quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Países ricos impõem condições para real e yuan integrarem cesta do FMI


Por Assis Moreira | De Genebra - Valor 21/09

Enquanto os países que compõem o grupo dos Brics vão discutir amanhã ajuda para a zona do euro, inclusive através do Fundo Monetário Internacional (FMI), nações desenvolvidas colocam condições para a integração do yuan chinês, e que por tabela afetam também o real, na cesta de moedas dos Direitos Especiais de Saque (DES) do fundo.

O Valor apurou que o FMI apresentou duas opções ao G-20 com possíveis cenários para uma nova composição do DES, sem alcançar acordo. A expansão da cesta de moedas tem uma dimensão geopolítica importante. Integrá-la é um sinal do reconhecimento da maior influência na economia internacional.

Criada em 1969, a cesta do DES inclui o dólar, o euro, a libra esterlina e o iene japonês. São divisas amplamente usadas no comércio e nas transações financeiras internacionais, e muito negociadas nos mercados globais de moedas com giro de US$ 4 trilhões por dia.

O DES oferece aos bancos centrais um ativo complementar para suas reservas, com menor volatilidade cambial, pois seu valor é a média de diferentes moedas. Para o FMI, sua moeda virtual poderia ser utilizada também para preços de commodities e emissões de bônus.

Para novas moedas serem elegíveis na composição do DES, o FMI propôs no G-20, primeiro, adaptação do critério de "moeda livremente utilizável" na economia global. Mas países com controle de capital, como China, Índia e Brasil, enfrentariam problemas. Simulações feitas pelo próprio fundo concluíram que provavelmente nenhum candidato poderia ser aceito até 2015.

A segunda opção é substituir o critério de "moeda livremente utilizável" por um novo critério adaptado. Para isso, o FMI sugere o chamado "Reserve Asset Criterion" (RAC), exigindo da nova moeda liquidez nos mercados de câmbio, capacidade de servir como proteção (hedge), disponibilidade de instrumento de alta qualidade de taxas de juros, entre outros.

Essa alternativa, embora "desafiadora", pode ser respeitada por algumas moedas em período de tempo relativamente menor do que 2015, conforme documento ao qual o Valor teve acesso.

Negociadores admitem, porém, que no G-20 não está claro quais moedas poderiam estar nessas condições, por causa das imposições que países desenvolvidos, sobretudo os Estados Unidos, insistem em fazer, como conversibilidade e flexibilidade da moeda e a relativa independência do Banco Central - critérios que visam basicamente a China. O argumento é de que o Banco do Povo da China está longe de ser autônomo, já que as principais decisões sobre câmbio e política monetária são tomadas pela liderança do Partido Comunista.

Mas Pequim se recusa a pagar pedágio e acelerar a valorização de sua moeda, por exemplo. Não tem pressa para internacionalizar sua moeda. Quer ser reconhecida por seu crescente peso na economia mundial, e na necessidade de uma ordem monetária mais representativa.

O Brasil espera aproveitar o vácuo do yuan chinês e incluir o real no DES. Tem argumentado que países europeus, incluindo a Alemanha, tinham controle de capital antes do euro e suas moedas faziam parte da cesta de moedas do FMI.

A posição brasileira é de que a composição da cesta deve refletir a importância relativa das moedas nas transações financeiras e comerciais internacionais. O Banco Internacional de Compensações (BIS) mostra em relatório esta semana que o real é mais utilizado do que se pensa nos derivativos, por exemplo.

Segundo o BIS, em derivativos sobre divisas, as posições em real quase duplicaram no segundo trimestre, passando de 14% para 23% do total global nesse segmento de centenas de bilhões de dólares.

Os ministros de finanças e presidentes de bancos centrais do G-20, representando 80% da produção mundial, discutem todos esses temas esta semana em Washington. Mas uma decisão até o começo de novembro terá um forte componente político, já que na parte técnica não há consenso sobre como ampliar mecanismos de liquidez global.

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