segunda-feira, 12 de setembro de 2011

BCs também precisam de autonomia em relação ao Mercado, não apenas em relação ao Executivo!



Não vou entrar na discussão sobre se a decisão do Copom em reduzir os juros foi certa.


Tampouco vou explicitar minha opinião sobre se a decisão representou uma perda de autonomia do nosso BCB em relação ao Executivo (Presidência e Ministério da Fazenda).


Vou apenas lembrar que a discussão sobre autonomia não deve se restringir a autonomia em relação ao Executivo, devendo ser trazido ao debate também a autonomia em relação aos Mercados, senão a discussão fica "manca".


Para ajudar no debate, copio abaixo um trecho do capítulo sobre Autonomia de Bancos Centrais, parte da Apostila “Moeda, Sistema Financeiro e Banco Central – Uma Abordagem Prática e Teórica sobre o Funcionamento de uma Autoridade Monetária no Mundo e no Brasil” (ESTRELA, M.A.; ROSEK, R.J.; ORSI, R.V.; SCHNEIDER, V.M.), utilizada na segunda etapa do Programa de Capacitação de Analistas do BCB (2ª Etapa do Concurso).


-----------------------------------------------------
(...)
10.2.8 Independência em relação aos mercados
Segundo Blinder (1999), raramente é discutida a independência dos bancos centrais em relação aos mercados financeiros o que, embora um tanto inatingível, é desejável, pois a política monetária funciona por meio dos mercados. Por isso, a percepção das reações prováveis dos mercados é relevante para a formulação de políticas econômicas e as reações do nível de atividade são relevantes para avaliar o timing e a magnitude dos efeitos da política monetária.


Blinder (1999) argumenta que os dirigentes de bancos centrais podem ficar tentados a “seguir os mercados”, ou seja, produzir seqüência de taxas de juros que os mercados embutiram nos preços dos ativos. Os mercados fornecem feedback que monitora e avalia publicamente o desempenho do banco central em tempo real. Por isso os dirigentes de bancos centrais naturalmente recorrem aos mercados para obter avaliação instantânea, de forma que seguir apenas a sinalização dos mercados pode ser uma boa maneira de evitar surpresas financeiras perturbadoras, o que é um fim legítimo, mas isso pode causar política monetária fraca, por várias razões:


i) os mercados especulativos tendem a “andar em manadas” e ter reações exageradas. Os dirigentes de bancos centrais precisam ser cautelosos e prudentes;


ii) os mercados financeiros são extremamente suscetíveis a modas e bolhas especulativas, que às vezes se distanciam muito do que é fundamental. Os dirigentes de bancos centrais precisam estar imunes contra caprichos e manter os olhos no que é fundamental;


iii) os operadores dos mercados financeiros, mesmo os de instrumentos de longo prazo, freqüentemente comportam-se como se tivessem uma visão “grotescamente míope”, enquanto que manter um horizonte de longo prazo é a essência das atividades corretas dos bancos centrais.(...)


Marcio Antonio Estrela


BLINDER, ALAN S. Bancos centrais: teoria e prática. São Paulo. Editora 34. 1999.
BLINDER, ALAN S. 2000. “Central-Bank Credibility: Why Do We Care? How Do We Build It?” American Economic Review, 90 (5, December): 1421-1431.
BLINDER, ALAN S. 2004. The Quiet Revolution: Central Banking Goes Modern. New Haven, CT: Yale University Press.
BLINDER, ALAN S. 2006. “Monetary policy today: sixteen questions and about twelve answers.” In Central banks in the 21st century, ed. Santiago Fernández de Lis and Fernando Restoy, 31-71. Madrid, Spain: Banco de España.
BLINDER, ALAN S. 2008. “Two Bubbles, Two Paths.” The New York Times, June 15. http://www.nytimes.com/2008/06/15/business/15view.html.
BLINDER, ALAN S., and RICARDO REIS. 2005. “Understanding the Greenspan standard.” In The Greenspan Era: Lessons for the Future (proceedings of the 2005 Jackson Hole conference), 11–96. Kansas City, MO: Federal Reserve Bank of Kansas City.
BLINDER, ALAN S. How Central Should the Central Bank Be? Princeton University. CEPS Working Paper No. 198. January 2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário