quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Solução para a Europa vai chegar a tempo?
Por David Wessel | The Wall Street Journal
Será que os líderes europeus vão hesitar, tropeçar, distorcer a realidade e ignorar o perigo iminente ao ponto de prejudicar a economia mundial ainda mais que os Estados Unidos em 2008?
Ninguém no comando da Europa tem a intenção de fazer isso. Mas quando assistimos às suas conferências agora frequentes - em que sempre prometem chegar mais perto da solução que na reunião anterior - surge uma preocupação crescente de que a Europa não fará o que é preciso a tempo.
Os alarmes têm soado cada vez mais altos nos últimos dias. O ministro das Relações Exteriores da Polônia declarou em Berlim que "temo menos o poder alemão do que começo a temer a inação alemã". O presidente do banco central do Japão alertou para um "ciclo vicioso" em que a falta de confiança nos governos europeus "aumentou os temores de instabilidade no sistema financeiro, o que por sua vez começou a afetar a atividade econômica" em lugares tão distantes quanto a Ásia.
A vice-presidente do Federal Reserve, o banco central americano, disse que "aumentaram significativamente os riscos de crise na economia mundial", principalmente devido à "intensificação do estresse no sistema bancário e nos mercados de dívida soberana da Europa". E o principal economista da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico também já avisou: "Os políticos não estão enxergando como é urgente realizar uma ação decisiva".
Os bancos americanos ficaram em maus lençóis em 2008 e foram resgatados pelo governo. Na Europa, são os governos que estão em apuros, embora os bancos também não estejam em melhor estado, pois aplicaram demais em títulos de dívidas governamentais. Os participantes da ciranda que têm dinheiro - a Alemanha e o Banco Central Europeu - reclamam dos pacotes de resgate, determinados a manter a pressão nos devedores para mudar o modo como agem.
É difícil ter uma perspectiva de acontecimentos que ainda estão se desenrolando. As coisas pareceram péssimas no colapso do Lehman Brothers em 2008. Não sabíamos que o Fed iria resgatar a AIG e os que tinham apostado no seu cassino. Também não sabíamos que o Congresso iria [relutantemente] dar US$ 700 bilhões ao Tesouro para injetar nos bancos, que um novo presidente conseguiria a aprovação de um pacote substancial de estímulo, e que o Fed compraria centenas de bilhões de dólares em Treasuries. Não sabíamos que lá para meados de 2009, a economia dos EUA já estaria crescendo, embora lentamente.
Tudo que sabemos sobre a Europa atualmente é que o realizado até agora foi insuficiente, a maioria dos economistas já coloca a zona do euro em estado de recessão - e há uma conferência amanhã e na sexta-feira.
A Europa em 2011 difere dos EUA em 2008. O Estado americano estava sólido em 2008 e a sobrevivência de sua moeda era inquestionável. A Europa se parece mais com os EUA de 1777 a 1789, época dos Artigos da Confederação, uma negociação cheia de falhas entre a centralização e a descentralização que deu lugar à Constituição e a um governo federal mais forte.
O mundo não pode ficar esperando que os arquitetos desenhem seus planos de uma Europa nova e melhorada. Mark Rutt, o primeiro-ministro da Holanda, me disse esta semana que a Europa pode apagar esse incêndio e impedir o próximo. O economista David Mackie, do J.P. Morgan, questiona isso.
"Os políticos da zona do euro vêm tentando descobrir como sair da crise atual e criar uma estrutura institucional adequada", diz ele. Infelizmente, acrescenta, "a tentativa de alcançar esses objetivos simultaneamente [...] contribuiu para piorar a crise".
A economia mundial agora também está em risco. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, uma coalizão de países ricos sediada em Paris, afirma que sua melhor previsão é que a economia vai "passar de raspão". O crescimento nos EUA vai se desacelerar, o que manterá o desemprego bem acima de 8,25% até o fim de 2013. A recessão na Europa manterá o desemprego da região acima de 10%.
A OCDE delineou esta semana um cenário mais pessimista que pode ocorrer se houver uma moratória "desorientada", ou não-negociada, de um governo da zona do euro. Ela prevê que os juros da dívida da maioria dos governos europeus vão subir ainda mais, investidores e bancos do mundo inteiro terão prejuízos, as bolsas mundiais vão cair e haverá fuga em massa do risco. O que viria depois seria uma recessão mundial, com declínios substanciais nos EUA e no Japão e "uma recessão profunda e prolongada na zona do euro". Os mercados emergentes não ficariam imunes, já que cairiam as exportações e o preço das commodities.
Os bancos europeus - que já enfrentam problemas para tomar dólares emprestados, exigências de reservar mais capital e aplicações em títulos de dívida soberana que podem não valer o que foi contabilizado - estão liquidando ativos e recuando dos mercados emergentes. De maneiras significativas o mundo talvez esteja menos resistente que em 2008.
A China e outros grandes países emergentes estão se desacelerando. Metade das economias dos países ricos tem tanta dívida que não pode arcar com mais uma rodada de estímulo fiscal, afirma a OCDE; em várias outras, há forte resistência política. As autoridades do Fed acreditam que os remédios que ainda podem ministrar não são muito potentes. O Congresso proibiu que o Tesouro faça como 2008 e garanta fundos mútuos do mercado monetário ou permita que a Federal Deposit Insurance Corp., a agência de seguro-depósito do país, cubra passivos bancários que não são depósitos. O Fundo Monetário Internacional não chega nem perto de ter dinheiro suficiente para resgatar a Europa.
As autoridades americanas estavam despreparadas para setembro de 2008 e não acertaram em todas as decisões posteriores. Mas elas reagiram com o que chamam de "força esmagadora", e a economia mundial se beneficiou disso. Agora é a vez da Europa.
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