sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
PIB deve crescer apenas 2,5% em 2012, avaliam economistas do Credit Suisse
Por Cristiano Romero | De São Paulo - Valor 02/12
A economia brasileira deve crescer apenas 2,5% em 2012, metade do que vem projetando o Ministério da Fazenda. Baixo carregamento estatístico de 2011 para 2012; menor crescimento do consumo desde 2006; queda do Produto Interno Bruto (PIB) potencial; queda da confiança dos empresários; estagnação da indústria; desaceleração na construção civil e no consumo de máquinas; e a expansão moderada da demanda estão entre as razões que fazem a equipe de economistas do banco Credit Suisse, liderada por Nilson Teixeira, acreditar que é baixa a probabilidade de o Brasil ter crescimento elevado no próximo ano.
A expectativa de Teixeira e sua equipe é que, em 2012, apesar do baixo crescimento, o Brasil continue com a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acima da meta oficial - 5%, face aos 4,5% definidos como alvo pelo governo. Quanto à taxa básica de juros (Selic), o banco prevê que ela cairá dos atuais 11% para 9% ao ano até o fim do ano que vem.
Ontem, Teixeira e os economistas Ilana Ferrão, Leonardo Fonseca, Daniel Lavarda e Tales Rabelo apresentaram, no hotel Unique, em São Paulo, as perspectivas da economia para 2012 a uma plateia de cerca de mil pessoas, a maioria empresários e profissionais do mercado financeiro. As análises foram feitas, portanto, antes da divulgação, feita na manhã de ontem pelo Ministério da Fazenda, de medidas para estimular a aquisição de eletrodomésticos e baratear o custo do crédito para pessoa física.
Para a equipe do Credit Suisse, o PIB pode ter sofrido retração de 0,1% no terceiro trimestre, em relação ao trimestre anterior, e, no período entre outubro e dezembro, deve crescer apenas 0,4%. Com isso, o carregamento estatístico do produto de 2011 para o de 2012 será um dos menores dos últimos anos - apenas 0,4%.
O carregamento de 2009 para 2010, por exemplo, foi de 3,5%. Isto significa que, se não tivesse crescido nada em cada trimestre do ano passado, o PIB teria avançado 3,5%, graças ao efeito estatístico. O carregamento estatístico de 2010 para 2011 foi de 1,1%.
O crescimento de 2012 pode ser ainda menor se o crescimento do último trimestre deste ano for zero - a "herança" para o ano seguinte seria de apenas 0,1%. O Credit Suisse acredita que o Brasil terminará 2011 com crescimento de 2,8%, um ponto percentual abaixo da expectativa do governo.
Para crescer em 2012 os 5% projetados pela Fazenda, o PIB teria que avançar no ano que vem 1,8% por trimestre, sempre na comparação com o trimestre anterior. Essa média é maior que a alcançada pelo país entre o terceiro trimestre de 2006 e o mesmo período de 2008, fase em que a economia brasileira cresceu de forma acelerada (1,6% por trimestre), antes da eclosão da crise financeira mundial. A média de crescimento trimestral entre o terceiro trimestre de 2003 e o terceiro de 2008, numa análise que elimina dois períodos de crise enfrentados pelo país no passado recente, foi de 1,3%.
O Credit Suisse estima que, em 2012, a expansão da demanda será moderada. A contribuição da demanda doméstica (investimento das empresas e consumo das famílias) para o crescimento do PIB, que em 2010 chegou a 10,3 pontos percentuais e em 2011 pode ter se reduzido para 3,5, em 2012 será de apenas 3,1 pontos percentuais. A tendência é que ocorra uma recuperação em 2013, quando o PIB cresceria 4%.
Os economistas do banco suíço revisaram para baixo também - de 4,4% em 2008 para 3,6% em 2012 - a estimativa do PIB potencial, isto é, a capacidade de a economia brasileira crescer sem gerar inflação acima da meta oficial. Depois de ter crescido fortemente entre 2002 e 2007, a produtividade da economia está em queda desde 2008, o que diminui o espaço para a expansão não-inflacionária.
O crescimento das importações tem dificultado, na avaliação do banco, a produção da indústria nacional. Em 2003, o peso das importações no consumo de bens industriais foi de 15%. Neste ano, até setembro, já estava em 27,1%. Em alguns setores, a participação dos produtos importados tem sido superior a 50% do total - máquinas para escritório e informática (55,4%), material eletrônico e comunicações (68,8%) e máquinas elétricas (50,5%).
A confiança dos empresários industriais tem diminuído, diz a equipe de Nilson Teixeira, desde o segundo trimestre deste ano, por causa, "entre outros fatores, da estagnação industrial e da incerteza global, contribuindo para o recuo da demanda por bens de capital" (máquinas e equipamentos). Segundo a Fundação Getulio Vargas, o índice de confiança foi a 116 no segundo trimestre de 2010 e caiu a 103 no terceiro trimestre de 2011.
Apesar do baixo crescimento do PIB, a equipe do Credit Suisse aposta que o mercado de trabalho continuará aquecido nos próximos dois anos. Depois de fechar este ano em 6%, a taxa de desemprego deve cair para 5,8% no próximo ano e para 5,2% em 2013. "Nossos modelos sugerem que a expansão do PIB necessária para manter a taxa de desemprego estável em torno dos atuais 6% recuou de 3,3% em 2003 para algo abaixo de 2,5% em 2011", diz o documento divulgado ontem.
No cenário do Credit Suisse, a economia mundial, que cresceu 5,1% em 2010, deve avançar 3,7% em 2011 e 3,5% no próximo ano. O percentual previsto para 2012 está em linha com a média dos últimos 25 anos, mas bem abaixo da média (4,8%) do período 2003-2007. A Europa deve entrar em recessão e os Estados Unidos devem sofrer estagnação.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário