terça-feira, 24 de abril de 2012

Câmbio e soja provocam alta de projeções para IGPs



Por Arícia Martins - Valor 24/04
De São Paulo

A recente depreciação do câmbio, aliada à alta da soja no mercado internacional, é o que está provocando revisões para cima nas projeções para a inflação dos Índices Gerais de Preços (IGPs) em 2012 observadas no boletim Focus divulgado pelo BC, avaliam economistas consultados pelo Valor. O mercado elevou de 4,84% para 4,91% as estimativas para o IGP-M, sétimo aumento semanal consecutivo, de acordo com o Focus Para o IGP-DI, o aumento foi mais expressivo, de 4,89% para 5,05%.

Os IGPs têm 60% de sua composição atrelada aos preços no atacado - muitos deles cotados no mercado internacional - e, portanto, respondem mais à variação da moeda americana, que tem se valorizado nas últimas semanas. O dólar deixou a casa de R$ 1,70 em fevereiro, subiu para cerca de R$ 1,80 em março e encerrou a semana passada cotado a R$ 1,87. Como o impacto desse movimento no varejo é diluído, a mediana das projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2012 se manteve em 5,08%.

Thiago Curado, da Tendências Consultoria, aumentou de 0,63% para 0,73% sua previsão para o IGP-M de abril após os dados das prévias do mês terem vindo acima do esperado. Segundo o economista, a quebra de safra de grãos do início do ano está surtindo efeito tardio sobre os preços da soja e do feijão, e o câmbio já afeta os produtos industriais. Na segunda medição do mês, a soja avançou 9,9%, enquanto os preços industriais subiram 0,71% e os agrícolas, 0,94%.

"É uma aceleração bastante acentuada", diz. Essa trajetória, no entanto, não deve atingir a inflação ao consumidor no médio prazo, sustenta Curado, já que tanto os preços industriais como agrícolas têm impacto indireto e defasado sobre o varejo.

"Em um primeiro momento, a alta da soja não tem maior impacto, mas como é um insumo básico, num segundo momento promove uma aceleração dos índices ao consumidor", pondera o analista, que colocou viés de baixa na previsão de 5,5% para o IPCA em 2012.

Segundo Daniel Lima, da Rosenberg & Associados, o mercado está reticente em revisar para cima projeções para o IPCA após a surpresa positiva no primeiro trimestre, quando o indicador acumulou elevação de 1,22%, mais de um ponto percentual abaixo dos 2,44% registrados em igual período de 2011.

Depois do resultado de março, quando o IPCA subiu apenas 0,21%, Lima cortou para 5,2% a estimativa para a alta do índice em 2012, mesmo após o reajuste de mais de 20% nos preços dos cigarros e aumento dos remédios. "Além disso, o impacto do dólar nos preços ao consumidor é diluído ao longo da cadeia", afirma.

Para os IGPs, no entanto, o cenário é de aceleração, diz ele. A soja, segundo Lima, subiu 8% em reais na média diária de abril contra março, puxando avanço de 4% de uma cesta de commodities agrícolas em igual período. "A soja tem mostrado alta consistente desde a segunda quinzena de dezembro."

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