terça-feira, 24 de abril de 2012

Inadimplência estoura


Inadimplência segue em alta e Bradesco breca o crédito

Valor 24/04

Num momento em que os bancos privados estão sob pressão para reduzir as taxas de juros, o Bradesco mostra que continua a conviver com a alta dos calotes. Com o aumento da inadimplência no período entre janeiro e março, as despesas com provisões para devedores duvidosos na instituição atingiram R$ 3,09 bilhões, um crescimento de 30,1% na comparação com igual trimestre de 2011. O estoque de crédito ficou praticamente estável em relação ao quarto trimestre de 2011, com leve alta de 0,4%, para R$ 269,7 bilhões (sem avais, fianças e outros).

A comparação entre o fim do ano, um período tradicionalmente mais forte para o crédito por causa do 13º salário, é sempre pouco precisa para indicar tendências. Mas, de janeiro a março do ano passado, a carteira de empréstimos do Bradesco tinha crescido mais: 4% em relação ao período encerrado em dezembro de 2010. "No primeiro trimestre, apenas o consignado (+ 3,3%) e o financiamento imobiliário (+10,3%) tiveram uma expansão significativa em relação a dezembro", escreveram ontem os analistas do Goldman Sachs em relatório. Em 12 meses, o crescimento do estoque de empréstimos no Bradesco foi de 12,4%. O resultado disso foi também uma expansão mais modesta do lucro líquido no primeiro trimestre, que cresceu 3,4% em relação ao mesmo período de 2011, para R$ 2,79 bilhões. Em relação ao quatro trimestre de 2011, o crescimento foi de 2,5%.

A piora na qualidade da carteira deveu-se principalmente ao maior atraso no pagamento das pessoas físicas e das micro, pequenas e médias empresas. A inadimplência total acima de 90 dias atingiu 4,1%, com aumento de 0,2 ponto percentual em relação ao quarto trimestre de 2011. Na comparação com igual trimestre de 2011, a alta foi de 0,5 ponto percentual.

O banco prevê que o ano termine com uma taxa de inadimplência de 3,9%, igual à registrada em dezembro do ano passado. Segundo Luiz Carlos Angelotti, diretor-gerente do banco, o índice já deve mostrar estabilidade ao longo deste trimestre, com redução a partir de julho. O banco espera uma estabilização do volume de pagamentos atrasados desde agosto do ano passado, mas os índices só têm crescido, acompanhando a tendência do sistema financeiro.

Em teleconferência com jornalistas, Angelotti não descartou a possibilidade de nova redução das taxas de juros de algumas linhas como forma de se defender da concorrência. "Estamos avaliando. Novas providências devem ser adotadas." Diante da estratégia mais agressiva dos bancos públicos, o executivo afirmou que o objetivo do Bradesco é ao menos manter a participação de mercado atual no crédito, de 12%.

O que contribuiu para o resultado do banco foram as operações de tesouraria, a desaceleração dos gastos administrativos e o resultado da seguradora do grupo. A Bradesco Seguros representou 32% do resultado do banco, contra 28% no primeiro trimestre de 2011 e 31% no quarto trimestre.

Depois de abrir mais de mil agências no ano passado, os gastos administrativos do banco começaram a entrar em rota de queda. No primeiro trimestre deste ano, houve uma redução de 8% nos gastos administrativos e de pessoal na comparação com o último trimestre de 2011. "O banco buscará compensar a pressão nas margens com a maior busca por eficiência", disse Angelotti.

Com os problemas enfrentados pelo crédito, o retorno sobre o patrimônio líquido do banco encerrou março em 21,4%, com uma queda de 2,8 pontos percentuais ante igual período de 2011 e estável (- 0,1 ponto percentual) em relação ao quarto trimestre.

O ritmo mais vagaroso da expansão do crédito divulgado pelo Bradesco pode ser a tônica do que está por vir ao longo desta semana nos balanços dos demais bancos privados, explicando também a campanha que o governo iniciou pela redução das taxas de juros cobradas nos empréstimos. Hoje é a vez de o Itaú Unibanco mostrar seu balanço, seguido pelo Santander Brasil na quinta-feira.

Na quarta-feira, o Banco Central (BC) divulgará o relatório das operações de crédito do sistema financeiro nacional em março. Até fevereiro, os dados oficiais indicavam uma expansão de 0,2% do crédito no acumulado do ano e de 17,3% em 12 meses. Mas os bancos públicos vinham mais acelerados, com alta de 0,8% no ano e de 22,2% em 12 meses. Com as recentes campanhas de redução do custo do crédito, Banco do Brasil e, principalmente, Caixa Econômica Federal podem acabar roubando mercado dos bancos privados, dependendo do contra-ataque que Bradesco, Itaú e Santander montarem.

Com inadimplência em alta, lucro do Itaú cai 3% no 1º trimestre

FSP 24/03

O Itaú Unibanco informou nesta terça-feira que teve lucro líquido de R$ 3,426 bilhões no primeiro trimestre, queda de 2,95% na comparação com o mesmo período de 2011 e retração de 6,93% ante o quarto trimestre do ano passado. A instituição trabalha com a maior taxa de inadimplência em mais de dois anos, em meio a um cenário de redução dos juros bancários.

Já o lucro líquido recorrente (excluindo ganhos e perdas extraordinárias), atingiu R$ 3,544 bilhões entre janeiro e março, redução de 2,6% em relação ao mesmo período do ano anterior e de 5,4% frente ao trimestre anterior.

"Essas reduções devem-se ao continuado cenário de aumento da inadimplência na economia brasileira que impacta a qualidade do crédito", informou no comunicado.

Os pagamentos com atraso acima de 90 dias atingiram 5,1% do total de empréstimos, crescendo 0,2 ponto percentual em relação a dezembro de 2011 e 0,9 ponto percentual em relação a março do ano anterior. A taxa é a maior desde dezembro de 2009. No caso do consumidor pessoa física, a inadimplência ficou em 6,7%, pior resultado desde março de 2010, quando ficou no mesmo nível.

Diante desse cenário, o banco elevou o valor reservado para créditos duvidosos, em que há risco de calote. A cifra cresceu 37,7% na comparação com o mesmo período do ano passado, para R$ 6,03 bilhões, e pesou sobre o desempenho do grupo no trimestre.

Preocupante, o dado sinaliza que será difícil para as instituições financeiras, especialmente as privadas, reduzir agressivamente os juros e elevar a oferta de crédito no país, como propagam Banco do Brasil, Caixa Econômica e o governo Dilma.

A carteira de crédito, incluindo operações de avais e fianças, alcançou o saldo de R$ 400,519 bilhões em 31 de março, com acréscimo de 0,9% em relação ao saldo do quarto trimestre de 2011 e de 16,1% em relação ao mesmo período do ano anterior.
No segmento de pessoas físicas, os destaques no trimestre foram as carteiras de crédito imobiliário e de crédito pessoal, com evoluções de 8,5% e 6,5%, respectivamente.

Entre pessoas jurídicas, houve crescimento de 1,1% no trimestre.

Os ativos totais do Itaú Unibanco somaram R$ 896,8 bilhões entre janeiro e março, alta anual de 15%, enquanto o retorno sobre patrimônio líquido médio anualizado caiu de 22,7% para 19,3% em 12 meses.

Calotes em alta derrubam lucro do Itaú Unibanco



Valor 25/04

Depois de arranhar os números do Bradesco, a inadimplência deste começo de ano deixou marcas também no balanço do Itaú Unibanco, divulgado ontem.

O lucro líquido do maior banco privado do país recuou para R$ 3,42 bilhões no acumulado de janeiro a março, uma queda de 2,96% na comparação com igual período de 2011. "A inadimplência é o ponto de maior atenção [do banco] agora. O crescimento dos pagamentos em atraso tem sido muito grande desde 2010", disse Rogério Calderón, diretor de relações com investidores do Itaú, em teleconferência com analistas.

O banco registrou no trimestre despesas de R$ 6 bilhões para cobrir os pagamentos em atraso, que estão em ascensão no Itaú desde setembro de 2010. O índice de inadimplência encerrou março em 5,1% do total da carteira de crédito, com alta de 0,2 ponto percentual na comparação com dezembro.

Analistas de diversas casas manifestaram preocupação com a tendência dos calotes no Itaú. As ações caíram 1,06%, num dia em que o Ibovespa subiu 0,7%. E a notícia para os investidores não foi das mais animadoras: a qualidade da carteira de empréstimos ainda vai piorar mais. "A inadimplência ainda crescerá nos próximos dois trimestres. E, depois, a queda será mais lenta do que o crescimento que houve", afirmou Calderón.

Uma pista disso é que os atrasos de curto prazo (que vão de 15 a 90 dias) permanecem em elevação. No caso das pessoas físicas, atingiu os 7,9% - aumento de um ponto percentual sobre dezembro.

O Itaú Unibanco fez questão de destacar que a deterioração dos atrasos torna difícil atender o pleito do governo de reduzir os spreads bancários. "O banco gostaria de poder reduzir mais as taxas de juros, mas enxergamos a inadimplência ainda em alta", acrescentou o executivo.

O relatório do Itaú destacou que o spread líquido do banco, já descontadas perdas com inadimplência, ficou em 7,4% em março, com uma queda de 0,6 ponto percentual em relação a dezembro -o spread bruto ficou em 13,5%. A redução, disse Calderón, se deve ao crescimento da inadimplência, que já vem corroendo parcela dos ganhos das instituições financeiras. O Itaú fez questão de evidenciar em sua divulgação de resultados o crescimento da inadimplência e a consequente redução do spread líquido. E fez isso levando em conta toda a polêmica atual em torno da redução dos spreads bancários. Analistas aventaram a hipótese de que os bancos poderiam lançar mão de provisões mais caprichadas, com consequente redução do lucro nesse contexto.

No entanto, embora as despesas com provisões estejam em ascenção em termos absolutos, o volume do estoque de provisões como proporção dos créditos em atraso - conhecido como índice de cobertura da carteira - está em queda no banco desde setembro de 2010. Chegou agora a 148% dos atrasos acima de 90 dias, com uma queda de quase 50 pontos percentuais desde setembro de 2010, quando a instituição financeira começou a sentir a inadimplência. E essa redução do índice vem num cenário de crescimento minguado do crédito, ou seja, é ditada pelo aumento da inadimplência.

Diante dos pagamentos em atraso, o Itaú decidiu desacelerar os desembolsos de novos créditos. Em relação a dezembro, a carteira de financiamentos e empréstimos (sem avais e fianças) teve um crescimento de 0,55%, para R$ 347,3 bilhões, puxado por empresas.

Nas operações de varejo, o banco não apresentou crescimento, e até encolheu no caso das transações de veículos e com cartão de crédito. Em relação a março de 2011, a carteira de empréstimos teve uma expansão de 14,4%.

Apesar dos números mais fracos, o banco optou por ainda não mudar a projeção de expansão da carteira neste ano, que está entre 14% e 17%. Eventuais mudanças, segundo Calderón, serão feitas em meados do ano.

Enquanto as condições de crédito pioraram, o Itaú Unibanco mostrou uma melhora de eficiência no primeiro trimestre deste ano. O índice de eficiência - que mede o quanto um banco precisa gastar para gerar receitas - encerrou março em 44,5%, melhor patamar dos últimos oito trimestres. Em dezembro, esse indicador estava em 47%. Quanto menor o índice do banco, mais eficiente ele é.

Concluída a integração de Itaú e Unibanco, que se uniram em 2008, o banco quer chegar a 2013 com um índice de eficiência de 41%. "As despesas administrativas caíram 10,6% (R$ 405 milhões) e as despesas de pessoal aumentaram 2,5% (R$ 84 milhões) no trimestre", informou o banco em relatório.

Novo perfil dificulta previsão de inadimplência


Os bancos podem até tentar, mas como bem sabem os profetas, prever o futuro não é tarefa das mais fáceis. Que o diga o Itaú, que viu uma salto inesperado da inadimplência corroer seus resultados. "Houve uma redução do crescimento do país, o que não era esperado", disse Rogério Calderón, diretor de relações com investidores do Itaú Unibanco.

A consequência é que os modelos de análise de risco de crédito, ferramenta estatística usada pelos bancos para projetar a inadimplência das carteiras, passam por revisão. "Os modelos são sempre revisitados. Essa desaceleração do crescimento já nos levou a uma mudança do modelo no fim de 2010 e início de 2011. Reduzimos a aprovação de cartão de crédito e de financiamento de veículos, por exemplo", disse.

O caso do Itaú serve de exemplo para um problema que atormenta o sistema bancário brasileiro: como adaptar os modelos de análise de crédito a um mercado que é radicalmente diferente do visto no passado?

"Nos últimos anos, o mercado de crédito passou por uma mudança estrutural grande. As alterações dos modelos precisam acompanhar essas transformações", diz o professor Alberto Borges Matias, da Universidade de São Paulo. No coração dessa mudança, ele posiciona a entrada das classes C e D no mercado e a concentração do sistema em poucos participantes.

Como os modelos de risco são essencialmente baseados no passado, fica difícil acertar em meio às mudanças qual é o perfil do tomador que vai dar calote. Segundo um executivo da área de crédito de um grande banco brasileiro, a onda de novos participantes do sistema financeiro, com um comportamento distinto do observado historicamente, exige que as instituições financeiras refinem as modelagens no critério de renda. "A arte está em calibrar seu apetite de risco. Não é sempre que se acerta nessa medida", diz.

"Sistemas que explicavam a inadimplência com maior enfoque no desemprego já não funcionam. Algumas variáveis do passado já não se aplicam", diz Wermeson França, economista da LCA Consultores. Ele acredita que o comprometimento da renda deve ganhar espaço como critério usado na concessão de empréstimos.

É justamente esse critério que vem sendo reforçado no financiamento a veículos. Se em 2010, os bancos costumavam exigir que o cliente tivesse uma renda superior a três vezes o crédito contratado, hoje essa relação é de quatro vezes, conta Antonio Carlos Altheim, da concessionária Volkswagen Corujão, em Curitiba.

A mudança no perfil da classe média também é um fator que dificulta a previsão de calote. "A antiga classe média tinha sempre um lastro para fazer caixa. Era um segundo carro, um terreno, um dinheiro com parente... A classe média de hoje recorre a mais crédito quando falta dinheiro no caixa", diz Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi).




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