EDITORIAl valor 19/08
Alguns indicadores do nível de atividades da economia brasileira divulgados nesta semana vão certamente influenciar as expectativas para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) no fim do mês. Se o cenário internacional já sugeria cautela, o doméstico reforça essa posição e certamente vai pesar no futuro da taxa básica de juros (Selic), que está em 12,50% ao ano.
A informação mais significativa foi o recuo de 0,26% do IBC-BR de junho em relação a maio - a primeira queda desde dezembro de 2008, quando a crise internacional já atingia o Brasil com intensidade, exigindo medidas anticíclicas para tentar reativar a economia. Com o recuo de junho, o índice do segundo trimestre fechou com alta de apenas 0,69% em comparação com o trimestre anterior.
Calculado pelo Banco Central (BC) como indicador que busca antecipar o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB), o IBC-BR tem desempenhado bem esse papel. Por isso, o IBC-BR que acaba de ser divulgado sinaliza importante desaceleração da economia e que as medidas tomadas pelo governo para esfriar o nível de atividades começam a fazer efeito. A estimativa do PIB para o segundo trimestre, com base no IBC-BR, é de 0,7% de crescimento, abaixo do 1,3% de variação do primeiro trimestre. O desempenho do IBC-BR no segundo trimestre, em termos anualizados, é inferior a 3%, bem abaixo das taxas de 4,5% a 5,5% dos trimestres anteriores.
O resultado do IBC-BR levou várias instituições financeiras a revisarem as estimativas para o PIB do ano, mais para perto de 3% do que dos 4% anteriormente esperados. É um número bem inferior aos 7,5% exuberantes de 2010 e ao que outros emergentes prometem para este ano - a China deve crescer 9,5% -, mas obviamente muito melhor do que parece reservado para as economias avançadas.
Por outro lado, crescer menos tira pressão da inflação e, portanto, dos juros. Fontes do Banco Central vazaram para a imprensa a avaliação de que o resultado do IBC-BR reforça a convicção do Copom de que a inflação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) convergirá para o centro da meta (4,5%) já em 2012.
Analistas já esperavam o recuo do nível de atividades em função do comportamento da indústria e do varejo nos últimos meses. Depois de ter crescido 1,1% em maio, a produção industrial encolheu 1,6% em junho. A retração indústria de transformação influenciou o resultado do setor, apesar da estabilidade na construção. Até regiões tradicionais como São Paulo foram atingidas. No semestre, a expansão foi de 1,7%. O Valor apurou que o segundo semestre com estoques elevados nas revendas de automóveis e distribuição de aço, o que indica compras menores junto à industria. No varejo as vendas perderam o ímpeto e, depois do aumento de 0,7% em maio, cresceram apenas 0,2% em junho.
Sugerem igualmente uma desaceleração os dados da geração de emprego formal, calculada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram criados 140.563 postos de trabalho em julho, quase 40% a menos do que em junho, quando 234 mil novas vagas foram criadas. Em comparação com igual mês de 2010, a queda foi de 22,5%.
Foi o terceiro mês consecutivo de redução no número de vagas criadas, encolhimento que atingiu inclusive o setor de serviços, que vinha puxando o emprego no país. De janeiro a julho, surgiram 1,59 milhão de novos postos de trabalho, 14,1% a menos do que o 1,85 milhão de vagas criadas em igual período de 2010.
Mas, prever o futuro nunca é tão fácil. Na contramão desses indicadores, a receita de impostos continua explodindo, sugerindo uma economia em expansão. A Receita Federal acaba de divulgar que arrecadou, em julho, R$ 90,247 bilhões em impostos, contribuições federais e previdenciárias, segundo maior valor do ano. O crescimento real sobre o mês anterior foi de 8,92% e sobre o mesmo mês de 2010 foi de 21,31%. No acumulado do ano, a arrecadação é também recorde e soma R$ 555,857 bilhões, com aumento real de 13,98%. Apenas a receita de impostos cresceu 14,40% reais no ano.
Contribuiram para o recorde receitas extraordinárias com o pagamento de R$ 5,8 bilhões em CSLL devido por uma das maiores empresas do país em razão de encerramento de uma disputa judicial, e de R$ 2,264 bilhão referentes ao Refis da crise. Mesmo sem isso a arrecadação continua expressiva.
O mais perigoso nesse momento é que informações contraditórias podem conduzir a avaliações erradas da conjuntura.
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sexta-feira, 19 de agosto de 2011
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