quinta-feira, 18 de agosto de 2011

MAIS DOLARES


VALOR 18/08
Mesmo com as turbulências das últimas duas semanas, provocadas pelo rebaixamento da nota americana, as empresas e bancos brasileiros começam a correr para preparar emissões de títulos no exterior, dada a manutenção da liquidez para papéis de países emergentes. Os bancos de investimentos estão com diversas operações mandatadas, esperando apenas que uma janela se abra no próximo mês. Há espaço, inclusive, para lançamentos em real, especialmente depois do aperto da regulação cambial, que afastou o estrangeiro dos títulos e bolsas locais.

As primeiras operações, dada a volatilidade do mercado e a alta dos preços no mercado secundário, devem ser de empresas públicas, ou mesmo da República, que costumam abrir o caminho para as empresas de primeira linha.

A Eletrobras está com uma operação de 10 anos engatilhada, sob a liderança do Santander e do Credit Suisse. Petrobras e BNDES são outras estatais que têm planos para acessar o mercado no segundo semestre.

Os grandes bancos brasileiros também estão com apetite. O Itaú BBA fechou na semana passada, no auge da turbulência, um empréstimo sindicalizado de US$ 630 milhões com 19 bancos, a maior parte deles asiáticos. Já as companhias menores devem colocar papéis apenas se as condições estiverem realmente favoráveis.

Há ainda empresas com apetite para dívida como alternativa ao fechamento do mercado de ações local. Ou aquelas que querem apenas ficar preparadas para oportunidades de aquisição, que sempre surgem em momentos de crise.

Segundo Pedro Bianchi, diretor do Bank of America Merrill Lynch, o mercado de dívida para países emergentes no exterior está bastante favorável. "À exceção da última semana, todas as 22 semanas anteriores tiveram fluxo positivo para os fundos de renda fixa de emergentes", diz. Segundo ele, o que antes era apenas uma oportunidade para ampliar os retornos, hoje se tornou uma necessidade de diversificação para os investidores.

O mês de setembro é historicamente positivo. No ano passado, foram captados US$ 11,7 bilhões, de um total de US$ 51,3 bilhões (excluindo operações do Tesouro Nacional). A data mágica para a reabertura dos mercados após as férias de verão no Hemisfério Norte é o "Labor Day" americano, em 5 de setembro. "Esperamos que o mercado esteja bastante ativo. Vai ter um movimento de emissões brasileiras para aproveitar a baixa taxa de juro", diz Bianchi. Ele afirma, no entanto, que essa não será uma janela, mas uma tendência.

"Não é preciso que mudem as condições no mercado internacional. Apenas que a volatilidade diminua um pouco, pois as condições já são favoráveis, com taxas de juros baixas no exterior, boa performance do real durante o momento de crise e alta taxa de juros da economia brasileira", diz ele.

Para Alexandre Aoude, diretor do Itaú BBA, há uma janela para empresas de primeira linha captarem com prazos de 30 anos. Outra opção é fazer operações em reais. "Estamos com um 'pipeline' (fila) gigantesco, umas operações com maior probabilidade de sair, outras com menos chance", diz.

Sandy Severino, responsável pela área de captações externas do BTG Pactual, se diz otimista, mas acredita que há uma chance de os prêmios ficarem um pouco mais altos. Nas últimas semanas, os juros (yield) dos títulos de empresas brasileiras negociados no exterior subiram entre 50 até 100 pontos básicos - no caso de companhias com nível de risco mais elevado. O que houve foi um aumento do prêmio sobre o título americano, relação que serve de referência para novas operações.

Além disso, explica Marcelo Delmar, chefe de captações para a América Latina do BNP Paribas, os prêmios para novos lançamentos também subiu ("new issue premium"). No mercado americano, por exemplo, empresas com nível de risco semelhante às brasileiras (BBB) pagam um prêmio cerca de 15 a 25 pontos básicos acima do preço dos papéis negociados no secundário. "Os investidores têm dinheiro, mas estão colocando os recursos seletivamente", completa Luis Berlfein, chefe de originação e distribuição local do BNP Paribas.

As companhias brasileiras, no entanto, estão pouco alavancadas e sem muitos compromissos vencendo este ano. A posição é confortável para só lançar bônus se as taxas estiverem em patamares semelhantes aos do primeiro semestre. Eduardo Muller Borges, diretor de "credit market" do Santander, não acredita que os emissores com grau de investimento aceitarão pagar taxas mais altas. "Para essas empresas, cinco pontos básicos fazem muito diferença e elas estão muito capitalizadas, pois vêm captando com frequência".

Para Renato Ejnismam, diretor do BBI, banco de investimento do Bradesco, a sinalização do governo americano de que vai manter a taxa de juros no patamar próxima de zero até 2013 criou um ambiente possível para novas captações. "O mercado vai começar mais cauteloso, mais aberto para emissões de melhor risco e exigindo prêmio para emissões de high yield (alto risco)", diz.

IOF no câmbio eleva interesse por títulos em reais


Várias empresas brasileiras que relutavam em acessar o mercado internacional em função do risco de exposição ao dólar podem encontrar agora uma nova fonte de captação com prazos longos. A oportunidade para emitir títulos em reais no exterior aumentou bastante e já se mostra como uma tendência, especialmente depois das regras mais duras para investidores internacionais aplicarem recursos no Brasil, o que afastou parte dos estrangeiros.

No primeiro semestre, diversas operações de empresas brasileiras denominadas em reais foram a mercado. "Este não é um mercado tão líquido quanto o em dólar, mas os fundos estrangeiros de moeda local têm recebido muitos aportes e precisam direcionar esses recursos", disse Eduardo Nascimento, diretor da BB Securities em Londres. "É uma categoria que está crescendo", completou.

As medidas do governo de aumento do IOF para aplicações em títulos locais, além da maior regulação no mercado de câmbio com taxação dos derivativos também mexeu na curva de juros no exterior, que ficou mais favorável do que no mercado doméstico.

"O governo implementou o IOF e quer controlar a entrada de recursos para evitar uma maior valorização do real. Todo instrumento que pague juros no exterior acabou sendo favorecido. Há uma arbitragem positiva", explica Pedro Bianchi, diretor do Bank of America Merrill Lynch.

Mesmo com o imposto para trazer os recursos vindos de uma captação externa, está mais favorável para as companhias brasileiras emitirem no exterior, pagando taxas ao redor do custo do CDI sem prêmio, do que fazer um empréstimo em moeda local, diz Eduardo Muller Borges, diretor de "credit market" do Santander.

A referência são os papéis do governo brasileiro em reais no mercado externo, cujas taxas oscilam entre 7,4%, para vencimento em 2016, e 8,85%, no papel mais longo, de 2028.

Os bancos de investimento estão otimistas com o segundo semestre. O principal risco para as captações brasileiras no exterior é se o crescimento brasileiro, ou mesmo o chinês, apresentar um recuo. "Se o Brasil crescer entre 4% e 5%, vai precisar de financiamento externo e o mundo está liquido o suficiente", diz Bianchi.

Em setembro os investidores voltam das férias de verão no Hemisfério Norte e certamente terão que diversificar suas aplicações, para conseguir retornos nos últimos quatro meses do ano. Mas as chamadas janelas, períodos em que os investidores saem às compras, devem ser mais curtas e com uma fila maior que a usual, dada a volatilidade elevada. As operações também devem ser menores, mais próximas do patamar de US$ 500 milhões. (FT)



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