quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Os pilares para salvar o euro e a UE



Por Roland Berger - Valor 13/09

A dívida pública da Europa e a crise monetária estão em seu terceiro ano, e os políticos limitam cada vez mais seus esforços de socorro a dois pacotes de ações: austeridade para os países mais atingidos pela crise e financiamento para os países ainda saudáveis da zona do euro. Ambos são adequados e necessários, mas não são suficientes para impedir um colapso da moeda comum, ou talvez até mesmo da União Europeia.

Essa limitação levou a Europa a uma crise tripla. Primeiro, a dívida pública e a crise do euro estão piorando. Segundo, as economias na zona do euro e a União Europeia foram arrastadas para uma recessão, conduzida pelos países devedores. E, terceiro, a unidade europeia está sofrendo uma séria crise política. As economias estão encolhendo, o que torna as coisas piores para os países que foram duramente atingidos pela crise: o desemprego está aumentando, a riqueza está evaporando e as tensões sociais estão crescendo. Os países ao norte, embora ainda estejam seguros financeiramente, estão em uma posição delicada. Eles não querem arriscar suas economias para ajudar países vizinhos a financiar dívidas que eles arrumaram por "não manterem suas casas em ordem". A Europa está profundamente dividida.

É necessário um crescimento econômico para restaurar a confiança do povo em sua moeda e em sua União. Contudo, os programas de crescimento, patrocinados pelo Estado, não são o caminho a seguir. Por um lado, eles poderiam criar mais dívida pública. Por outro, poderiam não resolver a crise de crescimento, pois ela não é econômica, mas uma crise estrutural de competitividade. A única forma de restaurar essa confiança é realizar reformas estruturais, como o corte de gastos, salários e custos. Então, o que fazer?

O caminho para sair da crise é um programa de crescimento com apoio político e financiamento privado, que funcione suportado pela economia de mercado. Esse programa deve ter por objetivo expandir e modernizar a infraestrutura da Europa. Estima-se que o investimento necessário seja de, pelo menos, €1 trilhão na UE. Para financiá-lo, podemos recorrer aos cerca de €170 trilhões distribuídos por todo o mundo e em poder do setor privado, porém dependemos da ajuda dos políticos no direcionamento do capital privado para projetos de infraestrutura. Eles podem fazer isso aprovando leis de incentivo à concorrência e aos investimentos, e colocando em vigor condições legalmente sólidas, baseadas na economia de mercado.

No topo da lista de projetos potenciais está a infraestrutura de telecomunicações, que precisa de uma ampla rede de dados de banda larga para chegar ao próximo nível tecnológico. O investimento privado nesta área simplesmente não é atraente. Isto quer dizer que grandes provedoras de serviços de telecomunicações não podem mobilizar nenhum capital privado. Se os políticos aprovassem regras inovadoras alinhadas ao mercado, dispararia um crescimento significativo: investir mais de € 270 bilhões na infraestrutura de comunicação criaria não apenas empregos na Europa, mas aumentaria a produtividade dos usuários no setor privado e na administração pública. A Europa veria o desenvolvimento de sua própria indústria de TI e internet - assim como visto nos EUA, com Google, Amazon e Facebook.

Outro exemplo é o fornecimento de energia. Nos próximos anos, a Europa precisará investir €220 bilhões em redes e armazenagem, especialmente depois da transformação energética da Alemanha. Isso exigirá uma política energética europeia e planejamento. Nenhuma das duas coisas foi feita ainda. Outros exemplos são os sistemas de tratamento de esgoto e águas residuais, que precisam de, pelo menos, € 200 bilhões, e a construção de estradas, que exige um investimento estimado em cerca de €180 bilhões.

Infelizmente, a ideologia predominante na Europa é a de que a infraestrutura deve ficar o máximo possível nas mãos do governo, com diferenças em alguns países. Por exemplo, na França, a água é fornecida por empresas privadas, mas o governo é responsável pela eletricidade, enquanto na Alemanha é exatamente o oposto. Muitos países têm estradas pedagiadas financiadas pelo setor privado, mas por alguma razão isso não acontece na Alemanha, que é um dos principais países da Europa em termos de trânsito. A lista desse tipo de inconsistências vai longe.

Até mesmo um programa de infraestrutura parcialmente financiado pelo setor privado, projetado para um crescimento europeu baseado no mercado, poderia servir como o terceiro pilar que falta para um programa consistente de socorro financeiro para o euro. Os outros são a mudança estrutural - criada pela austeridade para melhorar a competitividade e a disciplina orçamentária no sul -, e o financiamento fornecido pela Alemanha aos países escandinavos do euro para acalmar os mercados financeiros.

Dessa forma, a Europa poderia criar uma economia altamente inovadora e produtiva com uma infraestrutura excelente, mesmo no meio da crise. Como fornecedoras, as empresas privadas lucrariam com o crescimento e a maior produtividade. Já os funcionários se beneficiariam do número crescente de empregos com maior qualidade. O crescimento da arrecadação fiscal e a diminuição dos gastos públicos poderiam ajudar na redução da dívida pública. Um benefício adicional seria a restauração da confiança das pessoas no euro e na integração europeia.



Roland Berger é fundador da Roland Berger Strategy Consultants

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