sexta-feira, 13 de abril de 2012

Parem-me quando ouvirem algo que gostem

Ex-BC não acredita em expansão do crédito


A redução das taxas de juros das linhas de crédito pessoal dos bancos públicos, anunciada na semana passada, não deve trazer um crescimento maior do crédito neste ano, avalia Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor de política monetária do BC e atual economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

O Banco Central espera um crescimento nas operações de crédito de 15% para este ano, inferior à expansão verificada no ano passado que foi de 19%.

Para o ex-diretor do BC, o endividamento das famílias brasileiras está muito alto, o que limita a disposição para a contratação de novas linhas de crédito. A parcela da renda mensal dos brasileiros comprometida com o pagamento de dívidas atingiu em dezembro 22,3%, maior percentual para o mês desde 2005, segundo o último dado do BC.

A iniciativa do governo para pressionar os bancos privados a reduzirem os custos dos empréstimos é mais uma das medidas utilizadas para incentivar o crescimento da economia e uma forma de não ter que ampliar a redução da taxa básica de juros. O BC já sinalizou um piso para a queda da taxa Selic neste ano, atualmente em 9,75%, que deve ficar ligeiramente acima da mínima histórica de 8,75%.

Apesar da queda da Selic, o spread bancário, que representa a diferença entre a taxa que os bancos captam e a repassada nos empréstimos, aumentou do final do ano passado para fevereiro, passando de 17,9% para 18,8% ao ano no caso de pessoa jurídica, e de 33,7% para 35,8% para pessoa física. A inadimplência referente às operações com pessoa física também cresceu, mas em patamar menor, indo de 7,4% para 7,6%. "Com a Selic caindo, as taxas de juros finais têm de cair e rápido. É um absurdo os juros finais crescerem nesse cenário", afirma Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do Ciesp.

Em 2008, com o agravamento da crise financeira nos Estados Unidos, o governo ampliou a concessão de crédito dos bancos públicos e implementou um programa de liberação dos depósitos recolhidos pelos bancos junto ao BC (o recolhimento compulsório). Freitas destaca, no entanto, que a liberação do depósito compulsório não tem grande efeito no estímulo à economia. "Só resolveria se fosse condicionada ao aumento da concessão em determinadas linhas de crédito. Caso contrário, os bancos vão investir os recursos em títulos públicos", avalia.

O diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, afirma que, embora não seja condição para a queda do spread, algumas medidas do governo poderiam favorecer esse processo, como a eliminação da tributação sobre o financiamento ao investimento e a liberação de compulsório não remunerado nos desembolsos de recursos direcionados exclusivamente a linhas de investimento remuneradas pela Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP).

Estudo da Fiesp mostra que a participação do spread bancário no custo das operações de capital de giro passou de R$ 28,5 bilhões em 2007 para R$ 43,59 bilhões em setembro de 2011. O capital de giro representava em 2011, segundo a Fiesp, 7,5% do preço dos produtos industrializados, superior à média de um grupo de países formado por Chile, Itália, Japão, Malásia e Noruega, para o qual essa participação era de 1,97%. Na avaliação de Freitas, da CNC, os bancos brasileiros estão pouco alavancados e teriam espaço para ampliar as concessões de crédito.

Os bancos exigem do governo a adoção de uma série de medidas que poderiam reduzir os custos dos empréstimos, como redução de tributos e maiores garantias nas operações bancárias.

Segundo o ex-diretor do BC, os bancos privados devem seguir o movimento das instituições financeiras públicas se não quiserem perder fatia de mercado. O economista não vê, no entanto, risco de uma elevação das taxas de inadimplência nessas instituições financeiras.

Baixa do dólar é limitada por intervenções


Coerente com a tendência que se estabeleceu desde o início da semana, o mercado local segue correlacionado com o que acontece lá fora. Como a quinta-feira foi dia de vender dólar e correr para o risco nos principais mercados, por aqui, não foi diferente.

No entanto, o movimento de baixa foi limitado pelas atuações do Banco Central (BC). A autoridade monetária fez duas compras à vista, algo que não acontecia desde o dia 15 de março.

Com isso, a queda do dólar comercial ficou limitada a 0,27%, para R$ 1,83, depois de uma mínima intradia de R$ 1,823.
 
No mercado futuro, a baixa foi de 0,51%, com o contrato para maio valendo R$ 1,834, antes do ajuste final de posições.

O giro estimado para o interbancário ficou em US$ 2,2 bilhões, cifra elevada e que dá respaldo à percepção de que o dia contou com firme entrada de recursos externos pela conta financeira.

No câmbio externo, no entanto, as variações foram mais expressivas. O rand sul-africano, o dólar australiano, o dólar canadense e o peso mexicano ganharam entre 0,80% a 1,5% sobre a moeda americana.

O Dollar Index, que mede o desempenho da divisa americana ante uma cesta de moedas, caiu 0,52%, a 79,32 pontos. Enquanto o euro subiu 0,60%, a US$ 1,318.

O mercado parece funcionar na lógica do "quanto pior melhor", já que os sinais de menor crescimento econômico nos Estados Unidos e os renovados problemas com o custo das dívidas soberanas europeias aumentaram a perspectiva de mais medidas de estímulo por parte das autoridades monetária.

Outra história que circulou pelas mesas de operações foi a de que o Produto Interno Bruto (PIB) da China poderia surpreender para cima.

Segundo um economista, o mercado está em modo "bipolar". Alterna pessimismo extremo e euforia em questão de dias (quando não no mesmo pregão), quase sempre sem base em fundamentos, mas sim em expectativas e dados de alta frequência. Para esse especialista, esse tipo de comportamento denota a total falta de previsibilidade sobre o rumo da economia mundial.

No mercado de juros futuros, as taxas voltaram a cair depois do suspiro de alta da quarta-feira. A tese de Selic abaixo de 9% ganhou novo fôlego com as informações da jornalista Claudia Safatle publicadas na edição de quinta-feira do Valor.

De acordo com o texto, a surpresa positiva com o comportamento da inflação pode levar o BC a fazer uma parada não muito longa no movimento de baixa dos juros e, então, retomar o corte da taxa básica.

No mercado a visão é que a fórmula de rendimento da poupança é uma barreira à queda mais pronunciada da Selic.

O ponto interessante levantado pelo texto é que esse "limite" de baixa poderia estar abaixo dos 9%. "Para fontes oficiais, porém, essa não é uma métrica rigorosa. Os administradores de fundos de investimento ainda teriam margem para cortar as taxas de administração, avaliam. Mas só farão isso se sentirem 'um calor'", diz o texto.

Vale lembrar que, na segunda-feira, a Febraban divulgou estudo apontando que uma taxa básica de 8,75% já poderia promover um esvaziamento dos fundos de renda fixa. Além da questão dos spreads bancários, essa discussão em torno da poupança parece ser mais um ponto de enfrentamento entre o governo e os bancos.

Investimento estrangeiro direto cresce 16,5%, a US$ 1,67 tri


O fluxo global de investimentos estrangeiros diretos (IED) cresceu 16,5% no ano passado, para um valor estimado de US$ 1,664 trilhão, mas o movimento não se traduziu em expansão equivalente da capacidade produtiva, segundo dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad).

No Brasil, a entidade destacou entrada de recursos atraídos pelo juro mais alto, inclusive de afiliadas de companhias brasileiras no exterior.

A cifra global registrada em 2011 - que superou o nível pré-crise mas ainda está 25% abaixo do pico alcançado em 2007 - foi obtida em grande parte por aquisições no exterior e aumento das reservas em dinheiro mantidas em afiliadas localizados com outros países - "ao invés do tão necessário investimento em novos ativos produtivos por meio de projetos novos ("greenfield") ou gastos com afiliadas já existentes".

O fluxo originado apenas nos países em desenvolvimento caiu 7% e, como resultado, a participação dessas economias no IED global recuou de 31% em 2010 para 26% - mas ainda ficou no segundo maior nível já registrado. "A expansão do fluxo de IED a partir de economias em desenvolvimento visto nos últimos anos parece ter perdido ímpeto em 2011 devido a declínios significativos no IED gerado na região de América Latina e Caribe e uma desaceleração no crescimento referente aos países em desenvolvimento da Ásia", destacou a Unctad em relatório.

Somente América Latina e Caribe foram responsáveis por uma queda de 29% na geração de IED no ano passado, após forte avanço, de 82%, em 2010. No caso do Brasil, especificamente, houve um salto nas provisões e pagamento de empréstimos por afiliadas brasileiras no exterior para as matrizes no Brasil que levou os empréstimos intercompanhia para um recorde negativo de US$ 21 bilhões - ou seja, houve entrada de recursos acima das saídas nesse quesito.

"Isso pode ser explicado, em parte, pela busca de maneiras para aportar capital no ambiente de juro elevado do Brasil sem ter que pagar imposto sobre transações estrangeiras", diz o relatório da entidade, referindo-se ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) - utilizado em diversos momentos pelo governo para brecar a entrada de recursos no Brasil e evitar a valorização da moeda brasileira.

Considerando apenas as atividade de fusão e aquisição, houve uma queda de 34,6% nos dados do Brasil (para US$ 5,5 bilhões). Nos chamados projetos greenfield, o declínio foi ainda mais pronunciado, de 56,1% (para US$ 4,6 bilhões).

De acordo com relatório do Banco Central, o Brasil recebeu no ano passado o recorde de US$ 66,66 bilhões em investimento estrangeiro direto.

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