quarta-feira, 10 de agosto de 2011
BOLHA IMOBILIARIA
Diretor do BC refuta existência de bolha no setor imobiliário
Estado de São Paulo - 9/8/2011
Luiz Awazu Pereira afirmou que mesmo que não exista preocupação de uma eventual bolha, o BC segue atento para assegurar a solidez no desenvolvimento desse mercado
Fabio Graner e Fernando Nakagawa, da Agência Estado
BRASÍLIA - O diretor de assuntos internacionais e de regulação do sistema financeiro, Luiz Awazu Pereira, destacou nesta segunda-feira, 8, em seminário sobre crédito imobiliário promovido pela Cetip que é preciso desenvolver fontes alternativas à caderneta de poupança para viabilizar o crescimento da oferta de financiamento de imóveis. "Nosso objetivo é o crescimento do crédito imobiliário com segurança", disse, destacando a importância de buscar reduzir o déficit habitacional do País.
Segundo ele, o Banco Central tem buscado contribuir com esse processo por meio de uma regulação que estimule a securitização de recebíveis, mas com segurança, para evitar situações como a dos Estados Unidos, onde o processo de securitização sem controles levou à crise de 2008.
O diretor também disse que o BC apoia a criação de índices de preços de imóveis, que permitam um melhor acompanhamento do setor e melhor alocação de recursos pelo setor privado.
Bolha
Awazu rechaçou a hipótese de que o recente crescimento do mercado imobiliário brasileiro possa gerar uma situação de bolha e consequente crise, exatamente como nos países desenvolvidos nos últimos anos. "Temos peculiaridades em relação a essas economias", disse.
Para o diretor, três motivos explicam a diferença de perspectiva para o mercado brasileiro em relação a outros países. A primeira diferença está na pequena base de comparação do mercado nacional. Como o setor sempre foi pequeno no Brasil, mesmo com a expressiva expansão dos últimos anos o financiamento imobiliário ainda representa fatia pequena na comparação com o PIB quando comparado a outros países.
O segundo fator está no arcabouço do setor no Brasil, que, para o diretor do BC, é "forte" e apresenta "robusta" fiscalização. Esse padrão, segundo ele, não é necessariamente visto em todos os mercados.
O terceiro aspecto está no mercado de derivativos, segmento que alavancou o desenvolvimento do mercado imobiliário nas economias maduras do Hemisfério Norte. No Brasil, lembrou Awazu, esse mercado, em especial nas operações ligadas ao setor imobiliário, é menos desenvolvido quando comparado a outros mercados.
O diretor afirmou ainda que não exista a preocupação de uma eventual bolha, o BC segue atento para assegurar a solidez no desenvolvimento desse mercado.
"O Banco Central mantém o crédito imobiliário em constante monitoramento, assim como nos demais setores. Para que essa retomada seja em bases sustentáveis", afirmou no "Seminário de Crédito Imobiliário e Securitização", organizado pela Cetip na capital federal.
Segundo Awazu, uma das preocupações é que a velocidade de desenvolvimento desse mercado não resulte em uma desequilíbrio entre a oferta e a demanda no mercado. "E também para que a concessão de crédito tenha padrões sólidos, especialmente entre o valor de financiamento e o valor do bem financiado, que é a chamada cota de financiamento", disse.
Outra iniciativa lembrada pelo diretor do BC é o apoio da autoridade monetária às iniciativas de melhor acompanhamento dos preços do mercado imobiliário. "Isso traz melhorias para todos os agentes do mercado, como a melhor alocação de recursos." O diretor do BC não quis fazer comentários sobre a crise internacional.
Inflação
O diretor disse também que o Brasil tem conseguido manter a inflação na meta mesmo diante de choques importantes, como de commodities, e diante do movimento de ascensão em massa de pessoas à classe média, que pressiona os preços de serviços. Segundo ele, esse desempenho não ocorre em todos os países com regime de metas de inflação.
Awazu afirmou ainda, sem detalhar, que o governo tem que responder com "políticas adequadas" aos desafios colocados pelo surgimento da nova classe média.
Mercado externo
Awazu afirmou que o Brasil não é excessivamente dependente da conjuntura internacional, por conta de seu mercado interno. Segundo ele, o País tem condição de enfrentar eventos negativos do exterior sem perder a sustentabilidade de seu modelo de desenvolvimento.
Mas Awazu também salientou que é preciso dar sustentabilidade a médio e longo prazos para o processo de crescimento da classe média brasileira. Ele mencionou, por exemplo, que é preciso cuidar do processo de crescimento intenso das importações, que, se perdurar, pode ter impacto na viabilidade da situação externa brasileira.
O diretor também pontuou a importância de suavizar os movimentos de aumento do poder de consumo, além da necessidade de se rever e estimular os padrões de poupança - desenvolver produtos financeiros mais condizentes com a poupança de longo prazo - e de aumentar a oferta para atender às novas pressões de demanda.
Awazu também comentou sobre a necessidade de se cuidar para que não haja excesso de endividamento, para que as famílias tomem crédito em níveis compatíveis com sua renda. E defendeu a necessidade de se incentivar a educação e a melhoria da infraestrutura.
O diretor disse ainda que o governo está muito atento e o País bastante preparado para enfrentar a situação de crise internacional. "Estamos 200% atentos aos desenvolvimentos que estão em curso", disse Pereira, em entrevista ao deixar seminário sobre a nova classe média, promovido pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República. "O Brasil está extremamente bem preparado, mais preparado que em 2008", acrescentou o diretor. Ele mencionou que o BC já estava monitorando a situação internacional há algum tempo e já vinha alertando para os riscos da conjuntura externa.
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