segunda-feira, 16 de abril de 2012

México sai da sombra do Brasil



Por John Paul Rathbone Valor 16/04

Perguntei certa vez a Carlos Slim por que os mexicanos mostravam-se tão desanimados em relação a seu país e os brasileiros tão eufóricos com o deles. O homem mais rico do mundo, cujos principais investimentos espalham-se pelos dois países, respondeu: "É simples. Eles são brasileiros. Nós somos mexicanos."

Foi um comentário perceptivo. Muitos mexicanos sentem-se deprimidos com seu país e o mundo compartilhou essa desesperança. Enquanto isso, a confiança da onda de crescimento do Brasil - que pôde ser vista durante a visita da presidente Dilma Rousseff a Washington nesta semana - arraigou-se na imaginação popular. A mais recente manifestação disso é a iminente oferta pública inicial de ações de US$ 20 bilhões do BTG, o banco de investimento brasileiro que quer ser, entre outras coisas, um " Goldman Sachs tropical". Só isso deveria fazer-nos observar de novo - especialmente quando os humores nacionais eram tão diferentes há apenas dez anos.

Na época, havia um debate caloroso sobre qual era o verdadeiro líder econômico da América Latina. Para muitos mexicanos, a resposta era óbvia. O país havia acabado de concluir a transição para a democracia. Sua economia era maior do que a do Brasil. Tinha até um sistema bancário sólido. O Brasil, enquanto isso, acabava de sair de uma crise cambial e os investidores estavam aterrorizados porque o país estava para eleger um perigoso esquerdista, Luiz Inácio Lula da Silva. Com que rapidez a mesa virou. O Brasil tornou-se um dos tão alardeados países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), ficando atrás apenas da China no grupo. O México ficou para trás, com sua economia agora sendo a metade do monstro brasileiro de US$ 2,6 trilhões. O que aconteceu?

A resposta, em grande parte, é a China. Sua entrada na Organização Mundial do Comércio (OMC) trouxe menores preços do que os da indústria mexicana, que perdeu negócios para rivais de custos bem menores. A liderança política também foi frágil. A economia doméstica mexicana continua sufocada por monopólios - especialmente o da petrolífera estatal Pemex. A confiança nacional ficou ainda mais abalada com a guerra contra o crime organizado, que matou 50 mil pessoas nos últimos seis anos.

Em contraste, o Brasil ganhou cada vez mais importância. Sua economia beneficiou-se da demanda voraz da China, seu maior parceiro comercial, por commodities. Lula esteve longe de ser o bicho-papão que tantos temiam. O Brasil enfrentou oligopólios em seu mercado doméstico de uma maneira melhor que os mexicanos e liberou sua petrolífera estatal, a Petrobras, permitindo que abrisse o capital e se aliasse a empresas estrangeiras para explorar reservas petrolíferas gigantescas. Enquanto os Estados Unidos, maior parceiro comercial do México, cambaleou da crise das empresas "pontocom" para o estouro da bolha das hipotecas de baixa qualidade, o Brasil entrou em uma onda lucrativa. De fato, parecia ser "o melhor país do mundo" [em português, no original]. Certamente, era um dos mais sortudos.

Agora, essa sorte pode estar mudando. Pela primeira vez em dez anos há bons motivos para ser menos otimista em relação à China - e, portanto, quanto ao Brasil também. Também há bons motivos para ser mais otimista sobre os EUA - e, portanto, em relação ao México também. A China perdeu competitividade, afetada pelo aumento nos custos com mão de obra e transporte. Se a economia dos EUA se recuperar, a indústria mexicana deverá sair-se bem.

O México também se tornou um fabricante mundial de automóveis. A indústria gerou exportações de US$ 23 bilhões em 2011 - mais do que o petróleo e o turismo. Não se tratam das baratas operações "maquiladoras": Volkswagen e Nissan usam a rede de acordos de comércio exterior do México para exportar seus carros para todo o mundo. Quanto à "guerra contra as drogas" do México, a outrora onda vertiginosa de aumento da violência desacelerou-se e, em algumas áreas, até diminuiu. Os motivos não estão claros, mas a elevação de 74% nos gastos federais em segurança acabará fazendo diferença.

O Brasil, no entanto, chegou a um quebra-molas. Não pode mais contar com a alta dos preços das commodities para sempre. Ainda mais crucial, o país criou um sério problema de custos. Mesmo levando em conta apenas a moeda local - sem incluir o impacto da impressão de dinheiro pelo Ocidente, nas chamadas "guerras cambiais" - o custo da mão de obra brasileira subiu 25% em termos reais nos últimos dez anos. Isso ameaçou a indústria local e causou uma disputa comercial protecionista inconveniente com o México, o que fez a integração regional regredir. Os brasileiros podem ter um otimismo inato, como disse Slim. Tudo isso, no entanto, deixa o Brasil parecendo temeroso e o México, bastante confiante.

Essa reversão parcial da sorte relativa obscureceu algo do brilho brasileiro. Autoridades mexicanas ciumentas não franzem mais o cenho quando ouvem falar do país que começa com "B" como costumavam fazer. Ainda assim, o Brasil oferece pelo menos uma lição importante. Nos últimos 17 anos gozou de uma sequência encantada de presidentes notáveis, a começar por Fernando Henrique Cardoso. Em contraste, o último presidente mexicano a mostrar liderança genuína foi Carlos Salinas - e seu mandato acabou de forma controversa em 1994. Pode ser esperar demais que Enrique Peña Nieto, de 45 anos e boa presença na TV, candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI), traga uma visão estratégica no estilo brasileiro, caso vença a eleição de 1º de julho, como indicam as pesquisas de opinião pública. É verdade que Peña se comprometeu a abrir a Pemex ao capital externo e a economia a uma maior concorrência. O PRI, no entanto, passou 12 anos na oposição derrubando iniciativas similares, portanto, há dúvidas legítimas.

Com o tamanho do Brasil, é improvável que o país volte a ceder a liderança na América Latina. Ainda assim, pensando no longo prazo, as perspectivas para o México podem ser bem mais favoráveis do que muitos - como os mexicanos melancólicos descritos por Slim - acreditam. (Tradução de Sabino Ahumada)



John Paul Rathbone, é editor de América Latina do FT.


Nenhum comentário:

Postar um comentário