ontem, abriu uma série de oportunidades na bolsa para o investidor que tem sangue-frio e que acredita que pode obter ganhos no longo prazo, apesar da forte volatilidade vista nos últimos dias. Mesmo a trégua do mau humor visto ontem, com o Ibovespa em alta de 5,10%, não foi suficiente para tirar a atratividade de muitas ações.

Levantamento realizado pelo Valor Data mostra que, das 58 empresas com balanço consolidado que compõem o Índice Bovespa, 21 delas, ou 36,20%, vêm sendo negociadas abaixo de seu valor patrimonial, ou seja, abaixo do patrimônio líquido da empresa. Só para se ter ideia, no início deste ano, apenas seis companhias eram negociadas abaixo de seu valor patrimonial. O estudo considerou apenas uma ação por empresa, a de maior liquidez.

Batizado de P/VPA (preço sobre valor patrimonial), este é um indicador bastante usado pelos analistas para saber se um papel está caro ou barato. Quando esse índice está abaixo de 1, pode significar que a companhia está uma barbada, ou seja, se mostra subavaliada em relação aos ativos que possui. Claro que o investidor não deve olhar apenas o P/VPA na hora de escolher um papel, já que, isoladamente, ele não mostra que a empresa é um ótimo negócio. Mas o índice pode dar uma ideia do potencial de valorização de uma ação, principalmente quando se fala de papéis que compõem o Ibovespa.

Nos últimos dias, quando o pânico tomou conta do mercado diante das expectativas de uma recessão nos Estados Unidos, desaceleração do crescimento global e dúvidas com a solvência de Itália e Espanha, as pessoas passaram a vender suas ações de maneira muito pouco racional, diz Alexandre Espírito Santo, economista da Way Investimentos e professor de finanças da ESPM-RJ e Ibmec-RJ. Para ele, o fato de vários papéis estarem sendo negociados abaixo do patrimônio líquido da empresa já é um sinal de que as vendas são fruto de um movimento de pânico, sem que o investidor olhe os fundamentos das empresas.

Entre as companhias negociadas abaixo de seu valor patrimonial e que integram o Ibovespa aparecem, por exemplo, as preferenciais (PN, com direito a voto) da Petrobras, as ordinárias (ON, com voto) da empresa de bens de consumo Hypermarcas, além de Gafisa ON, Gol PN e Gerdau PN. As empresas de telefonia Brasil Telecom e Telemar também integra a lista.

O forte movimento de vendas dos últimos dias foi comandado principalmente pelos investidores locais, enquanto os estrangeiros continuaram a colocar dinheiro na bolsa brasileira. Em agosto, até o dia 5, a entrada líquida (compras menos vendas) de recursos externos na bolsa foi de R$ 382,4 milhões. Na ponta oposta, os institucionais acumulam saída de R$ 727,5 milhões, enquanto o investidor pessoa física mostrou retirada líquida de recursos de R$ 356,7 milhões. Mas os dados ainda não contemplam a movimentação de segunda-feira, quando o Ibovespa caiu 8,08%.

Em momentos de pânico, a maioria dos investidores vende suas ações a qualquer preço e é quando surgem ótimas oportunidades, afirma Paulo Levy, diretor-executivo da Icap do Brasil. Para ele, a volatilidade da bolsa deve continuar alta e as chances de novas perdas não podem ser descartadas. Esse tipo de distorção, no entanto, de empresas sendo negociadas abaixo de seu valor patrimonial, deve ser eliminada. "O investidor com visão de médio prazo pode se aproveitar para comprar ações a preços mais baixos."

Na avaliação de Levy, o cenário atual é complicado diante da possibilidade de uma recessão, mas nada que se compare ao risco sistêmico visto durante a crise de 2008. O desespero apresentado pelos investidores, no entanto, foi praticamente o mesmo visto há três anos, diz o executivo, que continua acreditando nos bons desempenhos dos setores de consumo e bancos.

Há uma semana, ao analisar um universo de 265 ações da Bovespa, o professor Espírito Santo constatou que 23% delas estavam sendo negociadas abaixo do valor patrimonial. Agora, dias depois, esse número subiu para 33,5%. "E os números mostram que as empresas brasileiras vêm apresentando resultados interessantes, portanto, neste momento é preciso sangue-frio para não sair vendendo papéis bons", diz ele.

A queda da bolsa trouxe tantas oportunidades que escolher hoje uma boa ação não requer prática nem experiência, brinca Fernando Camargo, sócio da Orbe Investimentos. "Momentos como este são bons não apenas para olhar novas oportunidades, mas para elevar a exposição em boas ações que já estavam em carteira", diz. Ele ressalta ainda que mesmo fora do Ibovespa há papéis em níveis bastante interessantes, como GP ou BicBanco.

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