quarta-feira, 11 de abril de 2012

Dilma diz que indústria sofre, mas...


Valor 11/04
A presidente Dilma Rousseff rejeitou ontem o protecionismo econômico como receita para o Brasil preservar a indústria nacional, em um discurso na prestigiada Universidade de Harvard, num momento em que crescem acusações de que o país impõe barreiras contra a concorrência de internacional. "Temos uma indústria complexa que sofre no momento atual, mas que sobreviverá", disse Dilma. Para ela, o eventual fechamento do mercado às importações não contribuiria em nada para o aumento da competitividade do país. "Pelo contrário", afirmou.

Respondendo a perguntas de uma plateia sobretudo de estudantes, Dilma evitou criticar o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e teve que responder sobre direitos humanos. Para ela, há uma politização do tema para acusar determinados países. "Não tenho como impedir o que acontece em todas as delegacias do Brasil", disse. "Sei o que acontece em Guantánamo." Ela defendeu a discussão do tema de forma multilateral, em todos os países. Dilma tem sido criticada pela suposta suavidade com que trata acusações de direitos humanos em países como Cuba.

Ela fez a defesa da política econômica brasileira um dia depois de, em declaração ao lado do presidente americano, Barack Obama, ter acusado os países desenvolvidos de adotarem políticas monetárias e cambiais que prejudicam o crescimento dos emergentes. Ela encerrou ontem uma visita oficial de dois dias aos Estados Unidos

Em Harvard, Dilma disse que países desenvolvidos superavitários e que detêm a confiança dos mercados se abstêm de promover expansões fiscais e fazem uso excessivo de políticas monetárias para expandir suas economias. Isso, afirmou, cria "uma forma de concorrência via desvalorização das moedas que afeta e produz graves problemas na indústria."

O Brasil vem sendo criticado no exterior por adotar algumas medidas de proteção, incluindo o aumento da tarifa de importação sobre automóveis para empresas que não têm fábricas no país. Os Estados Unidos se queixam da exigência de conteúdo nacional na exploração de petróleo.

Um assessor da presidência da República informou que Dilma convidou ontem uma das mais prestigiados institutos de ensino e pesquisa dos Estados Unidos, o Massachusetts Institute of Technology (MIT), a instalar uma unidade no Brasil, como parte de um esforço maior do governo para vencer alguns dos principais gargalos ao crescimento do país, os baixos investimentos em inovação e a falta de mão de obra especializada.

O ministro da Educação, Aloizio Mercandante, foi mais além e disse que o MIT já teria se comprometido a instalar uma unidade no país. Um porta-voz da universidade, porém, disse que "o MIT não estabelece filiais de seus campus no exterior". Ontem, Dilma se reuniu com a reitora do MIT, Susan Hockfield, nos segundo e último dia de sua visita oficial aos Estados Unidos. Durante a visita, foi assinado um memorando entre o MIT e o Instituto Tecnológico da Aeronaútica (ITA) que poderá incluir a colaboração em pesquisas aeroespaciais. Um assessor próximo de Dilma disse que, na ocasião, ela convidou o MIT a se instalar no país.

O diagnóstico do governo é que, sem investimentos em educação, pesquisa e tecnologia, será difícil o país sustentar altas taxas de crescimento econômico. A participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) caiu a 14,6% em 2011, bem abaixo do pico de 27,2% observado em 1985, em parte devido ao fracos ganhos de produtividade. O crescimento econômico tem pressionado o mercado de trabalho, incluindo setores mais especializados, como engenharia.

O governo pretende investir US$ 3,2 bilhões em bolsas de estudos para levar 75 mil estudantes brasileiros a estudar no exterior, dentro de um programa conhecido como "Ciência sem Fronteiras". Até agora, foram selecionados 15 mil bolsistas.

SÃO PAULO - O investimento em máquinas e equipamentos começou 2012 em queda. O consumo aparente de bens de capital encolheu 13,7% no primeiro bimestre deste ano na comparação com igual período do ano passado. O tombo da produção nacional (descontada a exportação) somada à importação no setor é o maior nessa base desde 1999, segundo cálculos do Itaú Unibanco, com exceção de 2009, ano em que a crise atingiu em cheio a demanda por máquinas e equipamentos e a absorção doméstica desses itens caiu 24% no acumulado de janeiro e fevereiro sobre o início de 2008.

Consumo interno de máquinas recua 13% no 1º bimestre



A capacidade ociosa da indústria, na visão de Aurélio Bicalho, economista do Itaú que fez os cálculos a pedido do Valor, ainda está elevada e desestimula investimentos para ampliar a oferta de bens manufaturados. Como uma fatia importante do investimento é determinada pela atividade industrial, a perspectiva é de recuperação lenta, mais visível a partir do segundo semestre. Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), a média do Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) na indústria alcançou 83,7% no primeiro trimestre do ano, acima da média do quarto trimestre de 2011, mas ainda inferior à media dos três trimestres anteriores.

Para Bicalho, a forte retração, contudo, não deve ser vista como tendência para o ano. O resultado negativo está contaminado pela entrada em vigor das novas normas de emissão de poluentes para caminhões, que antecipou a fabricação de veículos pesados no ano passado e a paralisou em janeiro. No primeiro bimestre, a produção de bens de capital equipamentos de transporte - categoria onde se encaixam os caminhões - caiu 23,2% sobre o mesmo período de 2011, enquanto, na média, a indústria de bens de capital produziu 14,6% menos nessa comparação, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Sem uma queda tão forte na produção de caminhões, o recuo no consumo interno de bens de capital seria menor. Se os equipamentos de transporte tivessem mostrado o crescimento médio dos últimos quatro meses de 2011 em janeiro e fevereiro, calcula Bicalho, o consumo aparente de máquinas teria caído 5,3% na comparação entre o primeiro bimestre de 2011 e o de 2012. O tombo seria menos drástico, mas não impediria um novo desempenho pífio do investimento dentro do Produto Interno Bruto (PIB) neste primeiro trimestre, na sua avaliação.

"É um quadro parecido com o que temos visto nos últimos trimestres", diz, referindo-se ao recuo de 0,4% da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e construção civil) entre o terceiro e o quarto trimestre do ano passado, feitos os ajustes sazonais, e ao fraco crescimento de 0,2% no último trimestre de 2011.

Levando em conta o comportamento sofrível da produção de bens de capital no primeiro bimestre, Bicalho não descarta que a formação bruta de capital fixo registre queda no primeiro trimestre do ano em relação ao trimestre anterior na série dessazonalizada. Essa possibilidade reforça a análise do Itaú de que a economia irá deslanchar apenas a partir da segunda metade do ano, com ritmo mais rápido do investimento. Na avaliação dos economistas, quando a economia recuperar fôlego as recentes medidas adotadas pelo governo para acelerar o investimento, como a redução de juros nos programas do BNDES, surtirão mais efeito.

As estimativas do Itaú sobre o consumo aparente de máquinas também incluem uma maior venda da produção local ao exterior neste começo de ano. A exportação de bens de capital, segundo a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), aumentou 23,9% em volume no primeiro bimestre frente igual período de 2011, número considerado forte por Rodrigo Branco, economista da Funcex.

Ele destaca que o desempenho das vendas externas não é uniforme entre os segmentos analisados. Enquanto o volume de exportação de outros equipamentos de transporte - que inclui maquinário agrícola - saltou 83,5% entre o primeiro bimestre de 2011 e igual período de 2012, as vendas de máquinas, aparelhos e materiais elétricos aumentou apenas 5,3% em igual período. "A Argentina é um grande produtor de bens agrícolas e importa muitas máquinas brasileiras", explica Branco, para quem a exportação expressiva desses bens é tendência.

Para Bicalho, o número alto do primeiro bimestre se deu em cima de uma base de comparação fraca e não sinaliza desempenho acima do normal para a exportação de máquinas, já que as vendas externas desses bens, na verdade, estão apenas voltando ao seu nível pré-crise. "Ainda não vejo uma recuperação muito forte", diz, ressaltando que o volume exportado de bens de capital no primeiro bimestre foi 21% menor do que no mesmo período de 2008.

Segundo o economista da Funcex, não é possível concluir que a produção se voltou para o exterior após enfraquecimento do consumo doméstico, já que, no primeiro bimestre do ano, a importação de bens de capital continuou crescendo. De acordo com a Funcex, a alta foi de 8,8% em relação ao primeiro bimestre de 2011. "A variação foi positiva, mas insuficiente para evitar a fraqueza nos dados de produção, que acabam sendo mais relevantes para a determinação do consumo aparente", observa Bicalho.

Em março, as importações totais subiram 1,7% pela média diária sobre o mesmo mês do ano anterior em valor, enquanto as compras de bens de capital recuaram 3,2% na mesma comparação, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Para especialistas, os dados refletem uma menor confiança da indústria.

Do lado da produção, o crescimento dos setores pesquisados pelo IBGE também é divergente nos primeiros dois meses do ano. A fabricação de bens de capital agrícolas cresceu 17,4% em relação ao primeiro bimestre de 2011 e a de bens de capital para fins industriais, 4,4%, ao passo que a produção de bens para o setor de energia elétrica caiu 31,4% no período, seguida pelo segmento da construção, cuja atividade encolheu 9,2%.

Segundo Bicalho, o avanço nos primeiros dois setores indicam que a produção foi exportada. Já no ramo de maquinaria para construção civil, o economista afirma que, embora esse setor não esteja passando por desaceleração significativa, é normal os investimentos serem adiados em um cenário de incerteza global. "O investimento se ressente de forma mais intensa nesse quadro."




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