segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Mercado esperava BC menos engessado
Valor 12/12
A ata da última reunião do Copom trouxe pouca novidade, mantendo praticamente inalterada a leitura feita pelo Banco Central do atual cenário de crise e ancorando ainda mais as expectativas do mercado financeiro na continuidade do ciclo de corte de juros de forma moderada. Mas isso não quer dizer que o documento não decepcionou aos agentes financeiros.
Havia uma grande expectativa de que o BC aumentasse a flexibilidade para os próximos passos de sua atuação, deixando em aberto uma possibilidade, ainda que pequena, de amplificar o ritmo de cortes de juros, hoje fixado em meio ponto percentual - enquanto continuar sendo repetida a expressão "ajustes moderados" "ad nauseam".
Essa visão foi ouvida pelo Valor de experientes agentes de mercado antes de o texto ser conhecido. E a decepção foi confirmada após a divulgação da ata por operadores de grandes instituições financeiras.
Passado o susto inicial em agosto, quando o BC surpreendeu quase todos no mercado, alguns pelo corte em si, outros apenas pela magnitude - pois apostaram em redução de 0,25 ponto percentual -, os operadores foram se tornando menos céticos com o quadro traçado pela autoridade à medida que a crise internacional de fato se intensificou na Europa.
Em nenhum momento, no entanto, os bancos, corretoras e fundos de investimentos deixaram de testar a convicção do BC no plano traçado para o afrouxamento monetário - ou no empenho do governo em abrir espaço fiscal para uma queda mais acentuada da taxa básica.
Mas toda vez que os contratos de juros futuros passaram a sinalizar um corte de 0,75 ponto, o presidente do BC, Alexandre Tombini, veio a público reforçar que estava confortável com uma redução moderada da taxa básica.
Essa queda de braço, que na verdade era mais um movimento especulativo do que uma crença firme de que o BC mudaria o ritmo neste momento, segundo um operador, teve fim na última reunião do Copom, que levou a Selic para 11% ao ano. O comunicado que explicou a decisão foi exatamente igual ao anterior assim como a ata, divulgada na semana passada, apresentou apenas leves mudanças com relação à ata da reunião de outubro.
No encontro passado o BC já havia ficado amarrado com o ritmo de corte e era esperado que nesse Copom deixasse uma maior flexibilidade para a próximo reunião, disse uma fonte. Sem novidades, o mercado entendeu o recado e fez apenas ajustes técnicos nos contratos de juros futuros, mantendo a aposta em mais três cortes de meio ponto, sem prêmios de risco. "Frustrou o mercado", completou esse operador.
O último documento da série de comunicações oficiais entre o BC e o mercado é o Relatório de Inflação (RI), que será divulgado ainda este mês. "O BC deve indicar que tem um ciclo estendido, até acima do que o mercado está precificando. Se não foi na ata, será certamente no RI", disse um outro experiente operador de mercado.
A curva de juros - formada pelos contratos futuros negociados na BM&F para os diversos vencimentos - aponta que a Selic chegará a 9,5% ao ano em meados de 2012. Na verdade, muitos operadores acreditam que o BC testará taxas mais baixas - abaixo do piso de 8,75% ao ano atingido em 2009 -, mas poucos arriscam nesse momento apostas mais ousadas, seja porque as incertezas ainda são enormes e houve uma recente melhora do cenário externo, seja porque a liquidez já está menor, dado o fim de ano.
O principal fator, no entanto, que limitou posicionamentos mais ousados - que derrubariam a taxa de um ano, importante indicador da eficácia do afrouxamento monetário - foram as medidas de estímulo fiscal anunciadas pelo governo no dia seguinte ao Copom. As ações foram marginais e assustaram mais pelo risco de ter sido apenas o início de um processo de maior ativismo do ministério da Fazenda.
Há duas leituras no mercado sobre essa atuação mais incisiva do governo em conjunto com uma ata inócua. A primeira é de que a manutenção do discurso do BC seria apenas uma sinalização, sem grandes efeitos, de que a autoridade está de fato confortável com o ritmo atual de cortes.
A outra interpretação feita por operadores é de que a coordenação entre o BC e a Fazenda pode ter piorado e o anúncio do pacote poderia ter ocorrido sem a anuência da autoridade monetária. Até por isso, o BC não abriu espaço na ata para uma flexibilização maior dos juros no encontro de janeiro, por sentir que pode ter diminuído o espaço para o ciclo de redução da Selic.
O risco embutido nessa visão é de que a comunicação entre BC e Fazenda, algo que hoje é visto com bom olhos por parte do mercado, poderia estar comprometida. "Esse foi um ganho muito grande desse governo e que aumentou a eficiência da política monetária", disse um operador de banco.
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