sexta-feira, 2 de setembro de 2011

'Credibilidade do BC está em xeque'



Para o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, 'a grande dúvida saber se a instituição tem autonomia na política monetária'

Estadão 02/09
O ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola afirmou ontem que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de baixar os juros de 12,50% ao ano para 12% foi "equivocada" e mostrou certa imprudência do colegiado do BC.

"A grande dúvida hoje é saber se o Banco Central tem autonomia na política monetária", comentou, referindo-se a eventual capitulação do Copom a pressões políticas vindas do Palácio do Planalto e do Ministério da Fazenda para que fosse iniciado imediatamente um ciclo de redução da Selic. "A credibilidade do BC está em xeque", apontou.

Para Loyola, o sistema de metas de inflação puro, que persegue um objetivo central, aparentemente está abalado. "Ninguém sabe mais qual é a meta de inflação, se é 4,5% ou mais", afirmou. Segundo ele, a Tendências Consultoria Integrada, da qual é sócio, prevê que o IPCA chegará a 6,6% este ano e a 5,4% em 2012, mas com a redução inesperada dos juros ele acredita que certamente a taxa subirá. "A inflação pode agora chegar a 6% em 2012", apontou.

Na avaliação de Loyola, o presidente do BC, Alexandre Tombini, tem uma visão privilegiada sobre o cenário de crise internacional, até porque participou do encontro de presidentes de BCs realizado na semana passada em Jackson Hole, EUA. Contudo, ele ponderou que seria mais adequado que a autoridade monetária brasileira tivesse utilizado mecanismos de comunicação para informar aos agentes econômicos que uma recessão mundial é inevitável no curto prazo. "O BC não convenceu. Não há evidências de que o mundo vai entrar em recessão tão rapidamente. Além disso, a inflação está acima da meta e as expectativas para o próximo ano apontam que ela também está distante dos 4,5%", comentou Loyola

Também crítico, o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman afirmou que a decisão tomada pelo Copom foi "errada" e deve fazer com que a curva de juros futuros fique "empinada" nos próximos dias. "A credibilidade foi arranhada", comentou. "O BC terá problemas para coordenar expectativas de inflação de agora em diante", disse, destacando o curto prazo.

Segundo Schwartsman, as projeções de agentes econômicos para o índice de inflação devem subir nos próximos dias.

Antes da reunião do BC, ele calculava que o IPCA subiria 5,3% em 2012, com a taxa de juros entre 12,50% e 12,75% até o fim do próximo ano. Mas agora, com este "impulso monetário" que poderá ficar abaixo de dois pontos porcentuais, ele estima que o índice deve ficar entre 5,5% e 6% em 2012. Para Schwartsman, a queda dos juros adotada pelo BC baseia-se num cenário de "colapso" externo, com uma recessão mundial tão forte ou maior do que a de 2008. Na avaliação dele, não há evidências objetivas de dados econômicos que indiquem que a economia global vai entrar num período de retração tão vigoroso no curto prazo.

Um comentário:

  1. Loyola, o juiz da credibilidade do BC

    http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/loyola-o-juiz-da-credibilidade-do-bc

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