quarta-feira, 31 de agosto de 2011
TV ON LINE
30/08/2011 - 22:32:00
NÃO HÁ ESPAÇO PARA REDUÇÃO NA TAXA DE JUROS, AFIRMA SARDENBERG TEMPO: 00:05:46
Em comentário ao Jornal das Dez, o jornalista Carlos Alberto Sardenberg falou sobre a reunião do COPOM, que está deixando a expectativa de que o Banco Central reduza ou não a taxa de juros. De acordo com o jornalista, há uma pressão muito grande, inclusive do próprio Governo, através da presidente e do ministro da Fazenda para a redução dos juros. Segundo Sardenberg, olhando técnicamente como um Banco Central deve agir em regime de metas de inflação, tudo indica que não há espaço para reduzir a taxa de juros, pelo menos não agora.
*CARLOS ALBERTO SARDENBERG, jornalista
TV: GLOBO NEWS PROGRAMA: JORNAL DAS DEZ APRESENTADOR: ANDRÉ TRIGUEIRO
ESTUDANTES VÃO AO BANCO CENTRAL PEDIR MAIS INVESTIMENTOS NA EDUCAÇÃO TEMPO: 00:04:53
Nesta quarta-feira (31), duas marchas prometem agitar a Esplanada dos Ministérios. Uma será realizada por Estudantes que lutam por mais verbas na educação. Já a outra, é pela defesa da vida.
Em entrevista ao programa Repórter Brasil, da TV Brasil, o presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Daniel Iliescu, deu mais detalhes sobre o protesto educacional. Segundo ele, a manifestação vai se concentrar, principalmente, em frente ao prédio do Banco Central. Os estudantes reivindicam a redução das taxas de juros, o investimento de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) na educação, além de melhorias nas escolas em todos os níveis de ensino.
SONORA:
*DANIEL ILLIESCU, presidente da UNE;
*Dra. MARLI LINS E NÓBREGA, coordenadora do Movimento Nacional da Cidadania pela Vida;
TV: TV BRASIL | PROGRAMA: REPÓRTER BRASIL MANHÃ | APRESENTADOR: KATIUSCIA NERI
31/08/2011 - 14:33:00
TAXA SELIC DEVE SER MANTIDA EM 12,5%, DIZ ECONOMISTA TEMPO: 00:02:35
O Conselho de Política Monetária do Banco Central (Copom) encerra hoje a reunião que definirá a taxa básica de juros para as próximas seis semanas. Segundo o economista Roberto Luis Troster, a taxa deve se manter em 12,5%. De acordo com ele, o cenário externo recomenda uma redução da taxa brasileira, pois a incerteza nos Estados Unidos, na Europa e na China colocam em cheque o ritmo de crescimento da economia global.
*ROBERTO LUIZ TROSTER, economista
TV: BAND NEWS | PROGRAMA: A NOTÍCIA | APRESENTADOR: CAROLINA THOMEU
Às voltas com uma grande contração
Por Martin Wolf - Valor 31/08
O que a desordem dos mercados em agosto nos mostrou? A resposta consiste em três grandes pontos: primeiro, as economias dos países de alta renda, sobrecarregadas de dívidas, continuam extremamente frágeis; segundo, os investidores praticamente não confiam mais na capacidade das autoridades monetárias e políticas para resolver as dificuldades; e, terceiro, em tempos de alta ansiedade, os investidores preferem os ativos considerados como de menor risco, a saber, bônus de governos com melhores classificações de risco, independente de seus defeitos, e ouro. Os que temem deflação, compram bônus; os que temem inflação, compram ouro; os que não conseguem se decidir, compram ambos. Poucos investidores estão dispostos a assumir qualquer risco em investimentos de longo prazo.
Bem-vindos, então, ao que Carmen Reinhart, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, em Washington, e Kenneth Rogoff, de Harvard, chamam de "a segunda grande contração" (a Grande Depressão, dos anos 30, seria a primeira). Os menos apocalípticos poderiam chamá-la de a "doença japonesa".
Muitos perguntam se os países de alta renda correm risco de uma recaída recessiva, o chamado "duplo mergulho". Minha resposta é: não, porque a primeira recessão não acabou. A questão é outra, é saber quão mais profunda e longa esta recessão ou "contração" pode ser. O ponto central é que, até o segundo trimestre de 2011, nenhuma das seis maiores economias de alta renda havia superado os patamares de produção verificados antes da crise em 2008. Os Estados Unidos e Alemanha estão próximos dos pontos de partida, enquanto a França vem um pouco atrás. Reino Unido, Itália e Japão arrastam-se muito mais atrás.
O confiável Gabinete Nacional de Análises Econômicas dos EUA define recessão como "um declínio significativo na atividade econômica disseminado por toda a economia, que dure mais do que alguns meses". Define assim para concentrar-se mais nas variações da produção, do que em seu patamar. Normalmente isso faz sentido. Esta recessão, entretanto, não é normal. Quando as economias sofrem colapsos tão acentuados, como durante a pior fase da crise (os declínios nos Produtos Internos Brutos, entre o pico e o ponto mais baixo, variaram entre 3,9% na França e 9,9% no Japão), uma expansão que não leve a produção de volta ao patamar do ponto de partida não traz a sensação de recuperação. Isso é especialmente verdadeiro se o desemprego continua elevado, o emprego, baixo e a capacidade ociosa, alta. Nos EUA, o desemprego ainda é o dobro do registrado antes da crise.
A profundidade da contração e a debilidade da recuperação são, ambas, resultado e causa da atual fragilidade econômica. São resultado porque o endividamento excessivo do setor privado interage com os baixos preços dos ativos, particularmente do setor residencial, para deprimir a demanda. São causa porque quanto mais baixas as projeções de aumento na demanda, menor é o desejo das empresas de investir e mais sóbrios são os impulsos de conceder empréstimos. É uma economia, então, que não consegue atingir a "velocidade de fuga" e, portanto, corre o risco de não sair da atmosfera e cair de volta ao solo.
Vejamos agora, em meio a esse pano de fundo de continuidade da fragilidade, como as pessoas avaliam a cena política. Nem nos EUA nem na região do euro os políticos supostamente no comando - o presidente dos EUA, Barack Obama, e a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel - parecem ser algo mais do que espectadores do desenrolar dos eventos, como recentemente destacou meu colega Philip Stephens. Ambos estão excluídos da situação. Obama quer ser presidente de um país que não existe. Em seus Estados Unidos de fantasia, os políticos esquecem suas diferenças em nome da harmonia bipartidária. Na realidade, ele enfrenta uma oposição que preferiria a quebra do país a ver o presidente se sair bem-sucedido. Merkel busca uma solução inexistente, intermediária entre o desejo alemão de que seus parceiros adotem a mesma disciplina do país, e a incapacidade deles em conseguir adotá-la. A tomada de consciência de que nem os EUA nem a região do euro podem criar condições para uma rápida recuperação do crescimento - ou pior, da paralisante divergência sobre quais seriam essas condições - é assustadora.
Isso nos leva ao terceiro grande ponto: as consequências terríveis do aumento na aversão ao risco nesse contexto de tanta fragilidade econômica. Na longa jornada para ficarem cada vez mais parecidos com os juros no Japão, os rendimentos dos bônus governamentais de dez anos dos EUA e Alemanha caíram agora para o nível em que estavam os japoneses em outubro de 1997, próximos a 2%. Será que uma deflação aguarda esses países? Certamente, uma grande recessão poderia resultar exatamente nisso. Parece, para mim, um perigo mais plausível do que a hiperinflação que as pessoas preocupadas com déficits fiscais e balanços de bancos centrais acham tão aterradora.
O choque causado pela gigantesca batalha sobre a política fiscal - o debate sobre os termos para elevação do teto da dívida - provocou uma corrida em busca, e não para fugir, dos bônus do governo dos EUA. Isso não foi surpreendente por dois motivos: primeiro, esses papéis sempre são o primeiro porto a buscar-se em caso de tempestades; segundo, o resultado será uma forte aperto da política fiscal. Os investidores acham que o resultado será uma economia ainda mais fraca, tendo em vista a situação debilitada do setor privado. Da mesma forma, em uma região do euro ainda mais frágil, os investidores correram para a segurança dos bônus governamentais alemães.
Nesse meio tempo, os mercados acionários foram espancados. Ainda assim, seria complicado argumentar que chegaram ao ponto de capitulação. De acordo com Robert Shiller, de Yale, a razão (com base no índice Standard & Poor's 500) entre cotação e lucro das empresas nos EUA, ajustada ciclicamente, está quase 25% acima de sua média de longo prazo. Em 1982, o quociente do preço sobre lucro estava em cerca de 30% do que se vê hoje. Será que os mercados conseguirão evitar esse desmoronamento? Isso vai depender de quando e como a contração vai acabar.
Nouriel Roubini, também conhecido como "doutor Catástrofe", prevê retração. "Um relógio parado", murmurariam alguns. Ele está certo, no entanto, de que as ferramentas de proteção se esgotaram: as taxas de juros estão baixas, os déficits fiscais, imensos e a região do euro, pressionada. Os riscos de um círculo vicioso, saindo dos fundamentos econômicos ruins aos erros de política, passando pelo pânico e depois voltando aos maus fundamentos, são grandes, no caso de mais retração econômica no futuro.
Nem tudo está perdido, no entanto. Os governos dos EUA e Alemanha, em particular, mantêm espaço de manobra fiscal substancial - e deveriam usá-lo. Infelizmente, contudo, os governos que podem gastar mais não o farão; e os que querem gastar mais não podem fazê-lo. Da mesma forma, os bancos centrais não usaram toda sua munição. Também deveriam ousar usá-la. Muito mais também poderia ser feito para acelerar a desalavancagem do setor financeiro e o fortalecimento do sistema financeiro. Outra reversão da economia agora certamente seria um desastre. A chave, certamente, é não lidar com uma situação tão perigosa como esta dentro dos limites do pensamento convencional. O que significa ser mais ousado e o que deveria ser feito serão temas da coluna da próxima semana.
Martin Wolf é editorialista e principal comentarista econômico do FT
Por que taxa de juros tão alta e um crescimento tão baixo?
Por Vladimir K. Teles - Valor 31/08
Em comparação com os países emergentes o Brasil apresentou avanços significativos nos fundamentos econômicos e institucionais ao longo dos últimos anos. A razão dívida/PIB mantêm-se em um patamar equilibrado, a política monetária é austera, Banco Central (BC) independente, risco país baixo, e instituições políticas estáveis. Entretanto, o Brasil teve uma taxa de crescimento econômico abaixo da média dos países emergentes ao longo da última década, e tem uma taxa de juros reais persistentemente das mais altas neste grupo. A pergunta que surge naturalmente é: como um país com fundamentos melhores que os demais do mesmo patamar de desenvolvimento mantem uma taxa de juros tão alta e um crescimento tão baixo? O que pode explicar essa aparente contradição?
Não faltam ideias e teorias que surgem quase que semanalmente para explicar os juros altos e o baixo crescimento do Brasil. A maioria não é convincente uma vez que se baseia em fatores que afetam a transição da economia apenas no curto prazo, como elevada reação do BC à inflação, ou elevada persistência dos juros. Dado que esse fenômeno é verificado na economia brasileira há muitos anos, a resposta deve estar em aspectos que determinam a taxa de juros e o crescimento de equilíbrio de longo prazo.
No equilíbrio de longo prazo a taxa de juros, a poupança, e o crescimento são determinados por uma relação simples entre o retorno do investimento e a impaciência dos agentes. Para estarem dispostos a abrirem mão de consumir hoje para poupar, os agentes econômicos devem ser remunerados a uma taxa de juros suficientemente grande para compensar a sua impaciência para consumir. Assim, quanto maior o retorno marginal do capital, que se reflete na taxa de juros, ou menor a impaciência dos agentes, maior será a poupança e o crescimento.
No Brasil, pelo menos dois fatores distorcem essa relação. O primeiro, e principal, é a carga tributária. A carga tributária brasileira assume valores maiores que 30% do Produto Interno Bruto (PIB) há mais de dez anos, hoje é de cerca de 38%. Na Argentina é cerca de 22%; na África do Sul, 26%; na Colômbia 23%; Chile, 17%; Peru, 15%; e México, 10%. Se existe algo em que a macroeconomia brasileira se distingue das demais economias emergentes é no tamanho da sua carga tributária.
Com uma elevada carga tributária, o retorno líquido do investimento é muito pequeno mesmo quando a economia é muito produtiva. Isso significa que o retorno marginal do capital tem de compensar não apenas a impaciência dos agentes, mas também a perda de adequação do investimento decorrente da elevada carga tributária. A taxa de juros alta reflete assim uma situação onde o retorno marginal do capital permanece alto o bastante para compensar a tributação.
Essa relação também nos ajuda a explicar a baixa poupança e o baixo crescimento econômico. Uma tributação que distorce implica em dois efeitos perversos sobre a economia no longo prazo. O primeiro e mais simples é de diminuir o nível de produto de equilíbrio, pois um nível maior de tributação implica em um nível menor de poupança e de estoque de capital de equilíbrio. Diversos estudos demonstram que uma parcela significativa da diferença de renda per capita entre países no mundo pode ser explicada por distorções na tributação. Assim, uma diminuição da carga tributária implicaria em um aumento do produto, levando a economia a um novo nível de equilíbrio de longo prazo.
O segundo efeito seria de diminuir o impacto de choques no produto marginal do capital sobre a poupança e, logo, sobre o crescimento econômico. Políticas para aumentar o crescimento de longo prazo, como maiores investimentos em educação ou em infraestrutura, por exemplo, ao aumentar a produtividade da economia, implicam em aumentos no produto marginal do capital e, logo, na poupança, e no crescimento. Porém, no caso brasileiro, a alta tributação diminui o impacto sobre a poupança, uma vez que o seu retorno é apropriado apenas em parte. Isso significa que nenhuma política que vise aumentar o crescimento terá sucesso enquanto tivermos uma carga tributária tão alta.
Há algumas economias, como países escandinavos, com carga tributária elevada, mas com juros mais baixos e crescimento sustentável. Porém, nunca é demais lembrar que no Brasil a tributação elevada não se traduz em gastos públicos que aumentam suficientemente a produtividade da economia, e, por consequência, o produto marginal do capital, de forma que o impacto final sobre o crescimento é negativo. Assim, além de diminuir a tributação, seria necessário tornar os gastos públicos mais produtivos, tanto na sua alocação quanto na eficiência.
O segundo fator que distorce a relação que determina a taxa de juros de equilíbrio de longo prazo é a baixa competição no mercado de crédito. Recentemente uma tese de doutorado na Escola de Economia de São Paulo da FGV defendida por Marcelo Ranieri, orientado pelos professores Paulo Furquim e Klênio Barbosa, estima que a competição no mercado de crédito bancário brasileiro é baixa e está diminuindo. Esse estudo demonstra que, quando se calcula a competição a partir de conglomerados financeiros ao invés de unidades bancárias, como é feito usualmente, é demonstrada a baixa competição e alta concentração, ao contrário do que se alcançava em estudos anteriores.
A existência de uma baixa competição permite o exercício de poder de monopólio, o que leva a uma diminuição da oferta de crédito e a um aumento dos juros. Os agentes econômicos passam a se comportar como se fossem mais "impacientes" ao admitir tomar crédito a juros mais altos diante da restrição que se lhes apresenta. Naturalmente os efeitos perversos dessa restrição de crédito atingem a poupança e, logo, o crescimento.
O Brasil, enquanto for um dos países emergentes com maior carga tributária, será também marcado por ser um país de juros elevados, baixa poupança e baixo crescimento. A carga tributária é a arqui-inimiga da economia brasileira. A baixa competição no mercado de crédito exacerba esta condição.
Vladimir K. Teles é professor de Economia da EESP/FGV
O problema "Wall Street" do Brasil
MARK WEISBROT FSP 31/08
Tirando os interesses do setor financeiro, não há razões para sacrificar crescimento para reduzir a inflação
A economia brasileira está crescendo mais devagar, mas o governo está reduzindo seus gastos para aumentar seu superavit primário, algo que pode desacelerar a economia ainda mais.
A produção industrial caiu 1,6% em junho, e a atividade econômica caiu pela primeira vez desde 2008.
Tirando os interesses do setor financeiro, não há razões para sacrificar crescimento para reduzir a inflação
A economia brasileira está crescendo mais devagar, mas o governo está reduzindo seus gastos para aumentar seu superavit primário, algo que pode desacelerar a economia ainda mais.
A produção industrial caiu 1,6% em junho, e a atividade econômica caiu pela primeira vez desde 2008.
Embora as cifras mensais sejam erráticas e não necessariamente indiquem qualquer tendência, o quadro maior provoca perguntas sobre se a política seguida pelo governo é apropriada, diante dos crescentes riscos e ventos contrários na economia global. Não me interprete mal. A política e os resultados econômicos do Brasil desde que Lula foi eleito, em 2002, têm tido uma melhora imensa em relação a FHC.
Este, que foi objeto de muito amor e afeto em Washington por ter implementado as políticas neoliberais do "Consenso de Washington", presidiu sobre um fracasso econômico. A economia cresceu meros 3,5% por pessoa durante seus oito anos. A performance de Lula foi imensamente melhor; com crescimento per capita de 23,5%, com um aumento real de 60% no salário mínimo e reduções consideráveis no desemprego e na pobreza, realmente não existe comparação. É provável que o mandato de Dilma tenha resultados ainda melhores.
Mas o Brasil tem um problema estrutural que é semelhante a um dos problemas maiores que temos nos EUA: o setor financeiro é grande demais e detém poder excessivo.
Como este setor não tem muito interesse no crescimento e desenvolvimento - é muito mais obcecado por seus próprios lucros e por minimizar a inflação -, seu controle sobre o Banco Central e a política macroeconômica impede o Brasil de realizar seu potencial.
E o potencial do país é imenso: entre 1960-1980, a economia brasileira cresceu 123% por pessoa. Se o Brasil tivesse mantido esse ritmo de crescimento, os brasileiros hoje teriam padrões de vida europeus.
A inflação está em queda no Brasil no momento - nos últimos três meses foi de 4% ao ano, contra 7% no ano passado. Tirando os interesses estreitos do setor financeiro, não existem razões para sacrificar crescimento ou emprego para reduzir a inflação. O setor financeiro é também o maior vilão por trás da sobrevalorização do real, que está prejudicando a indústria e o setor manufatureiro brasileiros. O Banco Central combate a inflação elevando o valor do real, com isso barateando as importações. Mesmo quando o governo tenta puxar o real para baixo, a nível mais competitivo, o fato de o setor financeiro negociar com vários derivativos impede de fazê-lo.
Entre os anos 2002-2011, a Argentina cresceu 90%, o Peru, 77%, e o Brasil, 43%. Não há razão pela qual o Brasil não possa ter uma das economias de mais rápido crescimento da região, ou mesmo do mundo.
Nos últimos quatro anos, o setor financeiro do Brasil cresceu cerca de 50%, três vezes mais que o setor industrial. Hoje os salários dos gerentes de alto nível estão mais altos que os dos EUA.
Isto não é apenas um enorme desperdício de recursos - é muito mais destrutivo ainda devido à influência política desse setor.
Tradução de CLARA ALLAIN
Isto não é apenas um enorme desperdício de recursos - é muito mais destrutivo ainda devido à influência política desse setor.
Tradução de CLARA ALLAIN
terça-feira, 30 de agosto de 2011
Situação fiscal do Brasil é semelhante à da Grécia, afirma ex-presidente do BC
Anne Warth e Francisco Carlos de Assis, da Agência Estado
SÃO PAULO - A situação fiscal do Brasil é hoje muito semelhante à da Grécia, avalia o ex-presidente do Banco Central (BC) e sócio da Rio Bravo Investimentos, Gustavo Franco. A diferença, segundo ele, é que, por ter a mais alta taxa básica de juros do mundo, o Brasil tem maior facilidade para rolar sua dívida que a média dos países que formam o chamado grupo dos PIIGS - Portugal, Itália, Irlanda, Espanha e Grécia. Franco se baseia em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Em 2007, a Grécia possuía um nível de dívida com vencimento de curto prazo de 13% do Produto Interno Bruto (PIB), proporção inferior aos números do Brasil, que chegavam a 17,7%. Mesmo em 2011, o Brasil ainda possui uma dívida de curto prazo equivalente a 16,9% do PIB, nível superior ao da Grécia, de 16,6%.
A maior diferença entre Brasil e Grécia, segundo o FMI, residia no déficit nominal, que em 2007 correspondia a 6,7% do PIB grego - e neste ano aumentou para 7,4%, enquanto o déficit nominal brasileiro, que era de 2,7% do PIB em 2007, caiu para 2,4% neste ano. Somados o déficit nominal e a dívida a vencer no curto prazo, que correspondem à necessidade de financiamento do setor público, em 2007 o endividamento da Grécia era de 19,7% do PIB e o do Brasil alcançava 20,4%. Em 2011, a situação se inverteu, com a dívida grega aumentando para 24% do PIB e a do Brasil caindo para 19,3%.
'Rolagem de dívida pode se tornar todo o problema'
"No decorrer do tempo, nos acostumamos a ignorar essa história da rolagem da dívida porque é algo meio automático. A gente não presta atenção, não vê que isso é um problema. Basta olhar o que a Grécia está passando nos dias de hoje para ver que, às vezes, a rolagem da dívida pode se tornar todo o problema", afirmou Franco. "A dívida é déficit acumulado. São as nossas irresponsabilidades acumuladas no passado e que não vão desaparecer."
Na avaliação de Franco, o endividamento de curto prazo é uma das explicações para que o Brasil mantenha uma taxa de juros tão elevada, bem acima da média mundial. "Os juros opressivamente altos que temos no Brasil têm a ver com esse custo de um sistema de rolagem de dívida que faz com que nós, brasileiros, carreguemos um montante de dívida do governo que não gostaríamos de carregar em condições normais", disse.
De acordo com o Franco, isso ficou claro em 2009 e 2010, quando o BC não pôde reduzir a Selic além dos 8,75% ao ano para impedir uma corrida dos recursos aplicados em títulos públicos para a caderneta de poupança e para a Bolsa de Valores. "Vimos os perigos de o dinheiro fugir para a caderneta de poupança e aí ele entraria num circuito meio viciado de crédito subsidiado e fundings regulatórios subsidiados", afirmou. "Veríamos o dinheiro saindo do financiamento dos títulos públicos e indo para a bolsa e outras aplicações. Provavelmente o Brasil não conseguiria rolar 17% do PIB todo ano se não tivesse uma taxa de juros muito alta."
Juros altos são o preço de despesas e impostos elevados
Franco explica que, para reduzir os juros, a situação fiscal do País deveria estar em condições muito melhores. "Aqui começamos a ver a importância dessa jabuticaba, os juros altos, que não entendemos bem", disse. O economista considera que os juros altos são o preço que o Brasil paga por não ter uma política de austeridade fiscal. "A dívida de hoje são os impostos de amanhã. A menos que usemos truques e bruxarias, os juros que pagamos hoje são o preço de não baixarmos os impostos e as despesas, empurrando o problema para as mãos daqueles que estão ausentes na discussão política: nossas futuras gerações", afirmou.
Segundo o ex-presidente do BC, a situação é agravada pelo fato de o Brasil não possuir, politicamente, uma maturidade para apresentar um orçamento claro e realista a respeito das receitas e despesas. "Se tivéssemos um orçamento realista, a avaliação seria feita corretamente, considerando o quanto custa ter aspirações em matéria de gastos superiores ao que a sociedade quer pagar de impostos."
Para Franco, a questão sobre o endividamento e a taxa de juros se assemelha à antiga correção monetária, que está para a inflação assim como o BNDES está para a taxa de juros. "É a falsa solução. Não resolve o problema. Na hiperinflação, a gente não podia fazer mais e melhor que a correção monetária para eliminar o problema da inflação e neutralizá-la completamente, assim como o BNDES nunca será do tamanho da economia para resolver o problema sozinho. A correção monetária, tal como o BNDES, é seletiva. E essa seletividade também tem lá seus defeitos."
Na opinião de Franco, a crise internacional, que evidencia uma exaustão fiscal em diversos países, pode contribuir para que esse debate seja feito no País. "Não se criou ainda o impulso político para arrumar as contas fiscais, movimento que deve abrir a janela para reduzir os juros", afirmou. "Talvez o próprio contexto internacional, onde a exaustão fiscal parece ser um bom título para o problema internacional, nos arraste para uma execução fiscal mais madura e organizada."
SÃO PAULO - A situação fiscal do Brasil é hoje muito semelhante à da Grécia, avalia o ex-presidente do Banco Central (BC) e sócio da Rio Bravo Investimentos, Gustavo Franco. A diferença, segundo ele, é que, por ter a mais alta taxa básica de juros do mundo, o Brasil tem maior facilidade para rolar sua dívida que a média dos países que formam o chamado grupo dos PIIGS - Portugal, Itália, Irlanda, Espanha e Grécia. Franco se baseia em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Em 2007, a Grécia possuía um nível de dívida com vencimento de curto prazo de 13% do Produto Interno Bruto (PIB), proporção inferior aos números do Brasil, que chegavam a 17,7%. Mesmo em 2011, o Brasil ainda possui uma dívida de curto prazo equivalente a 16,9% do PIB, nível superior ao da Grécia, de 16,6%.
A maior diferença entre Brasil e Grécia, segundo o FMI, residia no déficit nominal, que em 2007 correspondia a 6,7% do PIB grego - e neste ano aumentou para 7,4%, enquanto o déficit nominal brasileiro, que era de 2,7% do PIB em 2007, caiu para 2,4% neste ano. Somados o déficit nominal e a dívida a vencer no curto prazo, que correspondem à necessidade de financiamento do setor público, em 2007 o endividamento da Grécia era de 19,7% do PIB e o do Brasil alcançava 20,4%. Em 2011, a situação se inverteu, com a dívida grega aumentando para 24% do PIB e a do Brasil caindo para 19,3%.
'Rolagem de dívida pode se tornar todo o problema'
"No decorrer do tempo, nos acostumamos a ignorar essa história da rolagem da dívida porque é algo meio automático. A gente não presta atenção, não vê que isso é um problema. Basta olhar o que a Grécia está passando nos dias de hoje para ver que, às vezes, a rolagem da dívida pode se tornar todo o problema", afirmou Franco. "A dívida é déficit acumulado. São as nossas irresponsabilidades acumuladas no passado e que não vão desaparecer."
Na avaliação de Franco, o endividamento de curto prazo é uma das explicações para que o Brasil mantenha uma taxa de juros tão elevada, bem acima da média mundial. "Os juros opressivamente altos que temos no Brasil têm a ver com esse custo de um sistema de rolagem de dívida que faz com que nós, brasileiros, carreguemos um montante de dívida do governo que não gostaríamos de carregar em condições normais", disse.
De acordo com o Franco, isso ficou claro em 2009 e 2010, quando o BC não pôde reduzir a Selic além dos 8,75% ao ano para impedir uma corrida dos recursos aplicados em títulos públicos para a caderneta de poupança e para a Bolsa de Valores. "Vimos os perigos de o dinheiro fugir para a caderneta de poupança e aí ele entraria num circuito meio viciado de crédito subsidiado e fundings regulatórios subsidiados", afirmou. "Veríamos o dinheiro saindo do financiamento dos títulos públicos e indo para a bolsa e outras aplicações. Provavelmente o Brasil não conseguiria rolar 17% do PIB todo ano se não tivesse uma taxa de juros muito alta."
Juros altos são o preço de despesas e impostos elevados
Franco explica que, para reduzir os juros, a situação fiscal do País deveria estar em condições muito melhores. "Aqui começamos a ver a importância dessa jabuticaba, os juros altos, que não entendemos bem", disse. O economista considera que os juros altos são o preço que o Brasil paga por não ter uma política de austeridade fiscal. "A dívida de hoje são os impostos de amanhã. A menos que usemos truques e bruxarias, os juros que pagamos hoje são o preço de não baixarmos os impostos e as despesas, empurrando o problema para as mãos daqueles que estão ausentes na discussão política: nossas futuras gerações", afirmou.
Segundo o ex-presidente do BC, a situação é agravada pelo fato de o Brasil não possuir, politicamente, uma maturidade para apresentar um orçamento claro e realista a respeito das receitas e despesas. "Se tivéssemos um orçamento realista, a avaliação seria feita corretamente, considerando o quanto custa ter aspirações em matéria de gastos superiores ao que a sociedade quer pagar de impostos."
Para Franco, a questão sobre o endividamento e a taxa de juros se assemelha à antiga correção monetária, que está para a inflação assim como o BNDES está para a taxa de juros. "É a falsa solução. Não resolve o problema. Na hiperinflação, a gente não podia fazer mais e melhor que a correção monetária para eliminar o problema da inflação e neutralizá-la completamente, assim como o BNDES nunca será do tamanho da economia para resolver o problema sozinho. A correção monetária, tal como o BNDES, é seletiva. E essa seletividade também tem lá seus defeitos."
Na opinião de Franco, a crise internacional, que evidencia uma exaustão fiscal em diversos países, pode contribuir para que esse debate seja feito no País. "Não se criou ainda o impulso político para arrumar as contas fiscais, movimento que deve abrir a janela para reduzir os juros", afirmou. "Talvez o próprio contexto internacional, onde a exaustão fiscal parece ser um bom título para o problema internacional, nos arraste para uma execução fiscal mais madura e organizada."
TV ON LINE
30/08/2011 - 01:25:00
GOVERNO ANUNCIA MEDIDA PARA CONTER CRISE INTERNACIONAL TEMPO: 00:03:00
O Governo anunciou que pretende economizar R$ 10 bilhões para pagar os juros da divida pública. A medida tem como objetivo preparar o Brasil para crise econômica mundial, e a se apóia principalmente no aumento da arrecadação de impostos. Segundo o ministro da Fazenda Guido Mantega, essa ação vai ajudar o país a enfrentar a crise sem prejudicar o crescimento.
O comentarista de política e de economia do jornal da Globo, Heraldo Pereira analisou essa decisão do Governo.
SONORA:
*GUIDO MANTEGA, Ministro da Fazenda;
*SEN. PAULO PAIM, (PT-RS);
* SEN. JARBAS VASCONCELLOS, (PMDB-PE);
* HERALDO PEREIRA, Comentarista;
TV: TV GLOBO DF PROGRAMA: JORNAL GLOBO APRESENTADOR: HERALDO PEREIRA
PIB BRASILEIRO NÃO DEVE PASSAR DE 4%, DIZ ULISSES RUIZ DE GAMBOA TEMPO: 00:03:32
Em entrevista à GloboNews, Ulisses Ruiz de Gamboa, o economista Ulisses Ruiz de Gamboa afirma que o crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve ficar entre 3,5% e 4% em 2011. Segundo ele, o PIB irá refletir reflexos das medidas de contenção do crédito, aumento da taxa de juros e das medidas macroprudenciais.
SONORA:
*ULISSES RUIZ DE GAMBOA, economista
TV: GLOBO NEWS PROGRAMA: CONTA CORRENTE APRESENTADOR: SIDNEY REZENDE
DILMA AFIRMA QUE BRASIL NÃO IRÁ CRUZAR OS BRAÇOS DIANTE DA CRISE MUNDIAL TEMPO: 00:02:41
A presidente Dilma Rousseff disse hoje (30) que o Brasil não vai enfrentar a crise econômica de braços cruzados. As medidas tomadas vão priorizar o crescimento nacional, fazendo com que haja incentivo ao emprego e consumo.
SONORA
*DILMA ROUSSEFF, pres. da República;
TV: GLOBO NEWS | PROGRAMA: CONTA CORRENTE | APRESENTADOR: SIDNEY REZENDE
RELACIONADOS: ASSUNTOS ECONÔMICOS
GOVERNO ANUNCIA MEDIDA PARA CONTER CRISE INTERNACIONAL TEMPO: 00:03:00
O Governo anunciou que pretende economizar R$ 10 bilhões para pagar os juros da divida pública. A medida tem como objetivo preparar o Brasil para crise econômica mundial, e a se apóia principalmente no aumento da arrecadação de impostos. Segundo o ministro da Fazenda Guido Mantega, essa ação vai ajudar o país a enfrentar a crise sem prejudicar o crescimento.
O comentarista de política e de economia do jornal da Globo, Heraldo Pereira analisou essa decisão do Governo.
SONORA:
*GUIDO MANTEGA, Ministro da Fazenda;
*SEN. PAULO PAIM, (PT-RS);
* SEN. JARBAS VASCONCELLOS, (PMDB-PE);
* HERALDO PEREIRA, Comentarista;
TV: TV GLOBO DF PROGRAMA: JORNAL GLOBO APRESENTADOR: HERALDO PEREIRA
PIB BRASILEIRO NÃO DEVE PASSAR DE 4%, DIZ ULISSES RUIZ DE GAMBOA TEMPO: 00:03:32
Em entrevista à GloboNews, Ulisses Ruiz de Gamboa, o economista Ulisses Ruiz de Gamboa afirma que o crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve ficar entre 3,5% e 4% em 2011. Segundo ele, o PIB irá refletir reflexos das medidas de contenção do crédito, aumento da taxa de juros e das medidas macroprudenciais.
SONORA:
*ULISSES RUIZ DE GAMBOA, economista
TV: GLOBO NEWS PROGRAMA: CONTA CORRENTE APRESENTADOR: SIDNEY REZENDE
DILMA AFIRMA QUE BRASIL NÃO IRÁ CRUZAR OS BRAÇOS DIANTE DA CRISE MUNDIAL TEMPO: 00:02:41
A presidente Dilma Rousseff disse hoje (30) que o Brasil não vai enfrentar a crise econômica de braços cruzados. As medidas tomadas vão priorizar o crescimento nacional, fazendo com que haja incentivo ao emprego e consumo.
SONORA
*DILMA ROUSSEFF, pres. da República;
TV: GLOBO NEWS | PROGRAMA: CONTA CORRENTE | APRESENTADOR: SIDNEY REZENDE
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A economia da felicidade
Por Jeffrey D. Sachs Valor 30/08
Vivemos em tempos de altas ansiedades. Apesar de o mundo usufruir de uma riqueza total sem precedentes, também há ampla insegurança, agitação e insatisfação. Nos Estados Unidos, uma grande maioria dos americanos acredita que o país está "no caminho errado". O pessimismo está nas alturas. O mesmo vale para muitos outros lugares.
Tendo essa situação como pano de fundo, chegou a hora de reconsiderar as fontes básicas de felicidade em nossa vida econômica. A busca incansável de rendas maiores vem nos levando a uma ansiedade e iniquidade sem precedentes, em vez de nos conduzir a uma maior felicidade e satisfação na vida. O progresso econômico é importante e pode melhorar a qualidade de vida, mas só se o buscarmos junto com outras metas.
Nesse sentido, o Reino do Butão vem mostrando o caminho. Há 40 anos, o quarto rei do Butão, jovem e recém-entronado, fez uma escolha notável: o Butão deveria buscar a "Felicidade Nacional Bruta" (FNB), em vez do Produto Nacional Bruto (PNB). Desde então, o país vem experimentando uma abordagem alternativa e holística em relação ao desenvolvimento, que enfatiza não apenas o crescimento da economia, mas também a cultura, saúde mental, compaixão e comunidade.
Dezenas de especialistas reuniram-se recentemente na capital do Butão, Thimbu, para fazer um balanço sobre o desempenho do país. Fui um dos coanfitriões, com o primeiro-ministro do Butão, Jigme Thinley, um líder em desenvolvimento sustentável e grande defensor do conceito de "FNB". A reunião ocorreu na esteira da declaração de julho da assembleia geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que convocou os países a avaliar como as políticas nacionais podem promover a felicidade em suas sociedades.
Todos os que se reuniram em Thimbu concordaram sobre a importância de buscar a felicidade em vez da renda nacional. A questão que examinamos é como alcançar a felicidade em um mundo caracterizado pela rápida urbanização, meios de comunicação de massa, capitalismo global e degradação ambiental. Como nossa vida econômica pode ser reordenada para recriar um senso de comunidade, confiança e sustentabilidade ambiental?
Estas foram algumas das conclusões iniciais. Primeira, não devemos menosprezar o valor do progresso econômico. Há sofrimento quando as pessoas passam fome, quando são privadas do atendimento de necessidades básicas, como água potável, atendimento médico e educação, ou empregos dignos.
Segunda, a busca contínua do PNB, sem levar em conta outros objetivos, tampouco é caminho para a felicidade. Nos EUA, o PNB subiu acentuadamente nos últimos 40 anos, mas a felicidade, não. Em vez disso, a busca obstinada do PNB levou a grandes desigualdades de riqueza e poder - alimentadas pelo crescimento de uma grande subclasse --, aprisionou milhões de crianças na pobreza e provocou grave degradação ambiental.
Terceira, a felicidade é alcançada por meio de uma abordagem de vida equilibrada, entre indivíduos e sociedade. Como indivíduos, somos infelizes quando nos é negado o atendimento de necessidades básicas materiais, mas também somos infelizes se a busca por rendas maiores substitui nosso foco na família, amigos, comunidade, compaixão e equilíbrio interno. Como sociedade, uma coisa é organizar políticas econômicas para manter os padrões de vida em alta, mas outra bem diferente é subordinar todos os valores da sociedade à busca do lucro.
A política nos EUA, contudo, permitiu cada vez mais que os lucros empresariais dominassem todas as outras aspirações: igualdade, justiça, confiança, saúde física e mental e sustentabilidade ambiental. As contribuições de empresas a campanhas corroem cada vez mais o processo democrático, com a benção da Corte Suprema dos EUA.
Quarta, o capitalismo global apresenta muitas ameaças diretas à felicidade. Está destruindo o ambiente com as mudanças climáticas e outros tipos de poluição, enquanto um fluxo incansável de propaganda da indústria petrolífera leva muitas pessoas a desconhecer o problema. Isso enfraquece a estabilidade mental e confiança social, com a incidência de depressões clínicas aparentemente em alta. Os meios de comunicação de massa se tornaram meio de distribuição de "mensagens" empresariais em grande parte abertamente contra a ciência, enquanto os americanos sofrem de um número cada vez de vícios de consumo.
Consideremos como as lanchonetes de refeições rápidas usam óleos, gorduras, açúcares e outros ingredientes viciantes que criam uma dependência, prejudicial à saúde, em relação a alimentos que contribuem para a obesidade. Cerca de 30% dos americanos são obesos na atualidade. O resto do mundo acabará seguindo o mesmo caminho, a menos que os países restrinjam práticas empresariais perigosas, como a publicidade, voltada a crianças, de alimentos viciantes e prejudiciais à saúde.
O problema não está apenas nos alimentos, a publicidade voltada às grandes massas contribuiu para muitos outros vícios de consumo, que implicam em altos custos à saúde pública, incluindo o hábito de ver televisão em excesso, apostas, uso de drogas, fumo e alcoolismo.
Quinta, para promover a felicidade, precisamos identificar os muitos fatores além do PNB que podem melhorar ou piorar o bem-estar de uma sociedade. A maioria dos países investe para calcular o PNB, mas pouco gasta para identificar as fontes da má situação da área de saúde (como o fast-food e o tempo excessivo em frente à TV), o declínio da confiança social e a degradação ambiental. Uma vez que compreendamos esses fatores, teremos condições de agir.
A busca insana pelos lucros empresariais ameaça a todos nós. Naturalmente, devemos apoiar o desenvolvimento e crescimento econômico, mas apenas dentro de um contexto mais amplo: um contexto que promova a sustentabilidade ambiental e os valores da compaixão e honestidade, necessários para criar a confiança social. A busca da felicidade não deveria ficar confinada ao belo reino montanhoso do Butão.
Jeffrey D. Sachs é professor de Economia e diretor do Instituto Terra, da Columbia University. É também assessor especial do secretário-geral das Nações Unidas sobre as Metas de Desenvolvimento do Milênio. Copyright: Project Syndicate, 2011.
www.project-syndicate.org
É o emprego
Por Delfim Netto - Valor 30/08
O mercado promoveu um festival de grande volatilidade ("é na confusão que se ganha dinheiro!"). Criou uma enorme expectativa sobre o discurso que Ben Bernanke faria na conferência monetária anual que o Federal Reserve de Kansas City promove em Jackson Hole. Para todas as pessoas com razoável desconfiômetro, era claro que nada de muito importante poderia acontecer. Bernanke não decepcionou: apelou para o nosso velho conselheiro Acácio e mandou ver. Disse, enfaticamente, que diante da gravidade do problema, faremos o que tivermos de fazer!
Mas qual é esse problema que até agora ignorou os estímulos monetários e fiscais tomados a partir da crise de 2007/09? Depois de dois anos, e um cavalar esforço fiscal (que destroçou as finanças do país) e monetário, que salvou o sistema financeiro (cujos agentes produziram a crise e saíram alegres com gordos bônus sem serem incomodados), o problema nos EUA é dar emprego a 25 milhões de honestos trabalhadores desempregados ou fazendo "bicos". Isso se reflete na estabilidade das demandas de auxílio-desemprego, que se vê no gráfico abaixo.
No fundo, os EUA enfrentam um problema moral. O sistema financeiro deveria mesmo ser salvo, mas não, necessariamente, os acionistas e administradores. É claro que os abusos do subprime (estimulados pela miopia do próprio governo e a conivência de suas agências) deveriam ter sido corrigidos com uma política diferente da que deu todo o poder aos bancos (que foram cúmplices no processo), para executarem as hipotecas. Como esperar uma recuperação do consumo com os cidadãos ameaçados de desemprego e sendo despejados de suas casas? Como esperar a recuperação dos investimentos sem perspectiva de aumento do consumo?
Infelizmente, o presidente Obama, ao cercar-se de assessores provenientes do velho incesto entre a academia e as finanças, desperdiçou seu capital político numa troca imoral: a salvação de desonestos banqueiros pelo desemprego de 25 milhões de cidadãos que viviam honestamente do seu trabalho.
É essa imoralidade que sustenta as maluquices do Partido Republicano, que deu forças à destruição civilizatória do movimento do Tea Party e aumentou a disfuncionalidade do sistema político americano. Bernanke reconheceu isso, com outras palavras, quando disse que o maior problema dos EUA, hoje, é a falta de seriedade e clareza da política fiscal e que "o país deveria estar servido por um processo melhor de decisões na área fiscal".
Aliás John Lipsky, vice-diretor-gerente do FMI, afirmou a mesma coisa em Jackson Hole, quando sugeriu que os maiores riscos para a economia mundial eram: 1) a falta de um plano de recuperação fiscal transparente, sério e percebido como exequível; e 2) a falta de confiança na capacidade política das autoridades (americanas e europeias) de controlarem a dívida pública.
Praticamente no mesmo dia em que Bernanke falava, o Bureau of Economic Analysis (BEA) dos EUA divulgava a primeira estimativa do crescimento anual do PIB, sazonalmente ajustada e anualizada, no segundo trimestre de 2011: apenas 1%, como se vê na tabela abaixo.
Quando comparamos a taxa de crescimento no segundo trimestre com a do primeiro, verificamos que a componente do consumo privado caiu (-1,17%), a do investimento cresceu (0,31%), a das exportações líquidas cresceu (0,43%) e a do governo (consumo mais investimento) cresceu (1,05%). Basicamente, a pequena recuperação do PIB se deveu à redução da componente demanda privada.
Bernanke deixou ainda no ar uma possibilidade de que possa adotar, no futuro próximo, novos estímulos, "porque o Fed tem uma série de ferramentas que podem ser usadas para dar maior estímulos monetários". Acabou fazendo um teatro que vai dar energia à volatilidade dos mercados. Deu a entender que a próxima reunião do Federal Open Market Committee (Fomc) será de dois dias (20 e 21 de setembro), para analisar e propor novas medidas. Temos agora mais um mês para bons "rumores" e alta volatilidade.
Talvez dois fatos importantes emergirão: 1) que a disfuncionalidade do Congresso americano é um problema basicamente político (como se viu na aprovação do aumento do endividamento do Tesouro) ligado às eleições de 2012 e não será superado, a não ser depois delas; e 2) que o problema só poderá ser resolvido com um programa de aceleração do crescimento com ênfase na recuperação do emprego. Isso, seguramente, não ocorrerá com uma política fiscal tímida e mal focada. É preciso recuperar a confiança dos trabalhadores, para que aumentem seu consumo, e dos empresários, para que aumentem os seus investimentos.
Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento
O mercado promoveu um festival de grande volatilidade ("é na confusão que se ganha dinheiro!"). Criou uma enorme expectativa sobre o discurso que Ben Bernanke faria na conferência monetária anual que o Federal Reserve de Kansas City promove em Jackson Hole. Para todas as pessoas com razoável desconfiômetro, era claro que nada de muito importante poderia acontecer. Bernanke não decepcionou: apelou para o nosso velho conselheiro Acácio e mandou ver. Disse, enfaticamente, que diante da gravidade do problema, faremos o que tivermos de fazer!
Mas qual é esse problema que até agora ignorou os estímulos monetários e fiscais tomados a partir da crise de 2007/09? Depois de dois anos, e um cavalar esforço fiscal (que destroçou as finanças do país) e monetário, que salvou o sistema financeiro (cujos agentes produziram a crise e saíram alegres com gordos bônus sem serem incomodados), o problema nos EUA é dar emprego a 25 milhões de honestos trabalhadores desempregados ou fazendo "bicos". Isso se reflete na estabilidade das demandas de auxílio-desemprego, que se vê no gráfico abaixo.
No fundo, os EUA enfrentam um problema moral. O sistema financeiro deveria mesmo ser salvo, mas não, necessariamente, os acionistas e administradores. É claro que os abusos do subprime (estimulados pela miopia do próprio governo e a conivência de suas agências) deveriam ter sido corrigidos com uma política diferente da que deu todo o poder aos bancos (que foram cúmplices no processo), para executarem as hipotecas. Como esperar uma recuperação do consumo com os cidadãos ameaçados de desemprego e sendo despejados de suas casas? Como esperar a recuperação dos investimentos sem perspectiva de aumento do consumo?
Infelizmente, o presidente Obama, ao cercar-se de assessores provenientes do velho incesto entre a academia e as finanças, desperdiçou seu capital político numa troca imoral: a salvação de desonestos banqueiros pelo desemprego de 25 milhões de cidadãos que viviam honestamente do seu trabalho.
É essa imoralidade que sustenta as maluquices do Partido Republicano, que deu forças à destruição civilizatória do movimento do Tea Party e aumentou a disfuncionalidade do sistema político americano. Bernanke reconheceu isso, com outras palavras, quando disse que o maior problema dos EUA, hoje, é a falta de seriedade e clareza da política fiscal e que "o país deveria estar servido por um processo melhor de decisões na área fiscal".
Aliás John Lipsky, vice-diretor-gerente do FMI, afirmou a mesma coisa em Jackson Hole, quando sugeriu que os maiores riscos para a economia mundial eram: 1) a falta de um plano de recuperação fiscal transparente, sério e percebido como exequível; e 2) a falta de confiança na capacidade política das autoridades (americanas e europeias) de controlarem a dívida pública.
Praticamente no mesmo dia em que Bernanke falava, o Bureau of Economic Analysis (BEA) dos EUA divulgava a primeira estimativa do crescimento anual do PIB, sazonalmente ajustada e anualizada, no segundo trimestre de 2011: apenas 1%, como se vê na tabela abaixo.
Quando comparamos a taxa de crescimento no segundo trimestre com a do primeiro, verificamos que a componente do consumo privado caiu (-1,17%), a do investimento cresceu (0,31%), a das exportações líquidas cresceu (0,43%) e a do governo (consumo mais investimento) cresceu (1,05%). Basicamente, a pequena recuperação do PIB se deveu à redução da componente demanda privada.
Bernanke deixou ainda no ar uma possibilidade de que possa adotar, no futuro próximo, novos estímulos, "porque o Fed tem uma série de ferramentas que podem ser usadas para dar maior estímulos monetários". Acabou fazendo um teatro que vai dar energia à volatilidade dos mercados. Deu a entender que a próxima reunião do Federal Open Market Committee (Fomc) será de dois dias (20 e 21 de setembro), para analisar e propor novas medidas. Temos agora mais um mês para bons "rumores" e alta volatilidade.
Talvez dois fatos importantes emergirão: 1) que a disfuncionalidade do Congresso americano é um problema basicamente político (como se viu na aprovação do aumento do endividamento do Tesouro) ligado às eleições de 2012 e não será superado, a não ser depois delas; e 2) que o problema só poderá ser resolvido com um programa de aceleração do crescimento com ênfase na recuperação do emprego. Isso, seguramente, não ocorrerá com uma política fiscal tímida e mal focada. É preciso recuperar a confiança dos trabalhadores, para que aumentem seu consumo, e dos empresários, para que aumentem os seus investimentos.
Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Governo quer aproveitar crise para acelerar convergência de juros
Índices de inflação mostram tranquilidade, "exatamente na rota que prevíamos", diz Marcio Holland
Valor 29/08
Na quarta-feira, o Banco Central (BC), de acordo com o consenso de mercado, manterá inalterada a taxa Selic em 12,5% ao ano, mas o governo vem emitindo sinais nas últimas semanas de que pretende aproveitar a oportunidade criada pela segunda etapa da crise internacional, com crescimento econômico global mais baixo e menor pressão dos preços de commodities para a inflação doméstica, e fazer a convergência dos juros brasileiros para padrões internacionais.
O desejo de taxas menores é compartilhado por praticamente todos os economistas, mas poucos analistas fora do governo acreditam que seja possível trilhar esse caminho de maneira rápida, seja pela trajetória da inflação doméstica esperada para os próximos meses, seja pelas condições do país em termos fiscais, de acordo com opiniões colhidas dos participantes do 5º Congresso Internacional de Mercados Financeiros e de Capitais, organizado pela BM&FBovespa.
Para o economista-chefe do Itaú Unibanco e ex-diretor de Política Econômica do Banco Central, Ilan Goldfajn, é possível chegar à convergência em momentos de crise, como fizeram, por exemplo, Chile e México, mas demanda tempo e o lado fiscal tem que contribuir, disse ele.
O ex-presidente do BC Armínio Fraga acredita que o país ainda precisa criar as condições para ter taxas de juros mais baixas, com um governo mais eficiente, reduzindo o custo país. Mas Fraga elogiou a mudança no mix da política econômica do governo da presidente Dilma Rousseff, "com a clara opção de segurar o lado fiscal, deixando espaço para a política monetária", de forma a perseguir finalmente juros mais baixos. "Vejo com bons olhos os sinais que passa o governo da presidente Dilma. Ela deixou claro que os brasileiros optaram por governo grande e que é dever do governante fazer com que ele seja eficiente", afirmou.
Os membros da equipe econômica têm apresentado a atual consolidação fiscal, que já levou ao cumprimento de 78% da meta de superávit primário até julho, como uma ferramenta importante desse novo mix. O diretor de Assuntos Internacionais e Regulação Financeira do Banco Central, Luiz Pereira Awazu da Silva, no discurso de encerramento do evento da BM&FBovespa, voltou a ressaltar o "fortalecimento" dessa política. "A consolidação fiscal contribui para uma condução adequada da política monetária, além de permitir a redução dos custos financeiros pagos pelo governo e o alongamento dos prazos de financiamento."
O BC avalia que o cenário internacional está se desdobrando para a sua vertente mais negativa, com menor crescimento da economia mundial e riscos elevados de recessão. O Brasil está "mais preparado", disse o diretor do BC, mas ele afirmou, em dois momentos de seu discurso, que as condições de hoje da economia mundial são "extraordinárias", o que requer que seja feita uma análise "friamente e tempestivamente" de suas circunstâncias. Esse foi o último discurso oficial da autoridade monetária antes dos dois dias de reunião do Copom.
O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, não vê pressão inflacionária no Brasil e diz que os índices mostram tranquilidade, "exatamente na rota que prevíamos", afirmou. Parte da crença do alívio na inflação está centrada em uma expectativa de menor pressão nos preços das commodities. "No ano que vem, não deve haver o choque do preço do etanol e de outros produtos, como algodão e carnes, decorrentes de fatores específicos."
Em busca do Tesouro
Bernanke prolonga a agonia do mercado
Por Daniele Camba Valor 29/08
Setembro se aproxima e promete ser mais um mês de alta volatilidade e falta de tendência. O principal responsável por esse prolongamento da indefinição é o presidente do banco central americano (Federal Reserve, o Fed) e atende pelo nome de Ben Bernanke.
O mercado passou a semana passada inteira de olho no que Bernanke falaria na reunião em Jackson Hole, na sexta-feira. A grande expectativa era que fosse anunciada a terceira versão do pacote de recompra de títulos - o "Quantitative Easing 3".
Com toda sua habilidade, Bernanke não entregou nada de concreto à plateia presente na pacata cidade americana. Mas de alguma forma satisfez os investidores ou, no mínimo, não os decepcionou, o que já é alguma coisa.
Em seu discurso, o presidente do Fed não anunciou um novo pacote de recompra de títulos, mas também não disse que ele não virá. Simplesmente não disse nada a respeito. Bernanke deixou claro que vai avaliar as ferramentas de estímulo à economia na próxima reunião do Fed, que acontecerá nos dias 20 e 21 de setembro, e não apenas em um dia, como é de praxe.
A interpretação dos investidores foi de que Bernanke deu o recado que o pacote de recompra de títulos foi apenas adiado e deve vir antes que setembro chegue ao fim. Ainda na visão dos investidores, até por esse motivo o presidente do BC americano estendeu a reunião para dois dias.
Como ninguém sabe se Bernanke vai mesmo anunciar um novo pacote na próxima reunião do Fed, o mercado deve oscilar muito, mas sem direção alguma, pelo menos até a chegada desse encontro do BC dos Estados Unidos.
"O mercado deve continuar funcionando um dia de cada vez, oscilando muito mais ao sabor dos indicadores econômicos do dia, do que seguindo uma tendência de mais longo prazo", diz o chefe da área de renda variável da Fundação Cesp, Paulo de Sá Pereira. Para ele, mais até do que o cenário econômico, a parte política tanto nos Estados Unidos quanto na Europa torna a situação indefinida. "O lado político aumenta o grau de imprevisibilidade dos mercados", afirma Sá Pereira.
Não por acaso, em seu discurso, Bernanke fez questão de criticar a atuação do Congresso americano, lembrando que o crescimento econômico de longo prazo depende muito mais de políticas públicas do que de medidas pontuais do xerife da economia.
A despeito de qualquer torcida a favor, o executivo da Fundação Cesp está no grupo dos que acreditam que não haverá um novo "Quantitative Easing". "Do jeito que a economia e a inflação estão me parece bem pouco provável o Fed voltar a fazer uso desse instrumento de estímulo econômico", argumenta Sá Pereira, que não acredita numa recessão americana.
Se ele estiver certo, existem grandes chances de o mercado assumir um lado mais negativo, à medida que for ficando claro que não haverá um novo pacote.
Em busca do Tesouro
Por Luciana Monteiro De São Paulo Valor 29/08
Os juros em níveis altos neste ano enquanto a bolsa patina estão favorecendo as aplicações em renda fixa. E o investidor descobre cada vez mais a aplicação direta em títulos públicos. Os números mostram que os cadastros no Tesouro Direto - sistema de compra e venda de papéis do governo via internet - superaram a marca de 38 mil novos investidores nos sete primeiros meses do ano.
Só para se ter ideia, o total de cadastros recém-abertos acumulado entre janeiro e julho deste ano é o maior no período desde o início do programa, em 2002. É também 70% superior aos 22.486 registrados no mesmo período de 2010. O aumento no número de aplicadores turbinou também o volume de papéis vendidos via Tesouro Direto no mesmo período. No ano, até julho, as vendas de papéis públicos somaram R$ 2,137 bilhões. O valor é 68,7% superior ao R$ 1,266 bilhão registrado nos sete primeiros meses do ano passado.
Diante do rame-rame da bolsa neste ano, muitas corretoras estão buscando formas alternativas de atrair os investidores e, dentro dessa estratégia, o Tesouro Direto tem ganhando lugar de destaque. Depois dos tradicionais incentivos - como taxas mais baixas de corretagem -, agora as instituições distribuem até brindes para quem se tornar aplicador.
A Mirae Asset Securities, por exemplo, pretende competir fortemente no mercado de renda fixa e lança hoje uma promoção para atrair mais investidores para o Tesouro Direto. Até o dia 30 de setembro, os novos clientes que adquirirem a partir de dez títulos públicos pelo sistema - valor próximo a R$ 10 mil - ganharão um vale-presente da Saraiva no valor de R$ 100,00. Com a promoção, a corretora espera dobrar sua carteira de clientes em Tesouro Direto, passando dos atuais 3,5 mil para 7 mil clientes.
As corretoras são sempre lembradas por suas operações com ações, mas a ideia é divulgar que também há a possibilidade de aplicar em renda fixa nelas, explica Luciana Pazos, chefe da divisão de gestão de fortunas da Mirae Asset Securities. "E o momento é também bastante propício para as aplicações no Tesouro Direto, diante das preocupações com o cenário internacional e com as taxas de juros ainda altas por aqui", avalia a executiva, que ainda vê oportunidades nos papéis atrelados à alta de preços, já que a inflação deve continuar pressionada. "A crise precisaria ser muito mais severa para conseguir retrair o crescimento do país", diz.
Na Ágora, o número de novos investidores que aplicam em Tesouro Direto cresceu 30% nos últimos 12 meses, afirma Helio Pio, gerente-comercial da corretora. Com o Índice Bovespa em queda de 23,02% no ano até sexta-feira, muitos investidores optaram por reduzir parte das aplicações em ações e elevar as em renda fixa, conta o executivo. "A bolsa não compete com o Tesouro Direto, pois os investidores não têm 100% em ações", afirma Pio. "Eles costumam ter uma parte em renda variável e outra em renda fixa e o Tesouro Direto fica justamente com a parcela mais conservadora dos recursos." Diante do maior interesse dos investidores, a Ágora lançou há um ano um relatório com recomendações de papéis aos investidores.
Além da popularização do sistema de compra e venda de títulos públicos, a expansão no número de investidores está ligada ao programa da BM&FBovespa de oferecer um incentivo financeiro aos agentes de custódia. Ele é dado às corretoras conforme a evolução da base de investidores com saldo em conta no Tesouro Direto. Colocado em prática no início deste ano, o programa distribuiu R$ 2,7 milhões em junho, pagos proporcionalmente às instituições de acordo com o crescimento do número de aplicadores com saldo no primeiro semestre do ano. O crédito é feito em forma de incentivo nos pacotes de serviços que os agentes de custódia pagam para a bolsa.
A integração entre os sistemas de negociação eletrônica de ações (home broker) com o de títulos públicos também é responsável por uma parte desse crescimento, lembra Eric Cardoso, gerente do home broker da corretora Renascença. A integração de sistemas é resultado de um projeto da bolsa de 2009, que fechou acordo com o Tesouro Direto para a junção. Isso significa que o investidor que já aplica em bolsa via home broker não precisa deixar o sistema para comprar títulos públicos, facilitando a vida do cliente, explica o executivo.
O ranking dos agentes de custódia no site do Tesouro Direto mostra que há corretoras que reduziram, ou mesmo eliminaram, os custos dos investidores. Hoje já são cinco que não cobram taxa de corretagem dos investidores do sistema. Uma dela é a Socopa, que há anos utiliza o Tesouro Direto como um chamariz aos investidores. "Muitos chegam à corretora para operar renda fixa e, mais tarde, acabam aplicando também em ações", afirma Rogério Manente, gerente de home broker da corretora. Segundo ele, a taxa de conversão dos clientes ativos que foram para a instituição atraídos pelo Tesouro Direto também começaram a negociar ações.
No prazo de um ano, a Socopa dobrou o número de clientes em Tesouro Direto e elevou em 40% seu volume negociado no sistema. "Além do cenário pior para a bolsa, muitos clientes estão migrando de outras aplicações, como caderneta de poupança ou CDBs, para o Tesouro Direto", afirma Manente.
Hoje são três as taxas cobradas pelo sistema. Uma, no momento da compra, que é a taxa de negociação, de 0,10% sobre o valor da operação. Há ainda a taxa de custódia da BM&FBovespa, de 0,30% ao ano sobre o valor dos títulos, referente aos serviços de guarda dos papéis e às informações e movimentações dos saldos, cobrada semestralmente. E os agentes de custódia cobram taxas de serviços, e são justamente esses custos que estão cada vez menores.
Iniciativas para elevar as aplicações no Tesouro Direto, entretanto, justamente num momento de tanta volatilidade como o atual, podem influenciar a decisão do investidor, ressalta Paulo Levy, diretor do home broker MyCAP, da Icap. "Isso pode, indiretamente, fazer com que os clientes sejam levados a sair de ações e migrar para o Tesouro justamente quando eles deveriam estar entrando na bolsa", afirma. "E quem sai de bolsa em momentos de crise perde dinheiro."
O mal-estar dos nossos dias
Por LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA FSP 29/08
VIVEMOS UM tempo de crise, um tempo de mal-estar. A selvagem revolta no Reino Unido mostrou com clareza; foi uma reedição agravada das revoltas da França de 2005.
Essas, como as manifestações mais moderadas e mais objetivas na Grécia, na Espanha, e na própria Inglaterra contra as políticas de austeridade impostas pelos credores ou então autoimpostas pelo próprio governo conservador, demonstram que não vivemos dias felizes.
A miséria material continua a identificar países pobres e explorados da periferia, mas a miséria humana, a sensação de insegurança e falta de perspectivas e a frustração generalizada estão em toda parte. Especialmente no mundo rico.
Os EUA, que no pós-guerra eram uma sociedade coesa e vigorosa, hoje são uma sociedade dividida e desorientada. Na Europa a crise provocada pelo euro sugere para todos a estagnação senão a decadência econômica.
Como explicar o que está acontecendo?
É o capitalismo que fracassou, é o Estado social que foi destruído, como afirma um crítico tão radical como brilhante como é Slavoj Zizek?
Não aceito esse tipo de diagnóstico.
Os 30 anos neoliberais do capitalismo foram um tempo de retrocesso social e político, de aumento brutal das desigualdades e da instabilidade financeira e de diminuição das taxas de crescimento econômico. Mas o Estado social europeu sobreviveu porque foi defendido em eleições democráticas.
Foi então porque o mundo moderno perdeu seus parâmetros morais, como pretendem os conservadores?
Não vale a pena perder tempo com esse tipo de não-explicação.
As revoltas nem sempre são racionais, e muitas vezes não são sequer razoáveis, mas são sempre morais.
Mostram sempre indignação moral contra a injustiça, o privilégio e a corrupção dos ricos. Os revoltosos de Londres agiram em alguns momentos como criminosos, mas não subestimemos sua indignação.
Houve, sim, decadência moral no nosso tempo.
Mas a perda de parâmetros morais decorreu da aliança contraditória e malsã do conservadorismo com o neoliberalismo - com uma ideologia ferozmente individualista, que nega de forma militante solidariedade e interesse público.
Os progressistas não têm o monopólio da moral, já que os conservadores foram sempre guardiões da moralidade, embora a confundindo com a ordem estabelecida.
O conservador apenas não estava disposto, como estão o progressista e o revolucionário, a arriscar a ordem em nome da justiça social.
Quando, entretanto, nos 30 anos neoliberais, o conservadorismo foi capturado pelo neoliberalismo, tornou-se uma fonte de desorganização social e de retrocesso moral.
O mal-estar do nosso tempo só será superado quando o mundo rico redescobrir o futuro. Mas essa redescoberta só pode ser feita quando fizer a crítica ao neoliberalismo.
Os anos neoliberais do capitalismo terminaram com a crise financeira de 2008, que os desmoralizou, como desmoralizou a teoria econômica neoclássica que os justificava.
Mas nem as elites conservadoras nem os intelectuais progressistas foram capazes de fazer a crítica necessária do que aconteceu.
Nem de reafirmar sua confiança na ideia do progresso ou do desenvolvimento.
O Plano Brasil Maior
Por David Kupfer - Valor 29/08
No início deste mês de agosto o governo federal trouxe a público o novo plano de política industrial. Editado com o nome de "Brasil Maior", o novo plano desdobra-se em 35 iniciativas, algumas já em curso, outras de implementação imediata e outras ainda dependentes de regulamentação ou definição dos mecanismos de efetivação.
Em linhas gerais, o Plano Brasil Maior volta-se para quatro frentes: investimento; inovação; comércio exterior e defesa do mercado interno. Para incentivar o investimento, o plano recorre a uma bateria de incentivos financeiros e tributários convencionais. Além de rodada adicional de desonerações tributárias, cabe destacar o aumento da cobertura setorial e a prorrogação até dezembro de 2012 do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), uma iniciativa bem sucedida adotada pelo BNDES como resposta contracíclica aos efeitos da crise de 2008, e que parece prudente preservar diante da deterioração do cenário econômico internacional.
No que tange ao estímulo ao desenvolvimento tecnológico, tão ou mais importantes do que o reforço do caixa da Finep e das linhas de financiamento do BNDES parecem ser as mudanças introduzidas no marco legal da inovação. A regulamentação de contratos com cláusulas de risco tecnológico que, embora previstos na Lei de Inovação, não vinham sendo celebrados devido à insegurança jurídica que os cercava poderá tornar-se um elemento importante de disseminação de encomendas tecnológicas. Juntamente com o aumento do escopo de atuação das Instituições de Ciência e Tecnologia (ICT) públicas e privadas, constituem iniciativas que, embora relativamente tímidas, apontam na direção correta de buscar conferir maior verticalidade ao processo de alocação de recursos destinados a essa finalidade.
No campo do comércio exterior, o Plano prevê igualmente uma rodada adicional de medidas de desoneração ou correção de algumas das tantas distorções tributárias que desestimulam as exportações. Também aqui o principal avanço parece provir do plano institucional, expresso em ações que visam o fortalecimentos da defesa comercial em diversas de suas vertentes, especialmente no que diz respeito às regras de origem, prática de preços subfaturados e outras reconhecidas fragilidades desses mecanismos no país. Chama a atenção, porém, a ausência de iniciativas voltadas para a melhoria do acesso dos produtos brasileiros a terceiros mercados, tema que efetivamente não pode deixar de integrar o escopo da política comercial brasileira.
Por fim, o conjunto de medidas de defesa do mercado interno pode ser considerado como a principal novidade do Plano. Ao introduzir um projeto piloto para desoneração da folha de pagamento em setores intensivos em trabalho como vestuário, calçados, móveis e software e buscar regulamentar a Lei que instituiu mecanismos de mobilização preferencial do poder de compra governamental para produtos e serviços nacionais, o governo sugere uma mudança no diagnóstico e na linha geral de ação diante do agravamento dos problemas de competitividade da indústria brasileira. Se bem sucedidas, essas iniciativas podem servir de modelo para a definição de novos instrumentos capazes de potencializar o alcance da própria política industrial.
Porém, de pouco adianta contabilizar pontos positivos ou lacunas dessa família de medidas sem que as mesmas sejam colocadas na moldura dada pela preocupante evolução do cenário econômico mundial. De fato, embora muitos analistas prefiram compartilhar o diagnóstico de que a crise maior está circunscrita à Europa, há boas razões para se acreditar que também os EUA enfrentarão uma longa recessão e, pior, cuja saída poderá ser muito custosa em termos do aprofundamento dos atuais desequilíbrios da economia mundial.
Um mergulho para valer também da economia americana terá o efeito de enfraquecer a máquina de crescimento chinesa, tornando o Brasil muito mais dependente de seu dinamismo endógeno do que tem sido a norma nos últimos anos. Nesse cenário, o pós-crise certamente implicará uma profunda reorganização dos fluxos internacionais de mercadorias e de capitais e, neste contexto, a China, que possui estrutura produtiva parcialmente complementar, mas também parcialmente competitiva com a brasileira, poderá empurrar a indústria nacional para a produção de commodities e outros itens pouco elaborados.
Evidentemente, uma transformação dessa natureza virá na contramão dos objetivos de desenvolvimento nacional, razão pela qual é imprescindível a inclusão da dimensão da mudança estrutural na reflexão sobre as diretrizes gerais da política industrial. Especialmente diante do aprofundamento das incertezas que rondam a economia mundial, o reposicionamento da indústria brasileira não poderá prescindir da manutenção ou mesmo aceleração do processo de aumento das escalas técnicas e econômicas das empresas, da maior convergência entre o esforço exportador e as estratégias de internacionalização das bases produtivas dessas empresas e da retomada do processo de diversificação estrutural das atividades produtivas, tanto na indústria quanto nos serviços, recuperando o padrão que historicamente sempre caracterizou o desenvolvimento brasileiro.
Não somente na economia prepondera a incerteza; na vida também. Um acidente inimaginável levou prematuramente Antonio Barros de Castro, ainda no auge da sua capacidade intelectual. O desenvolvimentismo perdeu um dos seus esteios e o pensamento econômico brasileiro um dos seus mais competentes formuladores.
David Kupfer é professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do Grupo de Indústria e Competitividade (GIC-IE/UFRJ.
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
TV ON LINE
SARDENBERG ANALISA A QUEDA NO DESEMPREGO REGISTRADA PELO IBGE TEMPO: 00:03:19
O índice de desemprego medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) chegou a 6% em julho. É o nível mais baixo registrado neste ano.
Em comentário ao Jornal da Globo, Carlos Alberto Sardenberg analisa a pesquisa e fala sobre como o governo recebeu o resultado.
*CARLOS ALBERTO SARDENBERG, colunista de economia.
TV: TV GLOBO DF | PROGRAMA: JORNAL GLOBO | APRESENTADOR: WILLIAM WAACK
25/08/2011 - 22:41:00
MERCADO DE TRABALHO ESTÁ FORTE, AFIRMA SARDENBERG TEMPO: 00:04:24
Em comentário ao Jornal das Dez, o jornalista Carlos Alberto Sardenberg falou sobre os dados do IBGE, que apontou o desemprego para julho como o menor da série histórica que teve início em 2002. A taxa de desocupados, em julho, foi a menor já registrada para o mês e o salário médio do trabalhador o maior.
*CARLOS ALBERTO SARDENBERG, jornalista
TV: GLOBO NEWS | PROGRAMA: JORNAL DAS DEZ | APRESENTADOR: ANDRÉ TRIGUEIRO
BC no "Day Trade"
Valor 26/08
Corretora terá acesso a linha de redesconto do BC
O Conselho Monetário Nacional (CMN) ampliou o universo de instituições financeiras que podem tomar empréstimos intradia no Banco Central. Essa linha de redesconto, que não tem custo financeiro, poderá ser acessada por qualquer instituição com Conta de Liquidação no Sistema de Transferência de Reservas (STR), como corretoras, distribuidoras de valores, cooperativas de crédito e outras empresas cujo funcionamento é autorizado pelo Banco Central.
Até então, somente instituições bancárias, ou seja, com conta de reserva no BC, podiam tomar empréstimo para devolução no mesmo dia, sem pagar juros. Com isso, o uso desse instrumento de socorro de liquidez estava restrito a bancos comerciais, bancos múltiplos, bancos de câmbio, bancos de investimento, de desenvolvimento e caixas econômicas.
A ampliação do acesso foi decidida ontem e tem como objetivo "aumentar a competição" do sistema financeiro e "favorecer a fluidez" no Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), do qual o STR é parte, justificou o BC. É pelo STR que são feitas as transações entre instituições financeiras. Antes março de 2009, quando foram criadas as contas de liquidação no STR, as empresas não bancárias dependias dos bancos inclusive para fazer transações nesse sistema.
O desenho da linha intradia não muda. Os recursos podem ser tomados mediante entrega de garantia de 100%, somente na forma de títulos públicos federais. Trata-se de operação com compromisso de recompra do papel no mesmo dia pelo tomador do recurso.
Enquanto isso...
O gato de Bernanke pode ter subido no telhado
Por Daniele Camba
Desde segunda-feira, analistas e investidores não pensam em outra coisa: a possibilidade do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, anunciar hoje a terceira versão do pacote de recompra de títulos - o "Quantitative Easing 3". Ontem, no entanto, o mercado funcionou como se o gato de Bernanke tivesse subido no telhado.
Os investidores começaram a colocar nos preços dos ativos uma possibilidade bem maior de que o presidente do Fed tente acalmar os ânimos apenas na lábia, sem anunciar um tostão a mais de estímulo à economia.
A reação dos mercados foi de queda. Nem mesmo a Bovespa se safou de ficar no vermelho, mesmo com a elevação da perspectiva da nota do Brasil, pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, de estável para positiva.
O Índice Bovespa passou boa parte do pregão em queda, fechando em baixa de 1,57%, aos 52.953 pontos. O volume de negócios foi de R$ 5,1 bilhões, abaixo da média diária recente.
Para o diretor da Ativa Corretora, Álvaro Bandeira, depois de muita resistência, os investidores caíram em si. A reunião de hoje, em Jackson Hole, deve ser no máximo uma carta de intenções, nada mais do que isso. "Deve sair algo bem teórico, longe de uma terceira versão do pacote de recompra de títulos", diz Bandeira.
O diretor da Ativa cita alguns motivos para que não saia nada muito "mão na massa" da reunião de hoje. Primeiro por não ser um fórum ideal para decisões tão práticas, apesar do "Quantitative Easing 2" ter saído exatamente desse encontro, no ano passado. No entanto, a situação da economia era bem diferente.
Para se ter ideia, naquela época, o índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês) em 12 meses estava em 1%. Já agora, a inflação ultrapassa a marca dos 3,5%. Em outras palavras, isso significa que o governo dos EUA tem muito menos condições de gastar dinheiro para estimular a economia e, por tabela, satisfazer o desejo do mercado.
"O Fed sempre deixou claro que um afrouxamento monetário deve ocorrer quando há deflação, sendo que agora o que existe é uma inflação já alta, ou seja, algo bem diferente", explica o diretor da Ativa.
Um outro motivo para que não saia nada de palpitante das montanhas de Jackson Hole, segundo Bandeira, é que faz mais sentido uma ação coordenada entre o BC dos Estados Unidos e outros bancos centrais, como o que ocorreu durante a crise de 2008, o que parece pouco provável, pelo menos por enquanto.
A pergunta agora é se o mercado vai retomar a tendência de queda acentuada que se viu no começo do mês, caso Bernanke realmente não tire um novo pacote da cartola hoje. Os analistas acreditam que não. "O mercado deve cair num primeiro momento e depois voltará a ficar volátil, à mercê de notícias dos EUA e da Europa", diz o gestor da Infinity Asset Management, George Sanders. A conferir.
Daniele Camba é repórter de Investimentos
O Conselho Monetário Nacional (CMN) ampliou o universo de instituições financeiras que podem tomar empréstimos intradia no Banco Central. Essa linha de redesconto, que não tem custo financeiro, poderá ser acessada por qualquer instituição com Conta de Liquidação no Sistema de Transferência de Reservas (STR), como corretoras, distribuidoras de valores, cooperativas de crédito e outras empresas cujo funcionamento é autorizado pelo Banco Central.
Até então, somente instituições bancárias, ou seja, com conta de reserva no BC, podiam tomar empréstimo para devolução no mesmo dia, sem pagar juros. Com isso, o uso desse instrumento de socorro de liquidez estava restrito a bancos comerciais, bancos múltiplos, bancos de câmbio, bancos de investimento, de desenvolvimento e caixas econômicas.
A ampliação do acesso foi decidida ontem e tem como objetivo "aumentar a competição" do sistema financeiro e "favorecer a fluidez" no Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), do qual o STR é parte, justificou o BC. É pelo STR que são feitas as transações entre instituições financeiras. Antes março de 2009, quando foram criadas as contas de liquidação no STR, as empresas não bancárias dependias dos bancos inclusive para fazer transações nesse sistema.
O desenho da linha intradia não muda. Os recursos podem ser tomados mediante entrega de garantia de 100%, somente na forma de títulos públicos federais. Trata-se de operação com compromisso de recompra do papel no mesmo dia pelo tomador do recurso.
Enquanto isso...
O gato de Bernanke pode ter subido no telhado
Por Daniele Camba
Desde segunda-feira, analistas e investidores não pensam em outra coisa: a possibilidade do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, anunciar hoje a terceira versão do pacote de recompra de títulos - o "Quantitative Easing 3". Ontem, no entanto, o mercado funcionou como se o gato de Bernanke tivesse subido no telhado.
Os investidores começaram a colocar nos preços dos ativos uma possibilidade bem maior de que o presidente do Fed tente acalmar os ânimos apenas na lábia, sem anunciar um tostão a mais de estímulo à economia.
A reação dos mercados foi de queda. Nem mesmo a Bovespa se safou de ficar no vermelho, mesmo com a elevação da perspectiva da nota do Brasil, pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, de estável para positiva.
O Índice Bovespa passou boa parte do pregão em queda, fechando em baixa de 1,57%, aos 52.953 pontos. O volume de negócios foi de R$ 5,1 bilhões, abaixo da média diária recente.
Para o diretor da Ativa Corretora, Álvaro Bandeira, depois de muita resistência, os investidores caíram em si. A reunião de hoje, em Jackson Hole, deve ser no máximo uma carta de intenções, nada mais do que isso. "Deve sair algo bem teórico, longe de uma terceira versão do pacote de recompra de títulos", diz Bandeira.
O diretor da Ativa cita alguns motivos para que não saia nada muito "mão na massa" da reunião de hoje. Primeiro por não ser um fórum ideal para decisões tão práticas, apesar do "Quantitative Easing 2" ter saído exatamente desse encontro, no ano passado. No entanto, a situação da economia era bem diferente.
Para se ter ideia, naquela época, o índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês) em 12 meses estava em 1%. Já agora, a inflação ultrapassa a marca dos 3,5%. Em outras palavras, isso significa que o governo dos EUA tem muito menos condições de gastar dinheiro para estimular a economia e, por tabela, satisfazer o desejo do mercado.
"O Fed sempre deixou claro que um afrouxamento monetário deve ocorrer quando há deflação, sendo que agora o que existe é uma inflação já alta, ou seja, algo bem diferente", explica o diretor da Ativa.
Um outro motivo para que não saia nada de palpitante das montanhas de Jackson Hole, segundo Bandeira, é que faz mais sentido uma ação coordenada entre o BC dos Estados Unidos e outros bancos centrais, como o que ocorreu durante a crise de 2008, o que parece pouco provável, pelo menos por enquanto.
A pergunta agora é se o mercado vai retomar a tendência de queda acentuada que se viu no começo do mês, caso Bernanke realmente não tire um novo pacote da cartola hoje. Os analistas acreditam que não. "O mercado deve cair num primeiro momento e depois voltará a ficar volátil, à mercê de notícias dos EUA e da Europa", diz o gestor da Infinity Asset Management, George Sanders. A conferir.
Daniele Camba é repórter de Investimentos
A fama marxista em Wall Street
Por Samuel Brittan - FT
Em meio a quase todas crises periódicas que afetam as economias mercantis, erguem-se vozes dizendo que "No fim das contas, Marx estava certo". Alguns anos atrás, Nicolas Sarkozy foi visto empunhando uma cópia de "Das Capital", enquanto nas últimas semanas gurus financeiros, entre eles Nouriel Roubini e George Magnus, escreveram artigos com referências ao pensador comunista.
Quando a recuperação acontece, a grita se dissipa, apenas para ressurgir na vez seguinte em que ocorre uma contração brusca. A primeira coisa errada no slogan é que ele tem pouco a ver com Karl Marx. Lembro-me de uma senhora, sob outros aspectos uma profissional extremamente inteligente que, quando indagada sobre por que era marxista, respondeu: "Eu fiquei entediada com os amigos de meu pai".
Marx sofreu nas mãos não apenas dos que distorceram interesseiramente seu pensamento, mas de críticos que o identificaram com a ditadura de Stalin ou mesmo com o regime de Mao Tsetung. É, evidentemente, absurdo culpar Marx, que viveu de 1818 a 1883, pelos crimes cometidos décadas após sua morte. Na verdade, o grande homem disse certa vez: "Seja lá que outra coisa eu possa ser, não sou um marxista". Muitos analistas sérios têm escrito sobre o que Marx quis dizer ou deve ter desejado dizer. Não sou um deles e minha desculpa principal para dar minha própria opinião extremamente seletiva é que nunca demonizei nem adorei esse homem.
O aspecto de Marx que originalmente me intrigou foi sua divisão da história após o fim da Idade das Trevas: feudalismo, capitalismo, socialismo e comunismo. Por socialismo, Marx entendia algo semelhante a uma versão extrema da antiga quarta cláusula do Partido Trabalhista britânico, que contemplava a propriedade pública de todos os meios de produção, de distribuição e de trocas. Mas comunismo não implicava nada semelhante a seu significado posterior. Era uma utopia na qual um dia de trabalho curto proveria todas as necessidades da sociedade e as pessoas ficariam livres para "caçar de manhã, pescar à tarde e discutir filosofia à noite". A visão de uma sociedade assim reteve no campo marxista alguns idealistas que, do contrário, poderiam ter abandonado a causa.
Eu considerei essa visão mais interessante do que a abordagem típica de historiadores ingleses, segundo a qual o objeto de seu estudo era apenas uma coisa após outra.
Entretanto, há muitos problemas na versão marxista. Será que o capitalismo começou nas repúblicas da Itália no século XV ou ainda não tivera início em muitas regiões da Europa onde a Revolução Industrial não se firmou efetivamente até um momento bem avançado do século XIX? E o que dizer sobre a Rússia, que ainda não tivera uma revolução capitalista, mas onde Marx tinha um número surpreendente de discípulos? Isso começou a preocupá-lo no fim de sua vida, quando ponderou se a Rússia poderia passar diretamente ao socialismo.
A importância de Marx para muitos socialistas está no fato de que ele lhes disponibilizou, a um só tempo, uma análise moral devastadora sobre o capitalismo e a profecia de que o capitalismo estava fadado a perecer. Em sua análise, o trabalhador passava, digamos, 10 horas por dia produzindo para si e as outras duas horas para seu empregador. A diferença entre o custo do trabalho (inclusive o dispendido com insumos) e o preço final ficou conhecida como "mais-valia" e caracterizada como uma medida de "exploração". Isso é, de longe, excessivamente simplista. Em toda sociedade, o preço dos produtos deve exceder os custos do trabalho em diferentes montantes para assegurar uma margem para cobrir investimentos, impostos e muito mais. O verdadeiro argumento ético não é contra a existência de um retorno sobre o capital, mas de que a propriedade do capital seja tão altamente concentrada.
O que Marx quer dizer com "as contradições do capitalismo"? Basicamente, que o sistema produz um fluxo cada vez maior de bens e serviços que uma população empobrecida proletarizada não tinha condições de adquirir. Uns 20 anos atrás, após o desmoronamento do sistema soviético, isso teria soado fora de moda. Mas o argumento convida um outro olhar, na esteira do aumento da concentração de riqueza e de renda. Com efeito, um ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, Raghuram Rajan, atribuiu a recente explosão do crédito, em parte, à estagnação dos salários reais, o que estimulou as pessoas a tomar empréstimos.
Mas, mesmo que a análise esteja correta, o remédio está errado. A justificativa para uma redistribuição é ética. Se a única coisa de errado no capitalismo é insuficiente poder generalizado de compra, então, com certeza, o remédio é lançar dinheiro de helicópteros, conforme Milton Friedman. Para isso, não necessitamos tanto uma revolução política, mas sim intelectual, ou seja, a derrubada do fetiche do orçamento equilibrado.
Como sugere A J P Taylor em sua introdução do "Manifesto Comunista" (editora Penguin), o marxismo foi uma peculiaridade do mundo de língua alemã. Sua elaboração mais interessante veio de Rudolf Hilferding, um social-democrata austríaco cuja contribuição duradoura foi formulada em seu livro "Das Finanzkapital". Nele, Hilferding chamou a atenção para uma nova faceta sinistra, a ascensão de banqueiros e financistas por trás da crescente cartelização do sistema produtivo. Ele não previu a importância bem maior da massa de dinheiro artificial cruzando fronteiras, o que certamente é extremamente relevante, num momento em que os banqueiros centrais estão quebrando a cabeça sobre como reanimar a economia mundial.
Samuel Brittan é articulista do FT
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Será que vamos ter que contratar mercenários?
Erdanet
A tomada de poder pelos “insurgentes” na Líbia pode servir de momento para reflexão de nossas condutas como cidadãos. Percebe-se, pelas imagens, que um movimento legitimamente popular não contaria com todo o aparato bélico mostrado. Metralhadoras ponto 50, sim aquelas que são usadas para derrubar aviões, são dirigidas aleatoriamente, com objetivo puramente intimidatório.
Interesses econômicos de países foram atingidos, principalmente da França e da Itália, desconstruindo todo um mito de democracia na Líbia. Mito que até recentemente era apoiado por esses países, em troca do Ouro Negro.
A Ciência Política ensina que nenhum país pode apoiar sua economia em bens primários, commodities no Comércio Internacional, sob pena de ter sua soberania invadida. O Capitalismo Selvagem que se instala nesses países exportadores é que leva à degradação do meio ambiente, aos mais vis meios de exploração do trabalho humano e ao desnível econômico da população. Aqui a mais-valia deve ser máxima.
O importador quer mais produtos a preços menores, buscando nos cartéis ponto de apoio para maximizar e legitimar sua esperteza.
Nessa balança, os países que apoiam sua economia em commodities sempre ficarão em desvantagem, seja na OMC, na ONU e em outros organismos internacionais de comércio. A infra-estrutura montada nesses organismos é o que legitima seus atos, inclusive movimentos “insurgentes” contra a “ordem estabelecida”, como no Kuwait, Irã, Zaire etc, países produtores de bens primários e com histórico de lideranças corruptas. Essa conjunção de fatores somada a um povo inepto leva à instabilidade na democracia.
Líderes que não prestam contas, que agem como déspotas, fazendo desdém com a paciência do povo, esquecem-se que pelo menos uma parcela, ínfima que seja, é esclarecida.
Carlos Benedito da Silva Brito
Crise do euro: saída é monetária
Por José Luis Oreiro - Valor 25/08
Nas últimas semanas temos vivenciado mais uma rodada de queda generalizada das bolsas, aumento da aversão ao risco e instabilidade das taxas de câmbio. Crescem os temores de uma crise financeira sistêmica na Europa. Muitos economistas têm afirmado que a raiz de todos esses problemas é fiscal. Os mercados desconfiam da solvência dos governos europeus e cobram elevados prêmios de risco sobre os títulos soberanos desses países, aumentando assim o custo de rolagem dessas dívidas e o déficit público, o que acaba por "realizar" a expectativa de insolvência. A saída seria fazer um fortíssimo ajuste fiscal para sinalizar de forma inequívoca aos mercados que as condições de solvência dos países da área do euro estão garantidas. Está claro que, nesse cenário, o Estado do Bem-Estar Social teria que ser desmontado na maior parte dos países europeus. Seria a vitória definitiva do neoliberalismo.
A realização de um "ajuste fiscal a frio" não irá resolver a crise financeira europeia; pelo contrário, pode ainda agravá-la.
Para entender o porque dessa afirmação é necessário esclarecer a origem da atual crise. A mesma não se originou de um descontrole fiscal dos países da área do euro (exceção feita à Grécia). Com efeito, entre 1999 e 2007 a dívida pública (bruta) consolidada desses países ficou estável em torno de 60% do Produto Interno Bruto (PIB). O que se observa nesse período é um notável crescimento do endividamento do setor privado. A dívida das empresas não financeiras passou de 250% para 280% do PIB; o endividamento dos bancos, de 190% para 250% do PIB; e as famílias aumentaram o seu endividamento em quase 50%. A indisciplina "fiscal" estava centrada no setor privado, não no setor público.
Após o colapso do Lehman Brothers em setembro de 2008, os governos dos países europeus realizaram amplos programas de socorro ao setor financeiro e estímulo à economia em recessão, os quais impediram o colapso das economias europeias após uma forte queda em 2009, mas contribuíram para aumentar o endividamento público na área do euro.
A expansão fiscal, no entanto, não foi suficiente para garantir a volta ao crescimento sustentado nos países do sul da Europa (Espanha, Portugal, Itália, Grécia) por duas razões. Em primeiro lugar, esses países se defrontaram com uma forte apreciação cambial nos anos pré-crise em função da ocorrência de aumentos salariais acima da expansão da produtividade do trabalho, ocasionando um forte aumento do custo unitário do trabalho. Na Alemanha, ao contrário, verificou-se uma redução desse custo em razão da política de moderação salarial implementada com a chancela dos sindicatos alemães. O resultado disso foi uma deterioração da competitividade dos países do Sul da Europa com relação à Alemanha, dando origem a grandes déficits em conta corrente nos primeiros e um crescente superávit no último. Em segundo lugar, o setor privado na Europa iniciou um processo de "deflação de dívidas" no qual o gasto corrente e de capital é reduzido com o intuito de se aumentar a poupança privada e assim reduzir o nível de endividamento.
O efeito combinado da apreciação cambial e do aumento da poupança privada nos países do sul da Europa acabou por amortecer o impacto expansionista da política fiscal anticíclica, contribuindo para manter o desemprego a nível elevado e a atividade econômica semiestagnada. Nesse contexto, cria-se um ciclo vicioso no qual o aumento inicial do endividamento público eleva a percepção de risco por parte dos agentes econômicos quanto à solvência dos países do Sul da Europa, aumentando o custo de refinanciamento das dívidas desses países e, por conseguinte o seu déficit nominal. A elevação do déficit "realiza" as expectativas pessimistas quanto à solvência dos Piigs, criando assim as pré-condições para um default soberano.
Uma contração fiscal irá apenas aumentar a taxa de desemprego e deprimir os lucros das empresas financeiras e não financeiras da área do euro. Isso irá reduzir a poupança privada, retardando assim o processo de deflação de dívidas, o que irá alongar o período de contração dos gastos privados de consumo e de investimento. Dessa forma, a semiestagnação irá se prolongar por vários anos, deprimindo a receita tributária e impedindo a recuperação das finanças públicas dos países do Sul da Europa.
A saída para a crise fiscal da área do euro passa por um "relaxamento quantitativo" da política monetária. Uma alternativa seria o Banco Central Europeu (BCE) monetizar uma parte da dívida pública de forma a reduzir a relação entre juros e PIB para algo como 2% em todos os países da área do euro.
A monetização resolveria numa só tacada dois problemas. Em primeiro lugar, permitiria aos bancos europeus se livrar de uma parte dos títulos públicos "micados" de seus balanços, reduzindo assim o seu próprio risco de insolvência. Em segundo lugar, ocorreria uma forte depreciação do euro frente ao dólar e ao yuan, aumentando assim a competitividade das exportações europeias, viabilizando uma recuperação do nível de atividade por intermédio das exportações. Além disso, a inflação certamente se elevaria como resultado dessa medida, transferindo riqueza dos credores para os devedores, aliviando parte do problema do elevado endividamento do setor privado na Europa do euro.
José Luis Oreiro é professor do departamento de Economia da Universidade de Brasília e diretor da Associação Keynesiana Brasileira. E-mail: joreiro@unb.br.
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25/08/2011 - 00:50:00
TAXA DE JUROS DO CHEQUE ESPECIAL BATE RECORDE TEMPO: 00:04:38
A taxa de juros do cheque especial bateu recorde em julho e são as mais altas dos últimos 12 anos. Quem ficou no vermelho no mêspagou juros de até 188% ao ano. O comentarista Joelmir Beting analisa os números.
TV: TV BAND | PROGRAMA: JORNAL DA NOITE | APRESENTADOR: BORIS CASOY
JOSÉ PASTORE FALA SOBRE O EMPREGO E DESEMPREGO NO PAÍS E PROGRAMA DO MICROEMPREENDEDOR TEMPO: 00:08:30
Em entrevista ao Jornal da Gazeta, o professor de relações do trabalho da Universidade de São Paulo (USP), José Pastore, falou sobre a relação do emprego e desemprego no país.
*JOSÉ PASTORE, professor da USP.
TV: TV GAZETA | PROGRAMA: JORNAL DA GAZETA | APRESENTADOR: SILVIA CORRÈA
24/08/2011 - 20:02:00
ECONOMIA BRASILEIRA NÃO APRESENTA ROBUSTEZ, AFIRMA ECONOMISTA-CHEFE DA MB ASSOCIADOS TEMPO: 00:05:11
Em entrevista ao Conta Corrente, o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, fala sobre o enfrentamento do País contra a dívida pública. De acordo Vale, com o Brasil no relativo em relação aos números fiscais, macro em geral, superávit primário e a própria dívida, este número está muito melhor do que os países envolvidos na crise econômica internacional neste momento. Mas isso não é sinal de robustez. Segundo o economista, todo ano o Governo não atinge a meta da economia e fica difícil de fechar a conta.
*SÉRGIO VALE, economista-chefe da MB Associados
*GEORGE VIDOR, jornalista
TV: GLOBO NEWS | PROGRAMA: CONTA CORRENTE | APRESENTADOR: GUTO ABRANCHES
25/08/2011 - 13:48:06
JUROS COMEÇAM DIA EM ALTA NA BOVESPA TEMPO: 00:04:00
A Bolsa de Valores de São Paulo cai mais de 1%, acompanhando o pessimismo do exterior. Já os juros subiram logo nos primeiros minutos de abertura da Bovespa. Os papeis mais afetados foram os de vencimento mais longos, como janeiro de 2013. A alta que chegou à 0,40% começou a perder o ritmo e sobe 0,09% neste momento.
Segundo economistas e analistas financeiros, o resultado é um reflexo da taxa de desemprego divulgada pelo IBGE.
TV: GLOBO NEWS | PROGRAMA: CONTA CORRENTE | APRESENTADOR: SIDNEY REZENDE
Inadimplência em alta
FSP 25/08
A inadimplência dos consumidores voltou a subir em julho, depois da estabilidade do mês anterior. Segundo dados do Banco Central, a taxa passou de 6,4% para 6,6%, a maior em 14 meses.
Economistas avaliam que os atrasos podem crescer, mas a alta será moderada e pode ser revertida.
Alexandre Andrade, da consultoria Tendências, prevê que a inadimplência terá um pico neste semestre, para recuar até o início de 2012.
A piora se deve ao aumento de juros e às restrições de prazo em linhas mais baratas, como consignado e veículos, o que levou muitas pessoas ao cheque especial.
O emprego ainda em expansão e a renda mais alta, diz, esfriarão o movimento.
Carlos Thadeu de Freitas, economista da Confederação Nacional do Comércio, acha que apenas uma piora significativa na crise externa, que afete o emprego, levaria a uma disparada nos atrasos. "A inadimplência não vai cair como o BC está achando, mas também não vai subir muito", afirma.
Wemerson França, da LCA, espera que o indicador chegue a 7% nos próximos meses, e fique estável em 2012. "Está dentro do esperado porque as medidas de restrição trouxeram o custo do crédito para outro patamar."
O BC diz que a tendência é de estabilidade seguida de queda: "Essas oscilações são naturais, mas a expectativa é de acomodação, tendo em vista a continuidade de crescimento do emprego e da massa salarial", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel.
Cresce dependência do Brasil em relação à China, diz banco
Valor 25/08
O Brasil está ajustando "passivamente" sua economia a demandas da China, numa forma crescente de dependência, avalia o banco Nomura, em Nova York, em nota enviada aos clientes. "Vemos a dependência se aprofundar. Para o melhor ou pior, o futuro econômico do Brasil será mais e mais em função de decisões tomadas em Pequim", estima o banco.
A relação econômica bilateral, avaliam os economistas da instituição, está sendo marcada por uma parceria do tipo Norte-Sul (rico e pobre) entre duas economias em desenvolvimento. O relatório destaca que o Brasil se torna mais dependente das exportações de commodities para o mercado chinês. Ao mesmo tempo, companhias brasileiras estão cada vez mais dependentes de componentes baratos produzidos na China.
O mercado chinês absorveu 15,2% das vendas externas brasileiras em 2010, ante 2% em 2000, segundo estudo divulgado em abril pelo Banco Central. A autoridade monetária ressalta que o saldo comercial da balança voltou a ser "amplamente favorável" ao Brasil a partir de 2009, ano em que o país asiático passou a ser o principal parceiro comercial do Brasil, destronando os EUA. Em 2010, o Brasil exportou US$ 30,8 bilhões à China e importou US$ 25,6 bilhões, o que resultou em superávit de US$ 5,2 bilhões, praticamente igual ao registrado em 2009.
As exportações brasileiras à China se concentram em matérias-primas. Em 2001, 63% dos embarques brasileiros eram representados por produtos básicos. No ano passado, o número cresceu para 84%. Em 2010, os chineses absorveram 46,1% das exportações brasileiras de minério de ferro, 64,6% das de soja e 24,9% do petróleo.
Na prática, a relação Brasil-China replica a relação de dependência experimentada pelo Brasil com os EUA no período pós-Segunda Guerra Mundial, escrevem os analistas Tony Volpon e George Lei, do Nomura. O banco constata que, com a eleição de Dilma Rousseff, a natureza do debate envolvendo a política econômica no país mudou e mais atenção tem sido dada aos perigos da desindustrialização e da excessiva valorização do real. No entanto, estima que o governo Dilma "não desenvolveu alternativa coerente para sua crescente dependência em relação à China".
Analistas consultados pelo Valor concordam em parte com o Nomura. Segundo um deles, a dependência existe no setor de commodities, mas a exportação total do país tem outros destinos relevantes além do mercado chinês.
Caso o país asiático diminua a taxa de crescimento, como reflexo das turbulências externas, o superávit comercial brasileiro seria atingido com a queda do volume de importações chinesas, assim como do preço das commodities, influenciados pela forte demanda da China, projetam economistas. A única saída para diminuir a dependência chinesa seria fortalecer a indústria nacional e aumentar as exportações de manufaturados.
"Se a relação Brasil-China não é igual à relação Brasil-EUA no passado, uma hora será", prevê Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, que vê como "óbvia" a redução do crescimento chinês nos próximos anos. Em um primeiro momento, diz, o impacto seria relativamente pequeno, mas no prazo de um ano e meio a dois anos, a exportação brasileira seria prejudicada e a atividade interna teria desaceleração mais forte.
Para Welber Barral, sócio da Barral M Jorge Consultores, a dependência do Brasil em relação à China só é verdadeira no mercado de commodities, mas não se estende a toda a pauta de exportações. Segundo ele, apesar de a China ser no momento o principal parceiro comercial do Brasil, não há como comparar a relação Brasil-China com a Brasil-EUA há dez anos.
"A China não chega a ter um percentual tão grande das exportações brasileiras. Os EUA, ao contrário, já chegaram a ter 26% das vendas externas do Brasil", observa o consultor. Barral ressalta, no entanto, que o país sai perdendo com a pouca diversificação das exportações destinadas aos chineses. "O Brasil é muito dependente da China em algumas commodities. Isso não é bom para o país."
Relatório do departamento de relações internacionais e comércio exterior (Derex) da Fiesp mostra que o predomínio de produtos básicos na pauta exportadora brasileira à China se aprofundou em 2011. De janeiro a julho, enquanto as commodities representaram 88% do valor exportado à China, 96% das importações procedentes do país asiático foram de manufaturados. O superávit total do Brasil com a China atingiu US$ 16,2 bilhões em sete meses, mas a balança de manufaturados acumula déficit de US$ 16,2 bilhões de janeiro a julho, com previsão de encerrar o ano em US$ 32 bilhões.
O setor de commodities, nota o Derex, tem receita garantida pelo aumento de preços, já que, em volume, as exportações de minério de ferro tiveram crescimento pouco expressivo entre janeiro e julho (13%), enquanto as de soja caíram 5% e a de óleos brutos de petróleo, 14%. No mesmo período, as importações brasileiras de manufaturados chineses aumentaram 34% em quantidade embarcada e 33% em valores absolutos.
Para Barral, caso a China desacelere o crescimento nos próximos anos, o Brasil seria afetado de três formas: o quantum de exportações seria reduzido, assim como o valor delas, e o real seria desvalorizado. "Boa parte do superávit brasileiro vem de preços de commodities. Se houver redução da demanda, o preço cai. Se cai o preço, o real se desvaloriza."
Para reagir ao impacto, Silveira, da RC, diz que o Brasil poderia, em um primeiro momento, praticar políticas anticíclicas, como o incentivo ao crédito, mas não pode "queimar reservas para o resto da vida". "Chegará uma hora em que os preços das commodities vão ser ajustados para baixo. Isso vai custar caro para o país", diz o economista.
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