quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Até quando vai a arrancada do dólar?


Por Eduardo Campos - Valor 22/09

Mas esse dólar não vai parar de subir? Certamente essa é a pergunta que todos estão se fazendo depois que o preço da moeda americana disparou 21,34% desde a mínima de R$ 1,537 observada em 26 de julho, e retomou a linha de R$ 1,86.

A resposta mais óbvia é: "vai parar sim, só não se sabe quando". Outra questão que surge é: qual será o rastro de destruição que essa arrancada de preço vai deixar para trás?

Elaborando melhor a resposta, o quadro para o dólar, por ora, tem muito para piorar e pouco para melhorar.

Pelo lado externo, o "default" da Grécia é cada vez mais uma questão de "quando" vai acontecer e não de "se" vai acontecer.

Por mais que o mercado antecipe tal evento e se proteja, há um efeito "psicológico" no dia que o "default" piscar nos monitores de operação.

No front doméstico, as recentes manifestações do governo são de que a política de corte de juros segue em marcha mesmo com dólar em alta e não há aceno quanto a uma revisão das medidas cambiais adotadas desde o fim do ano passado.

Notadamente aquela que cobra 1% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre a ampliação de posição vendida no mercado de derivativos.

Ontem, o dólar comercial teve um dos piores dias desde a crise de 2008. O preço da moeda subiu 4,24%, para fechar a R$ 1,865, maior cotação desde o começo de junho passado. Na máxima foi a R$ 1,872.

E para entender isso temos de olhar para o mercado futuro, onde o dia foi ainda mais dramático. O contrato para outubro chegou a subir mais de 6% e quase atingiu o limite máximo de oscilação diária. Nesse momento, o preço foi a R$ 1,902. Mas alguns vendedores apareceram e o ganho do dia se limitou a 4,85%, para R$ 1,879, antes do ajuste final de posições.

Pela análise gráfica, os estudos sugerem que os próximos objetivos de alta são o R$ 1,902 (máxima de ontem), R$ 1,920, R$ 1,961 e R$ 2,0. Na baixa, o primeiro suporte fica em R$ 1,820.

É de notório saber que o câmbio em terras brasileiras é determinado pelo mercado futuro. O exato oposto do observado no restante do mundo. Onde as jabuticabas não nascem, é o ativo principal que dá o preço do ativo objeto e não o contrário.

Portanto é do mercado futuro que vem essa movimentação toda. Não se pode falar em "fuga de recursos" do país com um saldo cambial positivo em US$ 8,5 bilhões até 16 de setembro. O mais preciosista pode apontar que entre os dias 12 e 16 vimos uma saída financeira de US$ 1,2 bilhão. Ok. Mas isso mal representa 50% do giro médio diário do interbancário, que aliás não tem chegado aos US$ 2 bilhões. Ontem, por exemplo, foi de US$ 1,4 bilhão. Então, esse volume de dólar não explica uma alta de 17% no mês.

Essa visão também é compartilhada por membro graduado da equipe econômica.

"Há uma desalavancagem da posição vendida no mercado futuro que chegou a US$ 24,6 bilhões. Chegou-se a um consenso lá [no mercado futuro] que o real mudou de tendência", diz essa fonte. "E esse movimento no futuro transborda e pressiona a taxa à vista."

Também por essa mesma razão, esse especialista do governo acredita que o movimento tem caráter pontual.

Assim que as coisas se acalmarem no mercado futuro, o real tende a ganhar um pouco de força.

Ainda de acordo com essa fonte, algo semelhante não acontece no mercado à vista, pois as ações do Banco Central (BC) de cobrar compulsório sobre posição vendida levaram a uma gradual redução dessas posições em câmbio físico.

De fato, os bancos estão comprados em quase US$ 2 bilhões.

Outro fato intrigante no mercado é por que o dólar sobe 1% lá fora, no máximo 2% contra uma moeda parecida com o real, e por aqui vemos saltos de até 6% no preço?

O vice-presidente de tesouraria do banco WestLB, Ures Folchini, aponta que isso não deveria espantar. Isso é reflexo das medidas tomadas pelo governo, particularmente da decisão de taxar a posição vendida no mercado de derivativos.

"Temos um mercado artificialmente desequilibrado na ponta de venda. Por isso, enquanto o dólar sobe 1 lá fora, ganha mais de 3 aqui dentro", explica o especialista.

Ainda de acordo com Folchini, a existência desse impedimento à venda faz com que o ponto de equilíbrio de preço seja colocado mais para cima.

Colocando de outra forma, o preço que chamaria a venda de dólar tem de ser mais alto em função dessa tributação à posição vendida.

Eduardo Campos é repórter

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