Não vou entrar na discussão sobre se a decisão do Copom em reduzir os juros foi certa.
Tampouco vou explicitar minha opinião sobre se a decisão representou uma perda de autonomia do nosso BCB em relação ao Executivo (Presidência e Ministério da Fazenda).
Vou apenas lembrar que a discussão sobre autonomia não deve se restringir a autonomia em relação ao Executivo, devendo ser trazido ao debate também a autonomia em relação aos Mercados, senão a discussão fica "manca".
Para ajudar no debate, copio abaixo um trecho do capítulo sobre Autonomia de Bancos Centrais, parte da Apostila “Moeda, Sistema Financeiro e Banco Central – Uma Abordagem Prática e Teórica sobre o Funcionamento de uma Autoridade Monetária no Mundo e no Brasil” (ESTRELA, M.A.; ROSEK, R.J.; ORSI, R.V.; SCHNEIDER, V.M.), utilizada na segunda etapa do Programa de Capacitação de Analistas do BCB (2ª Etapa do Concurso).
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(...)
10.2.8 Independência em relação aos mercados
Segundo Blinder (1999), raramente é discutida a independência dos bancos centrais em relação aos mercados financeiros o que, embora um tanto inatingível, é desejável, pois a política monetária funciona por meio dos mercados. Por isso, a percepção das reações prováveis dos mercados é relevante para a formulação de políticas econômicas e as reações do nível de atividade são relevantes para avaliar o timing e a magnitude dos efeitos da política monetária.
Blinder (1999) argumenta que os dirigentes de bancos centrais podem ficar tentados a “seguir os mercados”, ou seja, produzir seqüência de taxas de juros que os mercados embutiram nos preços dos ativos. Os mercados fornecem feedback que monitora e avalia publicamente o desempenho do banco central em tempo real. Por isso os dirigentes de bancos centrais naturalmente recorrem aos mercados para obter avaliação instantânea, de forma que seguir apenas a sinalização dos mercados pode ser uma boa maneira de evitar surpresas financeiras perturbadoras, o que é um fim legítimo, mas isso pode causar política monetária fraca, por várias razões:
i) os mercados especulativos tendem a “andar em manadas” e ter reações exageradas. Os dirigentes de bancos centrais precisam ser cautelosos e prudentes;
ii) os mercados financeiros são extremamente suscetíveis a modas e bolhas especulativas, que às vezes se distanciam muito do que é fundamental. Os dirigentes de bancos centrais precisam estar imunes contra caprichos e manter os olhos no que é fundamental;
iii) os operadores dos mercados financeiros, mesmo os de instrumentos de longo prazo, freqüentemente comportam-se como se tivessem uma visão “grotescamente míope”, enquanto que manter um horizonte de longo prazo é a essência das atividades corretas dos bancos centrais.(...)
Marcio Antonio Estrela
BLINDER, ALAN S. Bancos centrais: teoria e prática. São Paulo. Editora 34. 1999.
BLINDER, ALAN S. 2000. “Central-Bank Credibility: Why Do We Care? How Do We Build It?” American Economic Review, 90 (5, December): 1421-1431.
BLINDER, ALAN S. 2004. The Quiet Revolution: Central Banking Goes Modern. New Haven, CT: Yale University Press.
BLINDER, ALAN S. 2006. “Monetary policy today: sixteen questions and about twelve answers.” In Central banks in the 21st century, ed. Santiago Fernández de Lis and Fernando Restoy, 31-71. Madrid, Spain: Banco de España.
BLINDER, ALAN S. 2008. “Two Bubbles, Two Paths.” The New York Times, June 15. http://www.nytimes.com/2008/06/15/business/15view.html.
BLINDER, ALAN S., and RICARDO REIS. 2005. “Understanding the Greenspan standard.” In The Greenspan Era: Lessons for the Future (proceedings of the 2005 Jackson Hole conference), 11–96. Kansas City, MO: Federal Reserve Bank of Kansas City.
BLINDER, ALAN S. How Central Should the Central Bank Be? Princeton University. CEPS Working Paper No. 198. January 2010
Tampouco vou explicitar minha opinião sobre se a decisão representou uma perda de autonomia do nosso BCB em relação ao Executivo (Presidência e Ministério da Fazenda).
Vou apenas lembrar que a discussão sobre autonomia não deve se restringir a autonomia em relação ao Executivo, devendo ser trazido ao debate também a autonomia em relação aos Mercados, senão a discussão fica "manca".
Para ajudar no debate, copio abaixo um trecho do capítulo sobre Autonomia de Bancos Centrais, parte da Apostila “Moeda, Sistema Financeiro e Banco Central – Uma Abordagem Prática e Teórica sobre o Funcionamento de uma Autoridade Monetária no Mundo e no Brasil” (ESTRELA, M.A.; ROSEK, R.J.; ORSI, R.V.; SCHNEIDER, V.M.), utilizada na segunda etapa do Programa de Capacitação de Analistas do BCB (2ª Etapa do Concurso).
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10.2.8 Independência em relação aos mercados
Segundo Blinder (1999), raramente é discutida a independência dos bancos centrais em relação aos mercados financeiros o que, embora um tanto inatingível, é desejável, pois a política monetária funciona por meio dos mercados. Por isso, a percepção das reações prováveis dos mercados é relevante para a formulação de políticas econômicas e as reações do nível de atividade são relevantes para avaliar o timing e a magnitude dos efeitos da política monetária.
Blinder (1999) argumenta que os dirigentes de bancos centrais podem ficar tentados a “seguir os mercados”, ou seja, produzir seqüência de taxas de juros que os mercados embutiram nos preços dos ativos. Os mercados fornecem feedback que monitora e avalia publicamente o desempenho do banco central em tempo real. Por isso os dirigentes de bancos centrais naturalmente recorrem aos mercados para obter avaliação instantânea, de forma que seguir apenas a sinalização dos mercados pode ser uma boa maneira de evitar surpresas financeiras perturbadoras, o que é um fim legítimo, mas isso pode causar política monetária fraca, por várias razões:
i) os mercados especulativos tendem a “andar em manadas” e ter reações exageradas. Os dirigentes de bancos centrais precisam ser cautelosos e prudentes;
ii) os mercados financeiros são extremamente suscetíveis a modas e bolhas especulativas, que às vezes se distanciam muito do que é fundamental. Os dirigentes de bancos centrais precisam estar imunes contra caprichos e manter os olhos no que é fundamental;
iii) os operadores dos mercados financeiros, mesmo os de instrumentos de longo prazo, freqüentemente comportam-se como se tivessem uma visão “grotescamente míope”, enquanto que manter um horizonte de longo prazo é a essência das atividades corretas dos bancos centrais.(...)
Marcio Antonio Estrela
BLINDER, ALAN S. Bancos centrais: teoria e prática. São Paulo. Editora 34. 1999.
BLINDER, ALAN S. 2000. “Central-Bank Credibility: Why Do We Care? How Do We Build It?” American Economic Review, 90 (5, December): 1421-1431.
BLINDER, ALAN S. 2004. The Quiet Revolution: Central Banking Goes Modern. New Haven, CT: Yale University Press.
BLINDER, ALAN S. 2006. “Monetary policy today: sixteen questions and about twelve answers.” In Central banks in the 21st century, ed. Santiago Fernández de Lis and Fernando Restoy, 31-71. Madrid, Spain: Banco de España.
BLINDER, ALAN S. 2008. “Two Bubbles, Two Paths.” The New York Times, June 15. http://www.nytimes.com/2008/06/15/business/15view.html.
BLINDER, ALAN S., and RICARDO REIS. 2005. “Understanding the Greenspan standard.” In The Greenspan Era: Lessons for the Future (proceedings of the 2005 Jackson Hole conference), 11–96. Kansas City, MO: Federal Reserve Bank of Kansas City.
BLINDER, ALAN S. How Central Should the Central Bank Be? Princeton University. CEPS Working Paper No. 198. January 2010
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