quarta-feira, 18 de abril de 2012

Fluxo é forte, mas dólar segue em alta



Por Eduardo Campos - Valor 18/04
De São Paulo

Nos últimos quatro dias, cerca de US$ 10 bilhões foram movimentados no mercado interbancário de câmbio, onde são contabilizadas entradas e saídas de moeda estrangeira. No entanto, essa montanha de dinheiro não foi vista nas mesas de operação.

Como o Banco Central (BC) está firme na compra de moeda no mercado à vista, tendo realizado oito atuações no período, a ideia é que a maior parte dos dólares adquirido seja resultado de entrada de moeda estrangeira.

No entanto, nem o preço do dólar, nem o mercado de cupom cambial (taxa de juro em dólar no mercado local) sugerem isso. O mercado não identificou qualquer pressão de baixa. O preço do dólar continua subindo.

Desde quinta-feira, o dólar comercial subiu 1,25%. Apenas no pregão de ontem, a moeda avançou 0,76%, para R$ 1,858 na venda, segunda maior cotação do ano. A esse preço, a perda do dólar em 2012 foi praticamente zerada, caindo para 0,60%.

No mercado de cupom cambial, a taxa de curto prazo que estava em 0,80% no fim de março, fechou ontem a 1,75%, a maior desde o começo de fevereiro. Basicamente, essa taxa sobe quando a oferta de moeda à vista cai.

Interessante notar, também, que, por ora, toda a movimentação está concentrada no mercado físico de moeda, tendo em vista que as posições dos principais agentes do mercado futuro não apresentam variação expressiva agora em abril.

Com isso, cresce a expectativa sobre os dados do fluxo cambial que saem hoje e na próxima semana. Com eles será possível ver por qual conta (comercial ou financeira) esse dinheiro todo foi movimentado, quanto o BC tirou de circulação (lembrando aqui, que são os bancos que decidem vender ou não para o BC) e como está a posição das instituições financeiras no mercado à vista.

Por ora, apenas especulações sobre o que pode estar ocorrendo. Segundo um tesoureiro, mesmo com o volume crescendo nos últimos dias, o BC deixou o mercado "seco" com suas atuações.
A autoridade monetária fez leilões de compra mesmo com o dólar em firme alta. Para alguns agentes, isso mostraria que o BC não está simplesmente enxugando fluxo, mas sim tentando influenciar preço.

Para o diretor da Renova Corretora de Câmbio, Carlos Alberto Abdalla, parte dessa movimentação do câmbio pode ser relacionada com o corte da Selic esperado para hoje.

"Não teria outro motivo para tal comportamento da moeda" diz o especialista, acreditando que a nova redução do juro básico (ou a expectativa de mais cortes) não estaria completamente embutida na taxa de câmbio e nos contratos que relacionam o dólar com a taxa de juros.

Mais no campo da percepção do que dos fatos passíveis de comprovação, alguns gestores avaliam que o BC está sim atuando para influir na direção do dólar.

Afinal de contas, a Selic está caindo, bem como o ritmo da atividade doméstica e a inflação no mercado local. Assim sendo, nada mais natural do que uma taxa de câmbio menos valorizada.

Encerrando com os juros futuros, o mercado ganhou volume e as taxas apontaram para baixo.

Os contratos mostram uma redução de 0,75 ponto percentual na Selic, que cairia a 9% ao ano, ao fim da reunião de hoje do Comitê de Política Monetária (Copom).

As taxas futuras também embutem a possibilidade de 50% de mais uma redução, só que de 0,25 ponto, na reunião de maio.

Atenção voltada ao comunicado, que pode acenar ou não o fim do ciclo de corte da Selic.

Nenhum comentário:

Postar um comentário