quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Exportação cresce para os EUA e cai para o Mercosul



Valor 13/09


De janeiro a agosto as exportações brasileiras para os Estados Unidos ultrapassaram as destinadas para o bloco do Mercosul, com mais de US$ 3 bilhões de diferença. O último ano cheio em que os americanos compraram mais produtos brasileiros que os parceiros do bloco foi em 2008, última vez em que o Brasil ainda tinha superávit na balança com os Estados Unidos. Desde então o Brasil vem tendo déficits crescentes com os americanos.

De janeiro a agosto deste ano as exportações para os EUA aumentaram - petróleo, produtos de ferro e aço e etanol estão entre os itens que mais ajudaram -13,4% e as vendas para os países do Mercosul, com o efeito Argentina, caíram também 16,2%. A queda de venda aos argentinos foi de 18%.

O desempenho, porém, ainda não foi suficiente para o Brasil voltar a ter superávit com os americanos, embora o déficit tenha se reduzido dos US$ 5,4 bilhões de janeiro a agosto do ano passado para US$ 2,8 bilhões nos mesmos meses deste ano. Em igual comparação, os embarques para a União Europeia tiveram queda de 7,4%, com superávit caindo de US$ 5,1 bilhões para US$ 1,1 bilhão. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento (Mdic).

Para José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), a exportação aos americanos deve manter a tendência atual e terminar o ano à frente dos embarques ao Mercosul. "O ritmo da exportação aos EUA não deve mudar muito e as dificuldades com a Argentina certamente não irão ser solucionadas logo."
A fatia ainda considerável de manufaturados na pauta de exportação brasileira para os Estados Unidos ajudou a elevar os embarques aos americanos, diz Rodrigo Branco, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). "A queda da exportação brasileira de manufaturados foi menor que a dos básicos e a dos semimanufaturados. Isso também contribuiu para o melhor desempenho do comércio com os Estados Unidos."

De acordo com dados do Mdic, a exportação total do Brasil de manufaturados caiu, de janeiro a agosto, 1,9% em relação ao mesmo período do ano passado. Na mesma comparação os embarques de básicos e de semimanufaturados tiveram redução de 3,8% e 9,1%, respectivamente. As exportações para os americanos, porém, tiveram comportamento diferente. De janeiro a julho deste ano, a venda de manufaturados aos americanos cresceu 21,4% em relação aos sete primeiros meses do ano passado enquanto básicos tiveram alta de 13,82% e os semimanufaturados, de 7,8%.

A exportação de manufaturados dentro da pauta de exportação brasileira aos americanos tem fatia representativa, de 46%. Os Estados Unidos compram 15% do total de manufaturados embarcados pelo Brasil.

Branco lembra, porém, que esse desempenho já foi bem melhor. Em 2005, segundo levantamento da Funcex, os americanos compravam um quarto dos manufaturados exportados pelo Brasil e essa classe de produtos representava 72% da vendas brasileiras aos EUA. Mais do que isso, lembra Branco, os produtos brasileiros perderam espaço no total das importações americanas, caindo de 1,51% em 2005 para 1,27% em 2010.

As exportações aos americanos atualmente estão crescendo, na verdade, muito ancoradas no petróleo, diz Castro. Com aumento de 25% na venda brasileira aos americanos até agosto, o petróleo representa um quarto da pauta de exportação aos EUA. Logo depois vêm os produtos semimanufaturados de ferro ou aço e, depois, o etanol, cujos embarques aumentaram de US$ 230,7 milhões de janeiro a agosto de 2011 para US$ 712,9 milhões no mesmo período deste ano.

Na verdade, analisa Branco, o desempenho do petróleo está muito mais ligado a uma questão política do que comercial. A exportação brasileira está relacionada à decisão americana de privilegiar as importações brasileiras e reduzir a dependência de fornecimento pelo Oriente Médio.

O desempenho com os EUA, acredita, o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, está relacionada à economia americana, que deve crescer 2% neste ano. Ele lembra, porém, que o crescimento da exportação não está acompanhado por diversificação e um problema da grande representatividade do petróleo nas vendas aos EUA está na volatilidade das condições de negociação. "Uma queda de preços afeta rapidamente o valor das exportações. "

Na OMC, Washington reclama do aumento de tarifas feito pelo Brasil

O governo dos Estados Unidos acusou o Brasil e a Argentina de quebrarem compromisso internacional com a elevação das barreiras nas importações, ainda mais num momento que Washington considera especialmente delicado para a economia mundial.

O embaixador americano na Organização Mundial de Comércio (OMC), Michael Punke, disse que os EUA estão "extremamente preocupados" em ver a ação do Brasil e Argentina, estimando que isso complica ainda mais esforços de negociação em Genebra para desbloquear a Rodada Doha.

"Estou perplexo porque eles estão se movendo nessa direção", afirmou ontem, numa coletiva à imprensa, em Genebra. Sem surpresa, o representante americano considerou "extremamente desapontador" o anúncio pelo Brasil de elevar em 25% as alíquotas de importação de cem produtos, incluindo siderúrgicos, autopeças, pneus e químicos. Para Punke, o que o Brasil e a Argentina estão fazendo é "inconsistente com os compromissos no G-20", dos quais fazem parte, para evitar novos obstáculos ao comércio internacional.

Os americanos dizem não entender como Brasília impõe mais taxa sobre químicos, por exemplo, levando em conta que isso vai causar custos adicionais para produtores brasileiros.

Exportadores dos EUA estão sentindo mais dificuldades. Suas exportações caíram 1% no mês passado, depois de queda de 1,2% no mês anterior. As vendas para a zona do euro caíram 6,6% na comparação com o mês anterior e se estagnaram para a China.

Por sua vez, o embaixador brasileiro na OMC, Roberto Azevedo, defendeu a medida brasileira. "Todos, em algum momento, adotam medidas que não são do gosto dos parceiros comerciais. Há países que nessa situação de dificuldades econômicas estão caminhando na direção de aumento dos dispêndios de subsídios distorcivos em agricultura, que causarão prejuízos ainda maiores aos agricultores brasileiros", disse, em referência a futura Lei Agrícola dos EUA.

Azevedo reiterou ontem que as medidas brasileiras estão dentro das regras acertadas na OMC. "Não há motivo para nenhuma reclamação da parte de qualquer país."

O Itamaraty também minimizou a queixa de Punke. "É uma manifestação isolada e não reflete a boa relação e o entendimento dos dois governos em questões econômicas, financeiras e comerciais", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Tovar Nunes.

O Itamaraty classifica a relação com os EUA como a "mais densa" entre os interlocutores do Brasil. Somam 18 os mecanismos de diálogo em temas variados. Em reuniões informais, os dois países vêm, ainda, discutindo que fazer em relação ao contencioso do algodão, pelo qual a OMC determinou serem ilegais os subsídios americanos ao setor e autorizou o Brasil a retaliar, caso não sejam retirados. Para os diplomatas brasileiros, o tom acusador adotado por Punke é comum em discussões na OMC, mas não reflete as conversas mantidas pelos dois governos.

Enquanto os EUA planejam levantar o problema em algum comitê normal na OMC, para marcar sua posição sobre a alta de tarifas no Brasil, no caso da Argentina os americanos deflagram diretamente o mecanismos de disputa. Os argentinos reagiram denunciando na OMC barreiras impostas por Washington à entrada de alguns de seus produtos agrícolas.

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