sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Federal Reserve de mãos atadas


Por Jon Hilsenrath | The Wall Street Journal

A péssima reação do mercado à medida mais recente do banco central americano, o Federal Reserve (Fed), para estimular a economia levou alguns comentaristas a argumentar que a autoridade monetária dos Estados Unidos não tem mais remédios para tratar seu paciente enfermo.

Não espere, porém, que o presidente do Fed, Ben Bernanke, veja as coisas dessa maneira.

Desde que deu sermão em autoridades japonesas, no fim dos anos 1990 e início de 2000, sobre como eles deveriam lidar com seus problemas econômicos, Bernanke já deixou claro qual é a sua visão sobre economias pós-bolha: continue experimentando enquanto a economia está tropeçando e a inflação, quieta.

Quarta-feira, o Fed avisou que vai reformar sua carteira de investimentos para fazer pressão de baixa sobre os juros de longo prazo. As taxas caíram, o que poderia liberar um pouco mais de consumo e investimentos. Mas as decisões do banco central e sua avaliação pessimista da economia chacoalharam as bolsas.

Outras opções foram discutidas. Entre elas, as autoridades estão debatendo se o Fed pode mudar sua estratégia de comunicação para ser mais transparente sobre o que seria necessário para obrigá-lo a aumentar os juros. Mais clareza poderia servir para coibir temores que ainda persistam nos mercados financeiros de que ele pode apertar a política monetária prematuramente.

O Fed também poderia comprar mais títulos de investimento, reduzir o juro de 0,25% que paga aos bancos pelo dinheiro que eles mantêm em seus cofres, ou considerar outras medidas não convencionais.

Num artigo de 2000, Bernanke citou Franklin Delano Roosevelt, o presidente americano entre 1933 e 1945, e sua "capacidade de ser agressivo e experimentar - em suma, fazer o que fosse preciso para colocar o país de volta nos trilhos, apesar de que algumas dessas políticas terem fracassado.

"Ele quer sentir que fez tudo que podia", avalia Mark Gertler, professor da Universidade de Nova York que já foi coautor de vários artigos com Bernanke antes de ele ir para o Fed.

Para o principal economista internacional do Citigroup, Nathan Sheets, depois de tomar medidas não convencionais em agosto e setembro, o Fed daria uma pausa para analisar os resultados. Sheets se aposentou este ano do cargo de diretor do grupo de assuntos internacionais do Fed. "Eu não esperaria que na reunião de novembro o Fed anuncie algum pacote adicional", disse ele.

Sheets acredita que a lição que Bernanke aprendeu com o Japão é que ele não pode ser tímido em seus esforços para ressuscitar a economia. Como o Fed é incumbido pelo Congresso de buscar tanto um desemprego baixo quanto uma inflação baixa, Bernanke e outros diretores tendem a se sentir legalmente obrigados a continuar tentando reanimar a economia, avalia.

Políticos do Partido Republicano, de oposição, estão pressionando o Fed a parar. No exemplo mais recente, o presidente da Câmara dos Deputados, o republicano John Boehner, disse ontem que o banco central americano está permitindo uma política fiscal ruim. O governador do Texas e candidato à presidência, Rick Perry, descreveu as medidas de estímulo do Fed como "quase traição".

Política à parte, ainda há dúvidas difíceis sobre o que o Fed ainda pode fazer quando sua principal ferramenta para impulsionar a economia - os baixos juros de curto prazo - já está a todo vapor há três anos, com a taxa de curto prazo praticamente zero.

No caminho do Fed estão possíveis problemas estruturais no mercado de trabalho, um sistema financeiro danificado pela crise que impede que o crédito chegue às famílias, e uma falta de confiança entre famílias e empresas.

Algumas autoridades do Fed estão convencidas de que não há muito mais que o banco central possa fazer para ajudar nessa frente. Embora controle o suprimento de dinheiro, o Fed não controla o espírito animal dos investidores.

Outra dúvida no Fed é se o comportamento da inflação justifica mais medidas. Nos EUA, onde a preocupação é com a queda de preços, a inflação aumentou este ano e alguns observadores acreditam que o banco não deve agir agressivamente a não ser que enxergue indícios mais convincentes de que os preços ao consumidor estão se estabilizando, o que vários diretores esperam que aconteça.

"Vemos uma probabilidade de quase 50% de que o Fed vai tentar mais afrouxamento comprando ativos diretamente", escreveu ontem o economista Michael Hanson, do Merrill Lynch, num relatório para clientes. "Uma medida como essa exigiria uma previsão de cenário ainda pior e pressões deflacionárias maiores, em nossa visão."

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