quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Câmbio flutuante amortece turbulências, diz Tombini


Valor 03/08/2011

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, vê no sistema de câmbio flutuante um amortecedor dos custos de adaptação a turbulências externas que poderão atingir o Brasil. No evento "Cenário para investimento de médio prazo no Brasil", realizado na BM&FBovespa, que marcou o pré-lançamento do novo portal do Valor, ele citou a flutuação cambial como um aliado importante no ambiente de incertezas que poderão advir do "adiamento do prazo de normalização das condições financeiras globais".

Com isso, o BC parece sinalizar que, apesar das recentes medidas tomadas para combater a especulação com o real no mercado de derivativos por capitais de curto prazo, a instituição não apostará sua reputação para sustentar uma cotação artificial da moeda. A ação do BC tentará estabelecer a difícil separação entre o que é uma tendência inexorável de valorização do real ao longo do tempo e o que é efeito de jogadas especulativas, cujos efeitos caminham na mesma direção da apreciação do real.

Tombini vê "maior dramaticidade em algumas áreas" no cenário externo, fonte de potenciais contratempos. Na zona do euro, as medidas tomadas para enfrentar a crise da dívida soberana não parecem ter sido suficientes para debelar expectativas fortemente negativas.

Nos EUA, a economia mostra uma "sistemática perda de dinamismo" ao mesmo tempo em que há o "esgotamento da margem de manobra da política fiscal" e a decorrente "perda de possibilidade de novos impulsos fiscais", como ficou demonstrado pelo impasse sobre a elevação do teto da dívida pública no Congresso americano. A consequência imediata dessas crises será "o baixo crescimento da economia global pelos próximos anos".

Para a economia brasileira, essas crises trazem desafios. Nesse cenário, segundo Tombini, o real é agora uma opção tanto para alocação de recursos como para diversificação de riscos. O Brasil se tornou "um polo de atração de capitais de todos os tipos, dos investimentos de longo prazo aos especulativos de curto prazo".

A intensidade da valorização da moeda brasileira, inevitável no caso, é outro assunto, que comporta medidas da autoridade monetária. "Não sejamos ingênuos", advertiu. "Há pressões de posições alavancadas que podem colocar em risco o sistema financeiro". A aposta do mercado em uma direção é sempre uma fonte de perigos.

Tombini desenhou um quadro de instabilidade à frente para mostrar que agora, como em 2008, o câmbio pode se tornar volátil e suscetível de rápidas desvalorizações, com poder destrutivo sobre bancos, empresas e seus acionistas. "Não podemos nos descuidar. Precisamos ficar vigilantes, tomando medidas tempestivamente", disse.

Tombini também afirmou que, se houver uma deterioração no exterior, as medidas preventivas adotadas em 2008 e que já foram desativadas poderão ser rapidamente reintroduzidas.

BC vê "impacto máximo" sobre inflação no 4º tri

A queda da inflação e sua trajetória de convergência para a meta ficarão mais evidentes no último trimestre do ano, quando as medidas já tomadas pelo Banco Central terão seu "impacto máximo", previu ontem o presidente do BC, Alexandre Tombini. Em um discurso mais tranquilo em relação ao rumo da inflação do que o adotado por parte do mercado, o presidente do BC mostrou que já há sinais de que a inflação corrente, assim como as expectativas, começam a ceder, o que permitirá que o IPCA convirja para o centro da meta, de 4,5%, em 2012.

Em seu discurso, o BC reiterou, portanto, que não mudou sua estratégia e continua esperando que o recuo da inflação para o centro da meta ocorra no ano que vem. Com isso, corrigiu a interpretação feita pelo mercado, a partir da leitura da última ata do Copom, de que o novo horizonte da política monetária seria 2013. Isso porque o documento omitiu o "compromisso" do BC em fazer com que o IPCA caminhe para o alvo em 2012. Temendo um BC mais "leniente" com a inflação, a curva de juros futuros chegou a reagir - os contratos mais longos subiram, como reflexo do entendimento de que uma atitude menos rigorosa com a inflação no curto prazo poderia forçar o Copom a subir a taxa Selic mais à frente.

Ontem, Tombini ajustou essa leitura ao garantir que o BC está pronto para agir caso haja seja necessário - ou seja, se houver riscos de o IPCA em 2012 "escapar" dos 4,5% perseguidos. Porém, o cenário apresentado por ele é muito mais tranquilo em relação ao comportamento dos preços do que parte do mercado está enxergando. "A inflação já está em trajetória declinante. Mas o BC continua vigilante e não hesitará em adotar medidas, se necessário, para garantir a convergência da inflação ao centro da meta em 2012."

Tombini enfatizou, entretanto, que há sinais de que tanto a inflação corrente quando as expectativas de inflação começam a ceder, como consequência das ações de ajuste monetário adotadas ao longo dos últimos sete meses, período em que o BC teve de agir para combater pesadas pressões de inflação. "Esse processo (as medidas de aperto monetário) já vem assentando as bases para que a inflação convirja para o centro da meta em 2012", afirmou.

"A inflação acumulada nos últimos três meses de 2011 será significativamente menor do que em igual período de 2010. E o mesmo ocorrerá no primeiro trimestre de 2012 em relação a igual período de 2011, também caracterizado por uma inflação mensal bastante dramática", previu.

Além disso, disse, a média mensal da inflação projetada pelo mercado para o segundo semestre de 2011 "é compatível com o centro da meta de inflação". E, segundo ele, essa trajetória ficará mais evidente no quarto trimestre de 2011. É nesse período em que o ajuste das condições monetárias adotadas terão impacto máximo sobre a economia brasileira", afirmou.

Os riscos apontados por Tombini estão concentrados no cenário internacional. "Desde o início do ano, o BC tem lidado com a complexidade do cenário econômico internacional. No entanto, os acontecimentos observados nas últimas semanas se mostraram ainda mais complexos", afirmou, citando a crise da dívida na zona do euro, cujo processo de acomodação será "longo e sujeito a contratempos", e a economia americana, que vive processo sistemático de perda de dinamismo e redução da expectativa de crescimento, além de um nítido esgotamento do grau de manobra da política fiscal.

"Tudo indica que, qualquer que seja a solução do impasse, e assim se encaminha para que haja uma solução, a economia americana não só perderá a possibilidade de novos impulsos fiscais como terá que viver com o fim dos hoje existentes. Isso deve afetar a expectativa de crescimento da maior economia do mundo nos próximos anos".

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