segunda-feira, 19 de setembro de 2011

E para os sem-banco, nada?


Clóvis Rossi – Folha de São Paulo, 16/09/2011


E vieram os grandes bancos centrais do planeta como o sétimo de cavalaria para salvar --de novo-- a banca. Para ela, prometem recursos "ilimitados". Quem é que não sonhou, pelo menos uma vez, em fracassar na vida e mesmo assim ver mantida a mesada "ilimitada" de papai?

Nada contra o pacote dos BCs. Não cheguei ainda a ser tão anarquista a ponto de torcer para que os bancos quebrem. Sei que, se quebrarem, penaremos muito mais os mortais comuns que os "senhores do universo" como são banqueiros e assemelhados. É só lembrar a crise de 2008/09: provocou a perda de emprego para 30 milhões de pessoas no mundo todo. Nenhuma delas era banqueiro ou assemelhado.

Ao contrário: continuaram recebendo salários e bônus obscenos.

É sempre bom lembrar que, antes da decisão dos BCs na quinta-feira de socorrer a banca, os governos haviam despejado quantidades igualmente "ilimitadas" de recursos (os meus, os seus, os nossos recursos) no auxílio ao sistema financeiro na crise de 2008/09. O total exato nunca se soube, mas há quem fale em pelo menos US$ 4,5 trilhões, o que dá uns dois "Brasis".

Nem com essa montanha de dinheiro, a banca conseguiu restabelecer sua plena saúde, de que dá prova a necessidade de os bancos centrais voltarem a estender uma rede de proteção.

O problema desse socorro não está nele em si, mas no fato de que os governos não mostram idêntica disposição ou sabedoria para atacar os problemas de fundo dos mortais comuns.

Qual é o problema? Vejamos um breve resumo nas palavras de Christine Lagarde, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, que não chega a ser uma instituição de esquerda ou próxima do anarquismo.

"O alto desemprego, perene, sobretudo entre os jovens; a austeridade fiscal que erode as proteções sociais; a sensação de injustiça e de que os mercados têm prioridade sobre a economia real [...], alimentam crise de confiança", disse Lagarde na quinta-feira.

Luciana Coelho, a notável correspondente da Folha em Washington, pôs dados concretos na questão do desemprego. Reproduzo:

"Desde o estouro da crise, há exatos três anos, o desemprego paira em 9% nos EUA (fechou agosto a 9,1%) e em 10% na União Europeia --na Espanha, chega a 20%.

A situação é mais grave para os jovens, entre os quais os índices duplicam e a tendência é de alta.

Nos EUA, 1 em cada 4 pessoas de 16 a 19 anos que entrou (ou quer entrar) no mercado de trabalho está sem emprego. Já na UE, o desemprego está em 20,7% para quem tem até 25 anos --a Espanha tem o quadro mais grave, com quase metade dos jovens (46,2%) parada".

Pois é. Só mesmo por má fé ou incompetência alguém pode imaginar que os pacotes de austeridade que se tornaram moeda corrente na Europa sirvam para reduzir o desemprego e o empobrecimento dos sem-banco. É só visitar o caso da Grécia: nos três anos de austeridade, o desemprego subiu de 7% para os atuais 16,1%, o segundo mais alto da Europa, após Espanha, e o próprio ministro de Economia avisa que não é para esperar o fim da recessão antes de que termine 2012.

Depois ainda há quem acuse de vandalismo os "indignados" da Espanha, da Grécia, de Portugal e por aí vai.

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