sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Consumo puxa reação tímida da atividade



Por Sergio Lamucci e Francine De Lorenzo De São Paulo - Valor 09/12

Depois da estagnação no terceiro trimestre, a economia dá sinais tímidos de reação no quarto, concentrados basicamente no consumo. A indústria continua a mostrar fraqueza, ainda sem ter concluído o processo de ajuste de estoques. Estimativas preliminares apontam alguma aceleração da atividade nos últimos três meses do ano, com projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) um pouco inferior a 0,5% sobre os três meses anteriores, feito o ajuste sazonal.

O economista Aurélio Bicalho, do Itaú Unibanco, destaca que há "sinais mistos" nos indicadores conhecidos até agora sobre a atividade econômica no quarto trimestre, com um cenário mais promissor para o varejo. Em novembro, o licenciamento de veículos aumentou 10,5% em relação a outubro, na série livre de influências sazonais calculada pelo Itaú Unibanco. Nas contas da LCA Consultores, a alta foi de 13,9%, considerando automóveis e comerciais leves.


"Isso deve ter levado a um melhor desempenho das vendas do varejo ampliado [que inclui veículos, autopeças e material de construção] em novembro", diz Bicalho. No índice de atividade do comércio da Serasa Experian, as vendas de veículos, motos e peças avançaram no mês passado 4,5% sobre outubro, contribuindo para a alta de 1,5% do indicador geral.

A economista Silvia Matos, da Fundação Getulio Vargas (FGV), aposta numa recuperação do consumo com base nos números da Serasa. Segundo ela, o levantamento, reponderado pelos pesos da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), aponta crescimento de 1,8% em novembro nas vendas do varejo. "Ainda há riscos, mas estou otimista devido aos dados da Serasa."

O assessor econômico da Serasa Experian, Carlos Henrique de Almeida, acredita que a reação do comércio em novembro se deveu em parte à expectativa de recebimento da primeira parcela do 13º salário. Para ele, tudo indica que o pior para a atividade ficou para trás, no terceiro trimestre. Em dezembro, as vendas de eletrodomésticos da linha branca podem ter alta mais forte, em função da desoneração tributária anunciada pelo governo na semana passada, mas nada muito expressivo, avalia Almeida. Segundo ele, o efeito da queda da Selic e do relaxamento das medidas de restrição ao crédito produzirão efeitos em 2012.

Outro sinal razoavelmente positivo veio do Índice Gerente de Compras (PMI, na sigla em inglês) de Serviços do HSBC. Em novembro, ficou em 52,6 pontos, na série com ajuste sazonal, um pouco abaixo dos 53,6 pontos de outubro, mas ainda acima de 50, o que caracteriza expansão da atividade.

"Embora esteja pouco acima da linha que separa expansão da contração, continua um resultado positivo", diz o economista-chefe da LCA, Bráulio Borges. Como Bicalho e Silvia, ele espera um crescimento do PIB no quarto trimestre de 0,4% em relação ao terceiro. "Embora fraco, mostra que a economia não está afundando. Esperamos que a economia acelere ao longo de 2012."

Se as perspectivas para o consumo são razoáveis, o quadro para a indústria no quarto trimestre é bem menos positivo. Bicalho lembra que a produção industrial de outubro caiu 0,6% em relação a setembro, na série livre de influências sazonais. Em novembro, o índice do HSBC para a indústria ficou em 48,7 pontos, pelo sexto mês seguido abaixo de 50, o que aponta retração da atividade. A produção de veículos caiu 0,2% sobre outubro, segundo ajuste sazonal de Bicalho, ainda uma queda, embora bem menor que o tombo de 8,6% do mês anterior.

O fluxo de veículos pesados nas rodovias, por sua vez, cresceu 0,7% em novembro em relação a outubro, interrompendo uma sequência de três meses de queda na série dessazonalizada. Elaborado pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) e pela Tendências Consultoria, o dado integra o Índice ABCR, que será divulgado hoje. Segundo Juan Jensen, da Tendências, é um indicativo de que o pior momento da economia está ficando para trás.

"A princípio, podemos ter uma produção industrial marginalmente positiva para novembro. Não vai resolver o problema da indústria e não necessariamente os indicadores entrarão em trajetória de crescimento, mas é um sinal que aquela queda pode estar chegando ao fim", diz Jensen. Bicalho também estima, de modo preliminar, uma alta da produção industrial em novembro. O consumo de energia elétrica, lembra ele, teve um pequeno aumento no mês.

Um ponto decisivo para o destino da indústria nos próximos meses são os estoques, avaliam Bicalho e Borges. Números da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da FGV indicam que eles seguem acima do desejado. Enquanto não forem ajustados, a produção tende a continuar patinando. O economista do Itaú Unibanco também teme que as exportações, que ajudaram o PIB no terceiro trimestre, possam sofrer no quarto, dado o agravamento da crise externa.

Produção recua no fim de ano, apesar de medidas de estímulo

Por Júlia Pitthan, Mônica Scaramuzzo e Eduardo Laguna De Florianópolis e São Paulo

As medidas de estímulo à economia anunciadas pelo governo não foram suficientes para impedir a desaceleração da atividade em vários setores neste fim de ano. Indústrias químicas, montadoras de veículos, fabricantes de embalagens e segmento gráfico, por exemplo, decidiram reduzir a produção e já começam a refazer as projeções para 2012.

Os fabricantes de artigos da linha branca (geladeiras, fogões, máquinas de lavar) são uma exceção importante nesse cenário. Eles esperam aumento na demanda a partir do primeiro trimestre de 2012, em virtude da decisão do governo de reduzir alíquotas do IPI. "Como as redes varejistas estão estocadas para o Natal, a expectativa é que o impacto das medidas nas vendas seja verificado a partir de janeiro", informa a Whirlpool, dona das marcas Cônsul e Brastemp.

Com base nessa avaliação, a empresa já anunciou a contratação de 700 pessoas para a fábrica de Joinville, em Santa Catarina, e estuda ampliar as vagas na unidade de Rio Claro, no interior de São Paulo. No primeiro trimestre de 2012, a Whirlpool prevê crescimento entre 10% e 15% em volume, comparado ao mesmo período deste ano.

O otimismo do setor, entretanto, não é acompanhado pelos demais segmentos. A indústria química deve fechar o quarto trimestre em ritmo de desaceleração. "Estamos perdendo a competitividade por diversos fatores. O primeiro deles é o câmbio. O setor também está sendo atingido pelos importados. Além disso, os subsídios de outros países estão afetando as nossas empresas", afirmou Fernando Figueiredo, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).

Segundo a entidade, o mês de outubro foi de desaceleração. A produção caiu 0,16% no mês, em relação a setembro, e as vendas internas tiveram recuo de 7,91% sobre o mesmo período. "A queda de outubro nos surpreendeu", afirmou Figueiredo. A expectativa do setor era crescer 10% em 2011, mas a expansão deverá ser de 7%.

As montadoras de veículos, preocupadas com o avanço dos estoques, chegaram ao fim do ano com o pé no freio. De outubro a novembro, a produção recuou 9,3% na comparação com igual período de 2010, totalizando 540,1 mil unidades. As vendas no mercado interno caíram 11,4%, na mesma base de comparação.

O setor começou a diminuir mais intensamente a atividade em setembro, após produzir mais de 300 mil veículos em julho e agosto. Boa parte das montadoras decidiu dar férias ou folgas, além de suspender horas extras, para normalizar o estoque.

Neste mês, as tradicionais férias e folgas de fim de ano indicam que a produção não terá grande reação e as projeções de vendas e atividade mostram que o setor seguirá reduzindo o nível de carros parados nos pátios.

O setor têxtil teve um ano de retração e perdas, em função da alta do preço do algodão, que pressionou os resultados na primeira metade do ano, mas já vê uma luz no fim do túnel. A fabricante de itens de cama, mesa e banho Teka, de Blumenau, pensa em suspender as férias coletivas programadas para o período entre o Natal e o Réveillon, por causa da retomada dos pedidos no último mês.

"O quarto trimestre será melhor do que o terceiro, mas aquém de 2010", disse Marcello Stewers, vice-presidente da empresa. De acordo com ele, o volume faturado deverá empatar com o do ano passado, embora nos últimos meses o volume de pedidos tenha crescido em comparação com o ano passado. "O ano de 2011 foi um dos piores para o setor nos últimos tempos, mas o quarto trimestre está apresentando alguma recuperação."

Para a indústria gráfica, o sinal ainda é vermelho e o ritmo de encomendas continua em desaceleração, mantendo a tendência do terceiro trimestre. De acordo com Fabio Arruda Mortara, presidente da Abigraf, que representa as empresas do setor, ainda não há dados fechados relativos a outubro, "mas o sentimento entre os empresários é de que se mantém a queda no nível de produção".

A entidade alterou a estimativa de crescimento de vendas para este ano. Prevê expansão de cerca de 1% - antes projetava alta de até 2%. "Ainda é um resultado positivo, uma vez que a base de comparação é muito forte", avalia Mortara.

Depois de um ano de fortes vendas, o setor de embalagens deve encerrar 2011 em desaceleração. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Embalagem (Abre), Maurício Groke, o ano foi atípico, refletindo a contaminação pela crise internacional e a alta competição dos produtos importados. "Todos os segmentos em embalagens deram uma freada. Alguns investimentos no setor não tiveram o retorno esperado."

A indústria de materiais de construção também rebaixou a expectativa de crescimento real de faturamento para este ano. Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Walter Cover, a alta será da ordem de 3% a 3,5%, abaixo dos 4% projetados anteriormente. "Não acho que nada que ocorra em dezembro possa mexer nesses números", disse Cover.

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