quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Mais um ano de oferta de etanol apertada no país
Valor 28/12
Após um ano de forte quebra na safra de cana-de-açúcar, oferta de etanol apertada e interferências relevantes do governo no mercado, o segmento sucroalcooleiro tem poucas perspectivas de mudança em 2012 por conta da estagnação de seu ritmo de crescimento. Apenas uma ou duas usinas novas deverão entrar em operação - na temporada 2008/09, auge da febre do etanol no país, foram 30 -, e a esperança é que as margens aumentem para que a expansão dos canaviais volte a ganhar impulso nos anos seguintes.
O etanol segue no epicentro dessa inércia, que começou com a crise mundial emergida em 2008. Intensivas em capital e com custos de produção elevados, as usinas ostentaram, nesta safra 2011/12, preços de etanol hidratado 33% mais elevados do que entre maio e dezembro de 2010, segundo o Cepea/Esalq, mas insuficientes para estimular novos investimentos.
"Esses preços remuneram quem já está no setor, mas não novos projetos", afirma Pedro Mizutani, vice-presidente da Raízen (Cosan / Shell), maior empresa produtora de açúcar e etanol do Brasil.
Apesar da oferta menor que a demanda potencial, os preços do hidratado esbarram, na alta, na relação de competitividade com a gasolina. Economicamente, o biocombustível é competitivo até seu valor chegar a cerca de 70% do que custa a gasolina - cujos preços têm sido mantidos estáveis pelo governo. Não há perspectiva de que esse cenário mude em 2012.
No caso do anidro, o governo arbitra oferta e demanda por meio da mudança na mistura do produto na gasolina, reduzida em outubro de 25% para 20% para evitar desabastecimento. "Ainda não temos nenhuma sinalização do governo sobre quando a mistura retornará para 25%", afirma Marcos Jank, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
Assim, tanto os bancos que financiam o segmento como as indústrias que fabricam equipamentos para novas usinas continuam a registrar baixa demanda por novos projetos, situação que já perdura há cerca de dois anos.
A própria Raízen revisou seus planos de crescimento. A companhia previa atingir em 2020 capacidade para moer 100 milhões de toneladas de cana, ante as 65 milhões de toneladas atuais. Agora, reduziu a meta para 80 milhões, e a maior parte do volume adicional virá de reformas de usinas existentes.
O fato é que, neste momento, sobra usina e falta cana. A escassez de investimentos nos últimos anos fez aprofundar a diferença entre a capacidade industrial e o volume de matéria-prima disponível. Na atual safra, foram processadas 490 milhões de toneladas de cana no Centro-Sul, quando a capacidade instalada é para moer de 630 milhões a 650 milhões de toneladas.
As previsões mais otimistas para a moagem do ano que vem (safra 2012/13) indicam aumento de 8% a 10%, para cerca de 540 milhões de toneladas de cana.
A quebra de safra deste ano não foi compensada pelos preços altos do etanol e nem pelas cotações recordes de açúcar, que superaram os 30 centavos de dólar por libra-peso na bolsa de Nova York. Por isso, o faturamento e as margens foram menores do que as esperadas pelas usinas, que entrarão em 2012 sem redução de endividamento.
Segundo levantamento do Itaú BBA, a margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) média do setor deve recuar de 30% para 29% nesta safra 2011/12. Na visão do banco, as empresas geraram caixa, mas o foco está no pagamento de juros das dívidas e investimentos para recuperar os canaviais.
O cenário de preços para este ano, sobretudo para açúcar, mostra-se claramente mais baixista, diz Mizutani, com a perspectiva de maior produção da commodity na Índia, Tailândia, Rússia e União Europeia. A consultoria europeia Czarnikow previu neste mês que o superávit global em 2012 será de 6,1 milhões de toneladas de açúcar. "Por isso, acredito que os preços ficarão entre 20 centavos e 24 centavos de dólar a libra-peso em Nova York", aposta o executivo da Raízen.
Já para os preços do etanol hidratado, Mizutani prevê cotações firmes, puxadas pela demanda crescente alimentada pelo aumento da frota-flex. Ele acredita que o consumo interno de hidratado vai crescer entre 2 bilhões e 3 bilhões de litros no ano que vem.
Apesar da estagnação do segmento sucroalcooleiro, que em 2011 teve a primeira retração em uma década - e que neste ciclo poderá avançar, mas sem se recuperar plenamente -, a condição de abastecimento de etanol, se bem monitorada, não deve trazer mazelas a partir de 2013, conforme o presidente da Unica.
Ainda que para 2012 esteja tarde, Marcos Jank acredita nos efeitos positivos de algumas medidas recentes anunciadas pelo governo para dirimir o problema no futuro: o financiamento da estocagem de etanol e a obrigatoriedade de as distribuidoras contratarem antecipadamente o anidro que vai ser misturado à gasolina. "Esses instrumentos darão mais segurança ao abastecimento", acredita Jank.
Ele criticou, no entanto, a medida anunciada ontem pelo governo, que torna possível o aumento da incidência da Cide no etanol. "Foi criada para evitar oscilação de preço ao consumidor final no pico de safra, mas vai é aumentar a carga tributária do biocombustível", afirma o presidente da Unica.
Essa medida vem justamente em um momento em que o que o segmento mais demanda, segundo Jank, é desoneração tributária do etanol. Segundo levantamento da Unica, os tributos representam atualmente 35% do valor da gasolina e 31% do preço do etanol hidratado. "Essa participação é quase igual, pois o etanol tem rendimento energético 30% menor do que o da gasolina", diz Jank.
Ele diz que um dos desafios de 2012 será criar uma interlocução mais direta com a cúpula do governo para discutir a desoneração tributária do etanol. "Tem que haver desoneração do PIS/Cofins para o etanol e não somente da cana, como ouvimos dizer que haverá".
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário