quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Tensão externa leva à saída de US$ 2,3 bi



Valor 29/09
A tensão que levou o dólar a disparar na semana passada não se limitou aos mercados de derivativos cambiais. Dados divulgados ontem pelo Banco Central sugerem que o mercado de compra e venda da moeda estrangeira propriamente dito foi contaminado pelo nervosismo. Conforme o BC, ao longo da semana, US$ 2,319 bilhões saíram liquidamente do país pelo segmento financeiro, por onde cursam as operações de entrada e saída de capitais estrangeiros.

O conjunto de transações cambiais entre bancos e clientes só não gerou saldo tão negativo por causa dos contratos vinculados ao comércio exterior. Incluindo o segmento comercial, o mercado de câmbio como um todo também foi deficitário nesses cinco dias úteis, mas em apenas US$ 431 milhões, pois a diferença entre exportações e importações resultou em ingresso de US$ 1,887 bilhão na semana.

A fuga de divisas pelo segmento financeiro foi mais forte na quinta-feira, 22, quando a demanda por moeda estrangeira superou a oferta em US$ 1,195 bilhão. Foi nesse dia que a cotação do dólar chegou a bater em R$ 1,95 e a desvalorização acumulada pelo real desde o fim de julho passou de 20%. O real perdeu mais valor do que outras moedas porque o estresse com o cenário internacional - revisão para baixo de perspectivas de crescimento mundial, risco de calote grego e de quebra de bancos europeus - foi potencializado pela tributação dos derivativos cambiais com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

O Banco Central se viu, então, obrigado a retomar operações tradicionais de swap cambial, que não eram feitas desde junho de 2009. Equivalente a uma venda de dólar no mercado futuro, a intervenção resultou em recuo da taxa de câmbio.

Na quarta-feira, 21, a autoridade monetária já tinha feito um ajuste na sua política cambial, anunciando que não renovaria as operações de swap reverso com vencimento em outubro. Equivalente a uma compra de dólar no mercado futuro e, portanto, com efeito contrário ao pretendido naquele momento, a rolagem dos contratos de swap reverso só adicionaria mais volatilidade ao preço da moeda americana.

Apesar da saída líquida registrada na semana passada, por causa da primeira metade do mês, o fluxo cambial financeiro acumulado até dia 23 não chegou a ser negativo como o de agosto, que foi deficitário em US$ 2,512 bilhões no total do mês. Nesses primeiros 23 dias de setembro, 17 dos quais úteis, os bancos compraram da clientela US$ 295 milhões a mais do que venderam em função de investimentos, financiamentos e empréstimos de estrangeiros ao país e de brasileiros ao exterior. São consideradas, ainda, no segmento financeiro, as compras e vendas de moeda relativas a transações correntes de serviços e de rendas - pagamentos e recebimentos de juros, lucros e dividendos.

O câmbio contratado em função do comércio exterior gerou ingressos líquidos de US$ 7,789 bilhões no mesmo período. Em 23 dias, portanto, o saldo cambial comercial superou o de agosto inteiro, que foi de US$ 6,667 bilhões.

Nos dias de maior nervosismo da semana passada, porém, houve desaceleração. Na quinta-feira, 22, o fluxo diário foi de apenas US$ 55 milhões, bem menor do que em outros dias do mês. E na sexta, chegou a haver déficit no segmento comercial, de US$ 44 milhões.

Na soma dos dois segmentos, o mercado de câmbio registrou superávit de US$ 8,084 bilhões nesses primeiros 17 dias úteis de setembro. Tal sobra de moeda estrangeira foi praticamente toda encarteirada pelos bancos. Considerada a data de liquidação (dois dias úteis de defasagem para a contratação), eles venderam apenas US$ 327 milhões ao BC no interbancário em setembro, até dia 23, até porque, com o dólar mais caro, a autoridade monetária parou de atuar no mercado à vista como comprador.

Com a retenção da moeda estrangeira que sobrou das operações com clientes, a carteira de câmbio do sistema financeiro, que estava vendida em US$ 6,257 bilhões no fim de agosto, virou. O BC não informou a posição do dia 23, mas já tinha adiantado que no dia 21 a carteira estava comprada em US$ 3,128 bilhões.

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