segunda-feira, 2 de abril de 2012

Governo e fundos tiram força do real



Por Eduardo Campos - Valor 02/04
De São Paulo

A moeda brasileira foi destaque mundial de baixa no mês que ficou para trás. No período, o dólar comercial subiu 6,16%, maior ganho mensal desde novembro.

O mês foi marcado pela retomada das batalhas da "guerra cambial", com o governo editando quatro medidas cambias, subindo o tom das ameaças e se comprometendo em não deixar o real se valorizar. No período, o Banco Central (BC) foi a mercado 13 vezes, com operações à vista e via swap reverso. No ano são 25 intervenções.

Tudo isso mudou a perspectiva para a moeda brasileira, que vinha como destaque mundial de alta, depois de um tombo de 12% em 2011.

Boa parte da valorização do dólar se deve ao medo dos agentes quanto a novas ações do governo. O dólar parece ter um piso informal não mais em R$ 1,70, mas sim em R$ 1,80.

A movimentação dos fundos de investimento, que compraram mais de US$ 5 bilhões em contratos futuros de dólar ao longo do mês, também tem participação importante nessa alta do dólar.

A dúvida agora é como o dólar se comportará nos próximos meses. Conforme o real cai e seus pares emergentes sobem ou caem menos, cresce o apelo das operações de arbitragem. Fora isso, o carregamento de posição comprada incorre em custos e não se sabe até que ponto esses fundos estão dispostos a seguir com a posição.

Para o economista para América Latina do Standard Chartered, Ítalo Lombardi, o pano de fundo para o mercado de câmbio brasileiro ainda não mudou. "A raiz da atratividade ainda é o diferencial de juros e a possibilidade de investimentos, principalmente na área de infraestrutura", explica.

No entanto, diz o economista, a falta de tendência da moeda americana nos últimos 15 a 20 dias está relacionada aos sinais que o governo mandou sobre a valorização cambial.

Ainda de acordo com Lombardi, os fundos e outros agentes locais que correram para o dólar parecem ter se movimentado com base na ideia de que muito das notícias positivas já estão no preço. Percepção reforçada pelo aumento de incerteza externa nas últimas semanas. Tudo somado, temos o dólar andando em "um corredor bem estreito", diz Lombardi.

Mas o economista mantém a percepção positiva quanto ao comportamento da moeda brasileira no médio prazo.

Com outra visão, o diretor-executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme, acredita que a alta do dólar ainda está por vir. Para Nehme, o fluxo cambial não deve ser tão positivo quanto se imagina.

E, além disso, temos um governo que busca a valorização da moeda brasileira e não apenas a manutenção de um piso, algo que pode constranger o "fluxo bom" de dólares.

Quanto aos juros, o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal, aponta que o BC nunca foi tão explícito em sua comunicação, mas, ao mesmo tempo, nunca deixou o mercado com tantas dúvidas. Com isso, a movimentação na curva futura de juros está "engessada".

Como o BC acenou que vai cortar a Selic para próximo das mínimas históricas e o mercado já colocou no preço uma taxa básica de juros de 9%, os contratos curtos não têm muito para onde ir.

Olhando para frente, diz Leal, salvo algum evento novo, há a impressão de que o BC terá de fazer um aperto monetário no fim de 2012 ou começo de 2013.

"Mas vale frisar o termo aperto monetário, pois não estou falando em subida de taxa de juros. Durante muito tempo os termos eram sinônimos. Agora não são mais", explica.

A curva futura mostra um aperto de 150 pontos-base. Mas a dúvida, segundo o economista, é se esses 150 pontos serão entregues via alta de juros ou medida prudencial, ou mesmo uma mistura dos dois.

Em função disso não há parâmetros para grandes apostas na curva de juros.

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