quinta-feira, 1 de março de 2012
BC vai para briga e dólar fecha a R$ 1,72
Valor 01/03
Um dia depois de perder a linha de R$ 1,70, o dólar comercial registou a maior alta percentual do ano, ao subir 1,24%, e encerrar o mês a R$ 1,72.
Mesmo com essa forte alta no dia, a moeda americana encerra fevereiro com baixa de 1,55%, e acumula queda de 7,97% no ano.
Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o dólar para abril mostrava alta de 1,31%, a R$ 1,7315 antes do ajuste final.
Na há fato único por trás dessa puxada de alta, mas sim uma conjunção de fatores.
Além da maior volatilidade promovida pela rolagem e vencimento de contratos futuros de dólar, o dia contou com duas atuações do Banco Central (BC) no câmbio, grande instabilidade externa e novas conversas sobre medidas cambiais.
O pregão abriu pautado pelos vendedores, que levaram o dólar comercial para R$ 1,692 na mínima do dia, mas logo o BC acabou com a alegria dos vendidos ao anunciar uma oferta de swap cambial reverso (operação que equivale à compra de dólares no mercado futuro).
O anúncio de swap reverso já mudou o rumo do dólar, mas a alta tomou fôlego mesmo com a divulgação do resultado da operação, que mostrou firme demanda. Foram colocados 30,5 mil contratos, o equivalente a US$ 1,523 bilhão.
Ainda pela manhã, a autoridade monetária voltou à cena com uma compra à vista, que teve taxa de corte de R$ 1,7032. Em fevereiro, foram 12 atuações do BC nos mercados a termo, à vista e futuro (via swap reverso).
Olhando para frente, não há consenso sobre qual rumo o dólar pode tomar. Como o temor com possíveis medidas é crescente, alguns investidores mostraram preferência por zerar posições e esperar para ver.
Outros, no entanto, acreditam que a alta de ontem foi um importante ponto de entrada para quem perdeu a queda recente - ou seja, dólar para cima igual a oportunidade de venda.
Para o economista e professor da PUC-Rio, André Cabus Klotzle, o movimento comprador vem do BC e de alguns investidores realizando lucros, já que a atual injeção de recursos por parte do Banco Central Europeu (BCE) (mais € 500 bilhões), somada às demais medidas do Banco da Inglaterra (BoE) e Banco do Japão (BoJ) somam ainda mais liquidez ao mercado global, e esses recursos buscam rendimento em commodities, renda variável e, principalmente, moedas emergentes.
Nesse sentido, e tendo em vista o elevado diferencial entre a taxa de juros brasileira e internacional, além do baixo risco-país, sólido crescimento e bons fundamentos fiscais, o real se torna uma das moedas preferidas dos investidores estrangeiros", diz Klotzle.
Desse modo, acredita o economista, é possível antever que as atuações do Banco Central vão se tornar inócuas, tanto pelo montante de fluxo esperado, aumento de posições vendidas de estrangeiros e bancos, quanto pelo caráter de previsibilidade das intervenções.
No curto prazo, a autoridade monetária até consegue manter o câmbio acima de R$ 1,70, mas a médio prazo, diz Klotzle, o BC se torna perdedor, com prejuízos via ajuste de swaps cambiais reversos e perda de valor das reservas internacionais.
"Assim sendo, as apostas em alguma medida da Fazenda ou mesmo do BC elevam-se a cada dia. Taxar novamente a renda variável não seria prudente, assim como aumentar ainda mais a taxação das posições vendidas em derivativos. Algo macroprudencial no câmbio pode estar em voga", conclui o economista.
Como ocorre toda a quarta-feira, o BC deu nova prévia sobre o fluxo cambial. Pela segunda semana seguida, as saídas superaram as entradas. Entre os dias 22 e 24 de fevereiro, o fluxo foi negativo em US$ 1,27 bilhão. Com isso, o saldo no acumulado do mês até o dia 24 caiu para US$ 5,251 bilhões. Nesse período, as atuações do BC no mercado à vista retiraram US$ 335 milhões de circulação.
No mercado de juros futuros, mais do mesmo. As taxas voltaram a cair na BM&F, apoiadas na visão e na retórica do BC sobre a existência de espaço para a redução da taxa básica de juros. Os contratos continuam sugerindo Selic entre 9% e 9,5% ao ano, em comparação aos 10,50% atuais.
Fluxo em fevereiro se reduz a US$ 3,5 bi
Por Murilo Rodrigues Alves
De Brasília
O fluxo cambial de fevereiro foi marcado por dois momentos distintos. Nos oito primeiros dias úteis do mês, entraram liquidamente US$ 7,621 bilhões no país. No entanto, esse comportamento se inverteu nos oito dias seguintes, quando as saídas de moeda estrangeira superaram as entradas em US$ 2,371 bilhões, segundo os dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC).
O saldo acumulado nos 16 dias (US$ 5,25 bilhões) é menor do que o apresentado nas semanas anteriores: US$ 7,62 bilhões até o dia 10 e US$ 6,52 bilhões até o dia 17. Para o diretor executivo da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Moura Nehme, esses números fazem cair por terra a "presunção de que está sobrando dólares no mercado".
O fluxo financeiro ainda é superavitário em US$ 3,471 bilhões no acumulado do mês. Mas, pela segunda semana seguida, essa conta foi deficitária. Especificamente entre os dias 22 e 24, houve saída líquida de US$ 657 milhões. O segmento comercial também apresentou resultado negativo na semana após o feriado de Carnaval, de US$ 612 milhões. No acumulado do mês, o câmbio vinculado ao comércio registra saldo superavitário de US$ 1,780 bilhão.
Nehme afirma que o forte ingresso de recursos de empréstimos exteriores, incluindo a captação de US$ 7 bilhões da Petrobras, foi retirado do mercado nos dois leilões a termo realizados em 3 e 8 de fevereiro. No entanto, pelos dados oficiais, não é possível saber o impacto dessas intervenções nas reservas por causa da defasagem entre o momento das operações e o da liquidação financeira, em março.
O BC informou que duas das intervenções no mercado à vista neste mês somaram às reservas US$ 355 milhões. "O fato de o BC anunciar o leilão não quer dizer que tenha adquirido dólares ou que o tenha feito em volume substantivo", explica Nehme
De acordo com o economista, o real valorizado ainda ajuda na contenção das pressões inflacionárias e permite que a autoridade monetária corte "de forma mais rápida" a taxa básica de juros.
Ele acredita, porém, que o governo deve agir para evitar os fluxos especulativos. A primeira opção seria aumentar a tributação, mas Nehme afirma que o mais recomendável seria criar "empecilhos técnicos" para evitar que se atinja "os ingressos desejáveis".
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