sexta-feira, 12 de agosto de 2011
Cresce entre economistas temor de recessão nos EUA
Phil Izzo e Ben Casselman The Wall Street Journal
12/08/2011
O risco de os EUA voltarem à recessão cresceu bastante devido ao golpe duplo da desaceleração no crescimento e das oscilações vertiginosas nas bolsas mundiais, segundo economistas entrevistados pelo "Wall Street Journal" na última semana.
Os 46 economistas que participaram da pesquisa - nem todos respondem a todas as perguntas - calculam uma chance de 13% de que os Estados Unidos já tenham entrado numa nova recessão, enquanto as chances de seguir por esse caminho ano que vem estão em 29% - ante 17% apenas um mês atrás.
O retorno à recessão não é uma certeza. A bolsa subiu ontem, em parte por causa de indícios tranquilizadores de que o mercado de trabalho dos EUA ainda não descarrilou de vez. Os pedidos iniciais de seguro desemprego caíram semana passada para 395.000, deixando o total abaixo do piso de 400.000 pedidos, que geralmente indica que a economia está criando mais empregos do que perdendo. Os temores de uma crise de dívida soberana na Europa também diminuíram ligeiramente.
Mas o cenário mais amplo é o de uma economia em que o crescimento desacelerou tanto que não precisa muito para empurrá-la para uma contração total. Uma recessão - segundo a Comissão de Definição do Ciclo Empresarial do Birô Nacional de Pesquisas Econômicas (NBER, na sigla em inglês), o grupo sem fins lucrativos considerado o juiz oficial das recessões - "é um declínio significativo na atividade econômica disseminado na economia e que dura mais que alguns meses". A comissão estuda o PIB, os dados do emprego e a renda para determinar quando as recessões começam e terminam.
O problema é que a comissão geralmente só declara o início da recessão bem depois de ela ter começado. O início oficial da última, em 2007, por exemplo, só foi anunciado em dezembro de 2008.
Para alguns economistas, a diferença entre uma recessão e o crescimento extremamente lento registrado até agora no ano é praticamente insignificante. "Provavelmente estamos discutindo apenas palavras a esta altura; a volta à recessão já está acontecendo", disse Paul Ballew, economista-chefe do Nationwide.
As revisões do PIB divulgadas no fim do mês passado mostram que a recuperação tem sido lenta, com crescimento no primeiro semestre menor que 1% a um índice anualizado e dessazonalizado. O segundo trimestre teve expansão de apenas 1,3% e, depois da divulgação ontem de um déficit comercial maior que o de junho, os economistas do Goldman Sachs sugeriram que o crescimento pode ser revisado ainda mais, para cerca de 0,9%. O crescimento mais lento do primeiro semestre levou os economistas entrevistados pelo WSJ a diminuir suas previsões para o restante do ano, bem como para o próximo. Eles calculam agora crescimento de apenas 1,6% para 2011 e meros 2,5% para 2012.
"A economia já foi atingida por uma série de choques este ano, então acho que só precisa mais um choque modesto para empurrá-la de volta à recessão", disse a economista Michelle Meyer, do Bank of America.
Ela citou a turbulência na Europa como o choque mais provável por trás disso, com boas chances de contaminar os EUA. Outra possibilidade é a volatilidade recente em Wall Street.
"Com certeza, isso aumenta o risco de uma volta à recessão", disse Steve Blitz, economista sênior da ITG Investment Research, em Nova York. "É difícil que não contribua para isso." Grandes quedas nas bolsas, disse Blitz, podem levar as pessoas a diminuir o consumo, o que pode prejudicar ainda mais uma economia já enfraquecida. O efeito pode ser especialmente visível no consumo dos americanos ricos, que têm mais aplicações na bolsa - e cujos gastos até agora eram uma das poucas fontes de otimismo.
Alguns analistas estão mais otimistas. Maury Harris, economista-chefe do UBS para os EUA, afirmou que vê um risco relativamente pequeno de uma volta à recessão. Ela disse que muitos economistas estão concentrados demais na falta de opções do governo e ignoram os sinais de que a economia já está melhorando por conta própria. A cotação do petróleo está em queda, o que pode permitir às pessoas gastar menos no posto de gasolina e mais em outras coisas. Enquanto isso, os bancos estão aumentando a concessão de crédito tanto para pessoas físicas quanto para empresas.
Mas a pesquisa mostra como um elemento crucial da economia - o mercado de trabalho - continua sob forte pressão. Os economistas preveem que o desemprego ainda será de 9% no fim do ano, ante os atuais 9,1%. Eles calculam que a economia vai criar em média apenas 145.000 empregos por mês nos próximos 12 meses, praticamente suficiente para absorver o crescimento populacional, mas pouco para os 13,9 milhões que continuam procurando emprego no país.
Outros fatores estão prejudicando a economia americana, como notou o Federal Reserve, o banco central do país, na previsão sombria divulgada em seu comunicado desta semana. O Fed apontou para o fraco consumo das famílias, a deterioração do mercado de trabalho e a desvalorização do mercado imobiliário.
De fato, os economistas continuam prevendo que a construção civil continuará num nível moribundo até 2012. Eles acham que o preço dos imóveis vai cair 3% este ano e subir apenas 1,5% ano que vem. O Fed também expressou temores de que fatores temporários como a alta no preço do petróleo no início do ano e os problemas de cadeia de suprimento causados pelo terremoto no Japão são apenas parte do que está enfraquecendo a economia.
Déficit comercial americano tem alta inesperada
As empresas americanas venderam menos motores industriais, geradores elétricos e produtos agrícolas ao resto do mundo em junho, levando o déficit na balança comercial para o mais alto nível desde outubro de 2008.
O déficit teve um aumento de 4,4% em junho, atingindo US$ 53,1 bilhões, de acordo com relatório divulgado ontem pelo Departamento do Comércio dos EUA. As importações caíram 0,8% (US$ 223,9 bilhões), em grande parte devido à primeira queda do petróleo em nove meses. As exportações recuaram 2,3% (US$ 170,9 bilhões), o maior declínio em mais de dois anos.
A queda nas exportações pelo segundo mês consecutivo alimenta os temores de que uma desaceleração global comprometa a economia americana, que corre o perigo de estagnar.
O déficit anual até junho já está em US$ 576,6 bilhões, 15,3% a mais do que o de 2010. A alta no déficit surpreendeu analistas, que esperavam um resultado melhor em função da queda do petróleo. Um déficit maior na balança é prejudicial para o crescimento da economia dos EUA porque significa que os consumidores estão comprando mais produtos estrangeiros e menos produtos fabricados por trabalhadores americanos.
"A verdadeira deficiência está nas exportações e é consistente com o menor crescimento no resto do mundo", disse Jay Bryson, economista do Wells Fargo. Segundo ele, "a contribuição das exportações [ao crescimento] vai ser um pouco mais instável".
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