quinta-feira, 19 de abril de 2012

Copom segue o script e reduz juro para 9% ao ano



Por Mônica Izaguirre e Murilo Rodrigues Alves - Valor 19/04
De Brasília

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) cumpriu o que sinalizou na ata da reunião de março e reduziu a taxa básica de juros da economia em mais 0,75 ponto percentual. A decisão foi tomada em reunião encerrada há pouco. O corte, que levou a Selic para 9% ao ano, já era esperado pelo mercado. A decisão foi unânime.
No comunicado, o Copom "considera que, neste momento, permanecem limitados os riscos para a trajetória da inflação. O colegiado nota ainda que, até agora, dada a fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária. Diante disso, dando seguimento ao processo de ajuste das condições monetárias, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 9% ao ano, sem viés".
A grande pergunta que faz o mercado a partir de agora é por quanto tempo a taxa permanecerá nesse nível. Na ata da reunião anterior, quando a Selic caiu de 10,5% para 9,75% ao ano, o Copom sinalizou que o ciclo de afrouxamento monetário iniciado no fim de agosto de 2011 terminaria quando o juro básico chegasse a 9% ao ano.

No texto, o comitê disse ser "elevada a probalibilidade de concretização de um cenário que contempla a taxa Selic se deslocando para patamares ligeiramente acima dos mínimos históricos e nesses patamares se estabilizando".

O mínimo histórico é de 8,75% ao ano, nível que vigorou de 23 de julho de 2009 a 28 de abril de 2010. Daí, a expectativa de que a Selic se estabilize em 9%. A questão é por quanto tempo.

Pesquisa feita pelo Valor com 32 instituições mostrou que 29 acreditam que a Selic não cai de novo neste ano. Somente três das empresas consultadas acreditam que haverá no corte ainda em 2012, de 0,25 ponto percentual, para 8,75% ao ano.

A mediana das projeções colhidas pelo BC na última edição da pesquisa Focus sugere que a Selic deverá permanecer nesse nível pelo menos até o fim de 2012. As projeções das cinco instituições que mais acertam previsões também apontam Selic em 9% ao ano em dezembro de 2012.

A mediana do agregado só se diferencia da mediana do chamado Top 5 no que se refere ao nível da Selic no fim de 2013. Enquanto a do conjunto da pesquisa aponta juro em 10% ao ano, a do Top 5 indica que a taxa permanecerá em 9% ao ano até fim do ano que vem.

Copom deixa porta aberta para novos cortes na Selic


O esperado comunicado da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) não indicou que a Selic seguirá caindo, tão pouco foi claro em dizer que o ciclo de corte acabou.

Com isso, a perspectiva é de queda nas taxas de juros futuros negociadas na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).

As taxas futuras já vinham mostrando uma chance de 50% de redução da Selic para baixo dos 9%. E tal movimentação pode ser reforçada hoje.

Na avaliação do economista para América Latina do Standard Chartered, Ítalo Lombardi, o comentário do BC foi curto e sem grandes novidades, ainda assim, o tom foi de tranquilidade.

O BC fala em riscos limitados para a trajetória da inflação e que dada a fragilidade da economia mundial, a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária.
"O tom do comunicado parece deixar a porta aberta para novas reduções", diz o economista.

Ainda de acordo com Lombardi, não é possível extrair informação de que o BC entrou em pausa. Ou seja, segura a taxa em 9%, com a possibilidade de novas reduções até o fim do ano.

Na visão do economista-sênior do Espirito Santo Investment Bank, Flávio Serrano, o comunicado não deixa claro que o ciclo de afrouxamento acabou.

Por isso mesmo, não pode ser descartada a possibilidade de novas reduções.

Como o BC foi "curto e grosso" no comunicado, a ata será elemento fundamental para a formação mais clara das expectativas. Segundo Lombardi, o foco estará voltado ao parágrafo no qual a autoridade monetária revelou sua intenção de levar a Selic para próximo das mínimas históricas.

Se fôssemos levar a comunicação oficial ao pé da letra, seria possível afirmar que o BC encerrou o ciclo ou colocou em pausa, pois o objetivo era levar o juro básico para próximo de 8,75%, justamente a mínima histórica.

O economista-chefe do Santander, Maurício Molan, observa que a redução anunciada ontem coloca a taxa real de juros brasileira em 3,5% ao ano, se considerada a diferença entre a nova Selic e a expectativa da inflação para os próximos 12 meses.

Ele destaca que esse nível de juro real é o mínimo histórico, "o que demonstra uma preocupação da autoridade monetária com o ritmo de crescimento da economia e com o ambiente internacional volátil".

O corte decidido pelo Copom estaria associado, portanto, à preocupação com o nível da atividade econômica e não só com a inflação, em tese, única meta que o Banco Central deve perseguir.

Molan reconhece, no entanto, que "a conjuntura inflacionária é begnina", o que "permite uma ação de política monetária mais agressiva".
A inflação do IPCA acumulada em 12 meses deve fechar o terceiro trimestre deste ano em 4,7%, segundo as projeções do Santander.

O economista-chefe da instituição acrescenta que "o forte afrouxamento monetário" tende a contribuir para redução da inadimplência dos empréstimos e financiamentos, para a expansão do crédito e para a retomada de um crescimento mais forte ainda em 2012.

A redução de 0,75 ponto percentual nesta reunião do Copom era a aposta majoritária do mercado. A pesquisa feita pelo Valor na semana passada mostrou que 31 de um total de 32 instituições consultadas acreditavam que esse seria o tamanho do corte. Apenas uma apostava em redução de meio ponto percentual.

O patamar de 9% decidido é o menor desde 29 de abril de 2010.

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