terça-feira, 13 de março de 2012

Nova medida puxa dólar para R$ 1,80



Por Eduardo Campo  - Valor 13/03
De São Paulo

A semana começou com forte volatilidade no mercado de câmbio. O dia teve momentos de pânico com o dólar subindo 2,75% no mercado à vista e 2,30% no mercado futuro, onde a linha de R$ 1,840 foi rompida na máxima do dia.

Mas no fechamento, parece que todo o mal foi apenas momentâneo. O dólar comercial encerrou com alta de 1,12%, a R$ 1,805 na venda. No mercado futuro, o contrato para abril subia apenas 0,27%, a R$ 1,8065, antes do ajuste final, menor preço do dia.

Da mínima do ano, registrada em 28 de fevereiro, a R$ 1,699, o dólar comercial sobe 6,24%. No ano, a moeda perde 3,4%. Mas essa queda no ano já chegou a 9,10%.

Na relação inversa, o real é a moeda que mais perde para o dólar ante pares emergentes e desenvolvidos no mundo neste começo de mês.

O fim do pregão foi o exato oposto do que se ouviu ao longo do dia. Os comentários davam conta de ingressos de exportadores e investidores realizando lucros em posições compradas em moeda americana.

Até então, o que reinava era o medo de mais medidas cambiais aliado a uma sequência de "stop loss", no mercado. Quem tinha posição vendida em moeda americana foi obrigado a mudar de mão e rápido para não perder mais dinheiro. E sempre que esses "stops" são acionados, o movimento de alta do dólar ganha ainda mais fôlego.

De acordo com um operador, foi perceptível a presença dos investidores estrangeiros na compra de dólar futuro no pregão de ontem. Tal percepção será confirmada hoje, quando a BM&F atualizar as posições.

Esse mesmo operador acredita que enquanto o não residente comprou, os fundos locais venderam. Afinal de contas, esses agentes tinham tomado mais de US$ 1 bilhão em contratos futuros de dólar na sexta-feira.

Conforme o real apresenta uma perda de preço mais acentuada que seus pares externos, cresce a atratividade de montar novas apostas de valorização da moeda brasileira, não só ante o dólar, mas também contra o peso mexicano e dólar australiano, por exemplo.

No entanto, o investidor tem de escolher entre a perspectiva de lucro e o risco de peitar a vontade do governo.

Segundo o chefe de economia e estratégia para o Brasil do Bank of America Merrill Lynch, David Beker, a sequência de intervenções e medidas cambiais deixa o mercado nervoso. Sai a percepção de que o governo olhava a linha de R$ 1,70, e cresce a ideia de que o "preço ideal" estaria mais próximo de R$ 1,80.

"Está claro que tem muita coordenação dentro do governo. No passado, parecia não existir tamanha coordenação entre Fazenda, Banco Central e a presidente. E parece que eles vão utilizar tudo o que têm em mãos para manter a taxa de câmbio", diz.

Ainda de acordo com o especialista, a nova ampliação no prazo mínimo de captações isentas de 6% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de três para cinco anos, foi uma grande surpresa. Primeiro, a regra já tinha sido alterada em 1º de março. E segundo, a mudança veio em um momento em que o real já estava mais depreciado.
"O mercado está com medo da atuação do governo no câmbio", diz o especialista.

No entanto, pondera Beker, há um limite para essa depreciação do real, principalmente em função da inflação.

E a linha emblemática para o mercado é R$ 1,90, que no fim do ano passado obrigou o BC a vir a mercado ofertar moeda.

É um ajuste fino, diz o estrategista, entre um câmbio mais fraco, mas até que ponto mais fraco em função do risco de inflação.

"Ainda mais agora que as expectativas começam a se mover para cima. O dólar muito alto não favorece o Banco Central", diz.

No fim das contas, diz Beker, o que vai definir o comportamento do real no decorrer do ano é a cena externa. Se o enfraquecimento do dólar continuar como fenômeno global, mais difícil a tarefa do governo.

Mas, no curto prazo, esse não parece o quadro, pois a chance de novas medidas de estímulo pelo Federal Reserve (Fed), banco central americano, está menor.

Hoje, o colegiado do Fed estará reunido e um aceno sobre a possibilidade ou não de novo "Quantitative Easing" deve ficar mais evidente.

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