quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Nos EUA, cresce aposta na "operação Twist"


The Wall Street Journal

Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve, o banco central americano, vem apresentando uma filosofia bem direta no seu trabalho: se suas previsões mostrarem que o desemprego ficará muito acima do normal e que a inflação está caindo abaixo da meta do Fed, então o Fed deve fazer alguma coisa. E se nenhuma das possíveis opções do banco central parece muito potente, numa época de perigo econômico toda pequena ação ajuda.

Por essa razão, o Fed está estudando mais uma manobra inusitada: não imprimir mais dinheiro para comprar mais títulos do Tesouro americano, como fazia antes. Em vez disso, estuda reformular sua carteira de US$ 1,7 trilhão de títulos do Tesouro, a fim de deter menos papéis de dívidas de curto prazo e mais papéis de longo prazo, utilizando a força financeira do Fed para reduzir ainda mais o juro de longo prazo.

Tudo isso está agitando os mercados de renda fixa e os banqueiros. O rendimento da nota de 10 anos do Tesouro, que recentemente caiu abaixo de 2%, sugere que os operadores estão prevendo que o Fed fará essa jogada. Em uma pesquisa do "Wall Street Journal", analistas econômicos disseram que há uma probabilidade de dois em três de que o Fed lance a manobra na semana que vem.

Para a maioria das pessoas, porém, é difícil compreender como reorganizar a carteira do Fed - algo semelhante a "reorganizar as cadeiras no convés [do Titanic]", como disse o analista de Washington Douglas Holtz-Eakin, pode estimular o crescimento.

Um ano atrás, o Fed decidiu imprimir US$ 600 bilhões para comprar títulos, na segunda rodada de flexibilização quantitativa, conhecida como QE2. Isso era fácil de entender: quanto mais dinheiro o Fed injeta na economia, mais combustível existe para o crescimento. Só que não é assim que a maioria dos diretores do Fed vê a situação. Afinal, o Fed injetou dinheiro nos bancos e estes prontamente o depositaram de volta no Fed, em vez de emprestá-lo aos clientes.

Em vez disso, o Fed supõe que o QE2 funcionou, em grande parte, ao tirar do mercado uma grande quantidade de títulos de dívida do Tesouro de dois a sete anos, obrigando os investidores a procurarem outros ativos: títulos do Tesouro de longo prazo (reduzindo o rendimento e barateando o empréstimo para as empresas e para a aquisição de moradias), ações da Bolsa (fazendo com que todos se sentissem mais ricos e gastassem mais), e assim por diante. Outro efeito foi reduzir o valor do dólar frente a outras moedas, mas essa é outra história.

Economistas do Fed calculam que o QE2 cortou cerca de dois décimos de um ponto percentual das taxas de longo prazo, usadas para hipotecas e empréstimos corporativos.

Hoje o Fed detém mais de US$ 500 bilhões em títulos do Tesouro a vencer em menos de três anos, e menos de US$ 200 bilhões em títulos do Tesouro a vencer em menos de 10 anos. Se ele vender, digamos, US$ 300 bilhões de dívidas de curto prazo para comprar papéis de prazo mais longo, diz o raciocínio, poderia reduzir o juro do longo prazo em cerca de dois décimos de ponto percentual em relação a onde estaria normalmente.

Isso reflete uma tentativa de 1961 feita pelo governo do então presidente John F. Kennedy para manter as taxas de curto prazo estáveis ou em crescimento (para ajudar o dólar), e ao mesmo tempo reduzir as taxas de longo prazo (para ajudar a economia). Essa manobra foi conhecida como "Operação Twist", nome de um popular passo de dança da época. (Finalmente, uma história de política monetária com trilha sonora.)

Em 2004, Bernanke e os executivos do Fed Vincent Reinhart (agora no Morgan Stanley) e Brian Sack (agora chefiando a mesa de mercado do Fed regional de Nova York) escreveram: "A Operação Twist é amplamente considerada um fracasso". Eles observaram que Franco Modigliani, laureado com o Prêmio Nobel, descreveu o impacto da medida como "moderado, na melhor das hipóteses", avaliando que ela cortou as taxas de longo prazo em 0,1 ou 0,2 ponto percentual. Mas os tempos mudaram. Uma recente reavaliação feita por um economista do Fed de San Francisco é citada como prova de que a "Operação Twist" foi um sucesso, embora também tenha concluído que as taxas de juros caíram apenas 0,15 ponto percentual.

Qualquer iniciativa por parte do Fed para tirar os títulos de longo prazo das mãos dos investidores (reduzindo o rendimento) teria seu efeito diluído se o Tesouro vender uma quantidade maior desses títulos. "O Fed teria que se coordenar com o Tesouro", escreveu Bernanke em 2004, "para garantir que a política de emissões de títulos do Tesouro não acabe anulando as ações do Fed".

Ultimamente, o Tesouro tem vendido mais títulos de longo prazo, raciocinando que os contribuintes se beneficiam com a fixação de taxas historicamente baixas, e reduzindo os riscos de que os Estados Unidos possam ter dificuldade para rolar as dívidas de curto prazo em algum momento no futuro. O prazo médio de maturidade dos papéis do Tesouro se alongou para 62 meses, acima da média de 30 anos. Os consultores do Tesouro para mercados de títulos desejam alongá-lo ainda mais.

O Fed e o Tesouro estão conversando, mas cada um diz que tem seu próprio trabalho a fazer. " O Fed teme que [os EUA] possam se transformar no Japão, enquanto o Tesouro quer garantir que não vamos nos transformar na Grécia", escreveu a firma de pesquisas Wrightson ICAP. Um resultado possível: o Tesouro vai parar de alongar a maturidade da dívida, mas, ao contrário do ocorrido na década de 1960, não vinculará explicitamente a decisão a qualquer coisa que o Fed esteja fazendo.

A Operação Twist 2.0 não vai, por si só, rejuvenescer a economia. Se combinada a outras medidas, ela poderia ajudar, especialmente se renovar a confiança do público e das empresas. Mas - perdoe-me - há um porém. A iniciativa é atraente para o Fed como solução de meio-termo, pois alguns executivos estão em dúvida quanto a lançar o QE3 - ou seja, imprimir mais dinheiro e expandir a carteira do Fed. Mas se reorganizar em vez de expandir essa carteira parecer irrelevante para o público, seu impacto sobre a economia poderia ser limitado.

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