quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Inflação em alta e desaceleração na produção criam dilema na China



Jamil Anderlini | Financial Times, de Pequim
10/08/2011

A China anunciou ontem inflação persistentemente alta e dados de crescimento mais fracos que os esperados, ressaltando o dilema de política econômico-financeira com que se defrontam os líderes do país no momento em que o agravamento da crise da dívida na Europa e nos EUA atinge os mercados em todo o mundo.

O índice de preços ao consumidor anual na China acelerou para 6,5% em julho, ante 6,4% em junho, segundo dados divulgados pelo Birô Nacional de Estatísticas. A inflação foi impulsionada principalmente por volatilidade nos preços dos alimentos, que subiram 14,8% nos 12 meses encerrados em julho.

Os dados de crescimento da produção industrial, das vendas no varejo e dos investimentos referentes ao mês passado vieram todos abaixo das expectativas. Mas inflação dá pouco espaço para que Pequim afrouxe a sua política monetária. Desde outubro, Pequim elevou os juros em cinco ocasiões e por nove vezes ampliou o montante que os bancos devem manter em reserva no banco central.

Apesar da aceleração dos preços, a maioria dos economistas acredita que a inflação atingiu um pico em julho e agora esfriará.

"O lado encorajador dos dados é que o núcleo da inflação subiu muito pouco neste mês, após um grande salto no mês passado", disse Brian Jackson, do Royal Bank of Canada, em Hong Kong. "Acreditamos que a inflação está perto de um pico e cairá mais adiante, neste ano, à medida que efeitos fundamentais revelem-se favoráveis e que se façam sentir os impacto das medidas anteriores de política governamental."

Os preços de commodities, como o petróleo, estão em queda, em meio a sinais de freada do crescimento mundial. O preço da carne suína chinesa, um dos principais motores da inflação nos últimos meses, começou a se estabilizar.

Em comparação com 12 meses atrás, o crescimento dos investimentos em ativos fixos diminuiu para 24,5% em julho, contra 25,1% em junho, segundo estimativas do Barclays Capital. Muitos economistas agora acreditam que a China persistiu em sua tendência para aperto monetário por tempo demais, em 2008, quando o crescimento desacelerou no Ocidente, obrigando [os chineses] a lançar um enorme pacote de estímulo quando a economia global perdeu sustentação em setembro de 2008.

Stephen Green, do Standard Chartered em Hong Kong, disse: "As autoridades econômicas chinesas não vão querer cometer o mesmo erro duas vezes. Mas, ao mesmo tempo, elas sabem que a inflação poderá voltar rapidamente, e precisam ter sempre em mente a preocupação de que uma eventual decisão do Fed de promover uma terceira rodada de alívio quantitativo possa aquecer o preço das commodities".

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