terça-feira, 20 de setembro de 2011
O câmbio e os efeitos na inflação e na Bolsa
Valor 20/09
Essa puxada de preço do dólar, que ontem retomou a linha de R$ 1,80 nas praças futuras, começa a dar novas nuances ao mercado.
Nos juros, já se olha com maior preocupação a questão da "inflação importada", já que a disparada de preço do dólar é muito maior do que a queda no preço das matérias-primas.
Na renda variável, o dólar forte com "ações baratas", pode dar novo fôlego à Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), percepção válida ontem.
Focando atenção na inflação, um exercício simples mostra a dimensão desse trade-off.
Da mínima do ano, registrada em 26 de julho, a R$ 1,537, o preço da moeda americana já subiu 15,81%. Pegando a mesma janela de tempo, o índice de commodities CRB caiu 7,21%.
Segundo o próprio Banco Central (BC) essa transmissão de "inflação externa" é menor do que tempos atrás, mas tal queda do real quase duas vezes maior do que o preço das commodities já começaria a deixar os investidores cautelosos.
Essa seria uma das explicações para o aumento das taxas futuras, especialmente as mais longas no mercado de juros.
Outros fatores menos palpáveis que a questão cambial também correram pelas mesas ontem. Primeiro é a percepção de realização de lucros na curva longa por parte de investidor estrangeiro.
O segundo assunto em pauta era a possibilidade de surpresa negativa com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15) que sai hoje.
Falava-se em inflação entre 0,55% a 0,60%, contra previsões ao redor de 0,50%.
De volta ao dólar, o mercado fechou com a pior cara possível.
O contrato futuro para outubro tomou fôlego no fim do dia e mostrava alta de 3,85%, a R$ 1,807, na máxima do dia.
Pela análise gráfica, as próximas paradas seriam R$ 1,825, R$ 1,844 e R$ 1,881.
O mercado à vista, que encerra negócios mais cedo, mostrou dólar comercial a R$ 1,780 na venda, alta de 2,71%, e maior preço desde julho do ano passado. Na máxima, a cotação tinha ido a R$ 1,80, ganho de 3,87%.
Como ficou esse hiato de preço em função dos diferentes horários de fechamento é grande a chance de o dólar comercial começar o pregão de terça-feira acima de R$ 1,80.
Mas mesas, os operadores viram firme "stop loss" de vendido, ou seja, o agente que vinha "apostando" no real chegou ao seu limite de perda e foi obrigado a virar a mão para a compra de moeda americana.
Também foi verificada presença de novos compradores de contratos futuros de dólar, seja para proteção (hedge) ou para especulação. Algo referendado pelo elevado volume do dia, mais de 500 mil contratos.
Segundo um especialista, boa parte dessa nova demanda por moeda teria sido originada por um fundo estrangeiro que está utilizando o mercado de câmbio local para se proteger da piora de quadro externo.
Tal fundo teria vendido papéis europeus e comprado dólar no mercado local, pois trabalha com novas desvalorizações do real no caso de piora de ambiente internacional.
Pelo comportamento recente do real, por vezes a moeda que mais perde para o dólar entre pares emergentes e de países desenvolvidos, tal estratégia faz algum sentido. Além de representar um hedge pode ser, também, uma boa forma de ganho.
Essa história pode ser referendada ou refutada com os dados que serão apresentados hoje sobre as posições na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).
Olhando as posições na BM&F, mas referentes ao pregão de sexta-feira, descobrimos que o maior estoque de posição comprada em dólar futuro não está com bancos ou estrangeiro, costumeiramente os maiores agentes nesse mercado.
Quem desponta como maior tomador de dólar futuro são as empresas (pessoa jurídica não financeira), com US$ 2,365 bilhões. Esses agentes tinham aberto o mês de setembro com estoque comprado de apenas US$ 210 milhões.
Esses números dão respaldo à percepção de alguns participantes de mercado de que esse "stop" promovido pela alta do dólar não é exclusivo de agentes financeiros.
A alta teria arrastado, também, algumas empresas. Só não se sabe se esses agentes não financeiros estão comprando dólar de forma preventiva ou para cobrir perdas já incorridas.
Ainda na BM&F, os estrangeiros estavam comprados em US$ 2,303 bilhões em dólar futuro, mas seguiam vendidos em US$ 13,491 bilhões em cupom cambial (DDI - juro em dólar). Disso resultava exposição líquida vendida em US$ 11,187 bilhões.
Já os bancos estavam vendidos em dólar futuro em US$ 4,370 bilhões, porém comprados em cupom cambial em US$ 7,0 bilhões. Com isso, seu estoque líquido ainda era comprado em US$ 2,634 bilhões.
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