quarta-feira, 25 de abril de 2012

Empréstimos puxam ingresso de capital



Por Mônica Izaguirre e Murilo Rodrigues Alves - Valor 25/04
De Brasilia

O ingresso líquido de capitais no país foi de US$ 13,6 bilhões em março, o maior volume de recursos vindos do exterior nos últimos 12 meses, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central. As filiais de empresas multinacionais brasileiras ajudaram a compor essa cifra, emprestando às suas matrizes quase US$ 7 bilhões na forma de operações de crédito intercompanhias, valor bem mais alto do que os US$ 1,47 bilhão de março de 2011.

A entrada líquida de capitais cobriu com larga folga o déficit de US$ 3,32 bilhões nas transações correntes com outros países no mês, fazendo com que o resultado global do balanço de pagamentos externos fosse positivo em US$ 10,59 bilhões em março. Desde setembro de 2010, quando o balanço foi superavitário em US$ 11,6 bilhões, não se via dados tão expressivos.

Já na comparação dos trimestres, por causa dos outros dois meses do ano, tanto o fluxo líquido de capitais quanto o resultado global do balanço recuaram em relação a 2011, caindo de US$ 43,64 bilhões para US$ 23,92 bilhões e de US$ 27,64 bilhões para US$ 12,36 bilhões, respectivamente.

O saldo da repatriação de investimentos brasileiros diretos (IBD) como um todo, categoria que inclui os empréstimos intercompanhias, ficou em US$ 5 bilhões em março, pois saíram US$ 1,624 bilhão para reforço de participações diretas no capital de empresas no exterior.

Os brasileiros também mandaram para fora do país US$ 1,780 bilhão para investir em títulos de renda fixa, aquisição de ações via mercado de capitais, derivativos e outros tipos de investimentos. Ainda assim, por causa dos empréstimos das filiais, os residentes responderam por ingresso líquido em torno de US$ 3,05 bilhões em março.

O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, lembra que os empréstimos intercompanhias são tributados com 6% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Portanto, afirma, o seu crescimento não se trata de tentativa de fugir do tributo para aproveitar as altas taxas de juros internas. O fato de a economia brasileira ainda estar crescendo acima da média mundial poderia ser uma explicação para o forte fluxo de recursos de filiais a matrizes de multinacionais brasileiras.

No acumulado do trimestre, essas operações de crédito geraram ingresso de US$ 8,6 bilhões, ante US$ 2,1 bilhões em igual período de 2011. Esse montante já é superior ao desembolso recebido em todo ano passado (US$ 8,512 bilhões).
Descontando as amortizações pagas pelas matrizes, as filiais de empresas brasileiras emprestaram ao país US$ 7,91 bilhões nos três primeiros meses do ano, cifra também superior à de 2011 inteiro (US$ 6,1 bilhões).

No ano passado, a principal contribuição das filiais para o balanço de pagamentos brasileiro se deu de outra forma: elas amortizaram US$ 14,45 bilhões de dívidas com as matrizes no Brasil.

Em 2012, também houve pagamentos e recebimentos em função de empréstimos de matrizes para filiais, mas o fluxo nesse caso foi irrelevante, ficando em apenas US$ 18 milhões negativos no mês e no trimestre.

Os recursos estrangeiros foram responsáveis, em março, por US$ 10,5 bilhões dos US$ 13,6 bilhões de saldo registrados pela conta de capitais do balanço de pagamentos. A contribuição dos não residentes veio, principalmente, dos investimentos estrangeiros diretos (IED), que somaram US$ 5,887 bilhões no mês, incluindo um fluxo líquido positivo de US$ 830 milhões de créditos intercompanhias envolvendo multinacionais estrangeiras e filiais no país.

O valor ficou abaixo do registrado em março de 2011 (US$ 6,787 bilhões). No acumulado do trimestre, o ingresso de IED somou US$ 14,939 bilhões, o que também foi inferior a igual período do ano passado (US$ 17,535 bilhões). No entanto, o desempenho do IED em março foi melhor do que o esperado pelo Banco Central, cuja projeção indicava entrada de US$ 4 bilhões. Tulio Maciel reconheceu que a estimativa da autoridade monetária para o ingresso desses recursos durante todo o ano (US$ 50 bilhões) se mostra conservadora diante do verificado no primeiro trimestre e deve ser revisada.

Os estrangeiros trouxeram ainda para o país US$ 1,27 bilhão na forma de investimentos em títulos de renda fixa, modalidade que no trimestre atraiu US$ 2,28 bilhões. Isso revela um interesse menor do que o verificado no primeiro trimestre de 2011, quando os estrangeiros aplicaram em títulos de renda fixa US$ 5,01 bilhões, dos quais US$ 1,84 bilhão em março. Aí se nota o efeito do aumento do IOF sobre captações externas imposto pelo governo a partir de março de 2011, diz Tulio Maciel.

Embora pouco expressivo em março (US$ 131 milhões), o fluxo de investimentos estrangeiros em ações chegou a US$ 5,2 bilhões no trimestre, bem mais do que os US$ 748 milhões verificados em igual período de 2011.

Já as demais modalidades de investimentos (créditos comerciais, empréstimos diretos, moedas e depósitos) atraíram este ano um volume menor de capitais estrangeiros do que no ano passado, tanto no mês, quanto no acumulado do trimestre. Em março, esse fluxo foi de US$ 3,1 bilhões, contra US$ 7,97 bilhões do mesmo mês de 2011. No trimestre, ficou em US$ 3,78 bilhões, ante US$ 11,31 bilhões de igual período do ano passado.

Os empréstimos externos diretos, ou seja, que não implicam emissão de títulos, também foram alcançados pelo aumento do IOF, que certamente influenciou o fluxo dessa modalidade de capital externo.

Com economia mais fraca, remessas de lucros e dividendos caem a US$ 1,96 bi

As remessas de lucros e dividendos ao exterior somaram US$ 1,96 bilhão em março, reforçando a tendência de queda dessas despesas este ano. Em igual mês do ano passado, elas atingiram US$ 3,71 bilhões (recuo de 47%). Na comparação do primeiro trimestre de cada ano, os gastos do país com esse item da conta de transações correntes com o exterior também recuaram, passando de US$ 8,39 bilhões para US$ 3,47 bilhões.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, atribui a principal explicação ao nível da atividade econômica em 2011. Com o crescimento da economia em 2010, ano em que o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 7,5%, as multinacionais tiveram melhores resultados e puderam remeter mais lucros e dividendos no ano seguinte. A queda das remessas em 2012 reflete a desaceleração da economia em 2011. Mais recentemente, a desvalorização do real também pode ter desestimulado as empresas estrangeiras a enviar parte de seus resultados às matrizes, acrescentou o chefe do Depec.

O recuo dos gastos com lucros e dividendos tem ajudado a reduzir o déficit em transações correntes. No mês passado, esse déficit foi de US$ 3,32 bilhões, inferior, portanto, aos US$ 5,73 bilhões de igual período de 2011. A cifra foi mais baixa também do que a esperada pelo Banco Central, cuja projeção indicava saldo negativo de US$ 4,5 bilhões no mês.

Na comparação entre os primeiros trimestres de 2011 e 2012, o déficit em conta corrente também caiu, de US$ 14,77 bilhões para US$ 12,11 bilhões. Houve recuo ainda, pelo segundo mês consecutivo, do acumulado em 12 meses. No período encerrado em fevereiro, as despesas do país com comércio, serviços, transferências de renda e transferências unilaterais superaram as respectivas receitas em US$ 52,23 bilhões, o equivalente a 2,09% do PIB estimado pelo BC. No período encerrado em março, o saldo foi negativo em US$ 49,81 bilhões, ou 1,98% do PIB.

Dados preliminares de abril indicam que a conta de lucros e dividendos ao exterior será novamente menor do que em igual mês do ano passado. Até o dia 20, as remessas somaram US$ 618 milhões, valor bem inferior aos US$ 2,11 bilhões de abril de 2011.

As despesas dos brasileiros com viagens internacionais também contribuíram para atenuar o déficit em conta corrente, mas só no mês, quando somaram US$ 1,627 bilhão. Foi uma queda modesta em relação a março de 2011 (US$ 1,645 bilhão), embora a primeira na comparação entre um mês e o mesmo do ano anterior desde setembro de 2009. Segundo Maciel, o arrefecimento se deve ao comportamento do câmbio, que ficou desfavorável às viagens internacionais, e porque o Carnaval caiu em fevereiro neste ano.

No acumulado do trimestre, porém, os gastos dos turistas brasileiros bateram recorde, chegando a US$ 5,38 bilhões, expansão de 13,2% na comparação com o mesmo período do ano passado (US$ 4,75 bilhões). Já os estrangeiros, nos três primeiros meses do ano, gastaram US$ 1,92 bilhão no Brasil, crescimento de 11,7% na mesma base de comparação.

As despesas líquidas com aluguéis de equipamentos também foram recorde no mês passado e no acumulado do trimestre. Em março, elas somaram US$ 1,49 bilhão ante US$ 1,25 bilhão do mesmo mês de 2011. No acumulado do trimestre, o saldo negativo foi de US$ 4,30 bilhões, ante US$ 3,61 bilhões registrados nos três primeiros meses de 2011.

Tulio Maciel explicou que pesam para esse item vir crescendo continuamente a demanda do setor de extração mineral, que aluga os equipamentos para ampliar a capacidade de produção de petróleo e metais metálicos.

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