quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Risco de "acidente de percurso" motivou corte da Selic, diz Tombini



Valor 28/09






O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, considerou, ontem, a possibilidade de um "acidente de percurso" como desdobramento da crise na zona do euro. Ele não especificou, mas poderia ser algo como uma moratória efetiva da Grécia ou a quebra de bancos. "O cenário está mais complexo. As probabilidades de ocorrer um acidente de percurso elevaram-se", disse ele durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

Foi com base nesse quadro, assegurou, que o Copom cortou a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual no dia 31 de agosto, decisão que causou grande alvoroço nos mercados. Disse que a deterioração da crise externa nos últimos dias não o surpreendeu, pois estavam claros os sinais de agravamento dos problemas que a economia global enfrenta. Ao reduzir a Selic, o Copom levou em conta as perspectivas de baixo crescimento nas economias desenvolvidas, a diminuição do ritmo de crescimento da China e a decisão do Fed (banco central americano) de postergar para meados de 2013 a normalização das condições monetárias.

As últimas expectativas são de contração do PIB na Europa no último trimestre deste ano e, nos EUA, no primeiro trimestre de 2012, citou.

Tombini lembrou que o BC participa dos principais fóruns internacionais e isso o capacita para análises mais apuradas sobre a economia mundial. "Só não temos bola de cristal para prevermos a quebra de um país ou de uma instituição financeira. Mas temos capacidade para avaliar o quadro", disse.

Ele sustentou que a inflação doméstica está sob controle e calculou que não mais do que 5% da desvalorização sofrida pelo real recentemente serão repassados à inflação do IPCA. Confia, também, que ainda há chance de a inflação, este ano, não superar o teto da meta, de 6,5%.

"A inflação hoje está na faixa de 7,3% O teto da meta é 6,5%. Nós entendemos que será possível passar por debaixo do teto da meta. A inflação estará ao redor deste nível no fim do ano, o que representará um recuo em torno de 1 ponto percentual em torno do que está hoje", previu.

De maio a setembro com base no IPCA-15), a média da inflação no Brasil foi de 0,34%. Taxa que, anualizada, representa uma inflação acumulada em doze meses de 4,11% - abaixo do centro da meta de 4,5%. No período imediatamente anterior - entre setembro de 2010 e abril de 2011 - essa média foi bem maior, de 0,77%.

O quadro externo, de baixo crescimento, trará um movimento desinflacionário. Soma-se a isso o fato da economia brasileira já estar em processo de crescimento mais moderado, o que o leva a sustentar que a inflação convergirá para o centro da meta, de 4,5%, em 2012. Aos senadores, Tombini reiterou também a expectativa de que entre outubro e abril/maio de 2012 a inflação acumulada em doze meses caia 2 pontos percentuais, saindo do pico do índice este mês, de mais 7%, para a casa dos 5%.

Ao expor a situação externa na CAE, alertou para a necessidade de as lideranças europeias agirem rapidamente para evitar o risco de "eventos de crédito". Segundo ele, o mundo entrou num ciclo vicioso. Ao mesmo tempo em que aumenta a percepção de risco em relação às dividas soberanas e à solidez dos bancos europeus, o baixo crescimento econômico realimenta o problema. Quanto menor o crescimento mais tempo levará para que as dívidas soberanas caiam como proporção do Produto Interno Bruto (PIB).

"A elevada relação dívida/PIB das economias maduras afetou a percepção do risco dos títulos dessas economias pelos mercados", lembrou. A deterioração contaminou as economias mais endividadas da periferia da zona do euro, ou seja, Grécia, Irlanda e Portugal. A falta de solução para esses três casos, no entanto, "contaminou economias de maior porte da região, Espanha, Itália, França e a própria Alemanha", citou.

Em quatro meses houve uma destruição de riqueza mundial de quase US$ 10 trilhões, decorrente da desvalorização das empresas listadas em bolsas, citou.

O presidente do BC negou que existam com o Ministério da Fazenda em relação à taxação dos derivativos e descartou a alteração ou a redução da alíquota de 1% do IOF sobre essas operações. "Sobre esse assunto estamos no mesmo barco", afirmou.

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