sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A hora requer sangue frio, diz Armínio



Por Claudia Safatle - Valor 09/12

Se tiver sangue frio, a presidente Dilma Rousseff poderá ver, no seu governo, os juros mais baixos que o Brasil já teve. A visão do Banco Central, de que o agravamento da situação externa demandava o corte da Selic em agosto, se mostrou correta. A economia desacelerou, respondendo às medidas tomadas em virtude da forte expansão de 2010. As metas fiscais estão sendo cumpridas, a inflação vai ceder pelo menos até a casa dos 5% e a crise na Europa é assunto que está longe de ser resolvido.

Essa é a avaliação que o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, da Gávea Investimentos, faz dos resultados da política econômica e é, de certa forma, também, uma síntese do que ocorreu no primeiro ano do governo Dilma. Para ele, a desaceleração - que levou o PIB a zero no terceiro trimestre - foi produto de uma combinação de fatores, nessa ordem: as medidas de aperto monetário tomadas desde o fim de 2010; o desaquecimento da economia global, com efeitos diretos no comércio e nos preços das commodities e indiretos, na redução da confiança de consumidores e investidores; e a expansão mais moderada do crédito para o consumo.

Ele espera, agora, uma queda da inflação dos 6,5% em que deve encerrar o ano para 5% a 5,5% em 2012. A expectativa do BC é de que o IPCA baixe para 5,2% entre abril e maio. A pergunta chave é se daí em diante ela continuará em queda, convergindo para o centro da meta de 4,5% no fim de 2012, como prevê o BC. Quanto a isso, disse, "ainda persiste uma razoável incerteza". Provavelmente o BC será testado pelo mercado outra vez, mais adiante. " Mas isso é assim mesmo. O BC vive sendo testado. Os governos são testados todos os dias."

Armínio torce para que, agora, o governo "tenha paciência e evite reações precoces", referindo-se à iniciativas de concessão de estímulos para a retomada do crescimento. "Se tiver sangue frio, a presidente Dilma vai ver no seu governo os juros mais baixos que este país já teve desde sempre, talvez desde a década de 30", previu.

A descrença dos mercados em relação à firmeza da política fiscal da presidente persistiu até a apresentação dos resultados. Com quase 93% do superávit primário obtido até outubro, não há mais dúvida sobre o cumprimento da meta "cheia" (sem heterodoxias contábeis) de 3,1% do PIB este ano.

"Isso foi muito bom. Fui o primeiro a elogiar (a decisão do governo) e mantenho o elogio. Sei que esse é um trabalho dificílimo, só quem está lá dentro sabe o quanto, e é excepcional o que estão fazendo", disse.

Em conversa com o Valor na quarta-feira o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reafirmou o compromisso de cumprir essa mesma meta de 3,1% do PIB nos próximos três anos. "Dou muito crédito a esse esforço que é essencial", comentou o ex-presidente do BC. Mantega também disse que desta vez o governo será moderado nos estímulos ao crescimento. Não pretende repetir o que fez em 2008/2009, quando liberou isenções de impostos no valor de R$ 25 bilhões. No mix da política econômica o espaço, como o governo vem afirmando, é para queda dos juros.

Sobre o desempenho do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, com quem trabalhou no BC e de quem é amigo, Armínio comentou: "Mantenho o que disse: ele foi ousado (ao cortar os juros em agosto). Mas não foi uma ousadia desmesurada e a avaliação dele está se mostrando correta."

Tombini foi muito questionado pelo mercado nos primeiros meses do ano, quando lançou mão de medidas macroprudenciais em detrimento dos juros, para frear a aceleração da inflação que vinha de 2010. E viu sua credibilidade arranhada em agosto, ao reduzir a taxa Selic aparentemente, na visão dos analistas privados, de forma precipitada.

"Ele correu algum risco, como aliás o BC não consegue deixar de correr em uma direção ou em outra. Melhor seria que não tivesse um mundo em crise, mas ele estava vendo isso e tinha que agir", constatou Armínio

Ontem o Banco Central Europeu (BCE) cortou a taxa básica de juros da região em 0,25 ponto percentual, para 1% ao ano. "Foi uma redução dura", ou conservadora, considerou. Após assistir à entrevista de Mário Draghi, presidente do BCE, Armínio avaliou que "ele foi extremamente germânico (nas respostas), jogando um balde de água fria na ideia de mais monetização, mais compra direta de dívida e inclusive mais compra indireta, através do FMI".

Draghi reforçou a noção de que a saída para a crise deve vir de dois pilares principais: solidez das políticas nacionais e redesenho do pacto europeu, "tirando o BCE da linha de frente da defesa". E sugeriu que o caminho para os países em crise é cada um buscar sua própria solução, centrada no esforço fiscal e no ganho de competitividade, sob o guarda chuva de um Maastrich reforçado.

São tantas as incertezas sobre o que vai acontecer na economia mundial nos próximos três ou quatro anos que "não devíamos nem ficar pensando nisso". Segundo Armínio, "o Brasil é um país grande, semifechado e temos que cuidar dos nossos assuntos. Temos que investir mais, investir melhor, educar melhor o povo". E, claro, proteger o melhor possível o país dos efeitos dessa dramática situação internacional.

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