sexta-feira, 16 de março de 2012

Câmbio mínimo para indústria está em R$ 1,80, indica pesquisa



Por Tainara Machado - valor 16/03
De São Paulo

A taxa mínima de câmbio para que as exportações sejam competitivas está em queda desde março de 2009, embora com períodos de leve alta, segundo pesquisa mensal do departamento econômico do Bradesco feita com cerca de 2.000 empresas do setor industrial. Em 2009, o dólar deveria valer no mínimo R$ 2,20 para que as exportações mantivessem competitividade.

Acompanhando a valorização do real, o câmbio aceitável pelos industriais também veio ganhando força e chegou a R$ 1,70 em junho do ano passado. Após leve repique no segundo semestre de 2011, o patamar mínimo para o dólar indicado na pesquisa chegou a R$ 1,80 em março, abaixo do que reivindicam muitos setores organizados.

O diretor do departamento de pesquisa e estudos econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, avalia que a capacidade de alguns setores de lidar com uma taxa de câmbio mais valorizada é sinal que, nos últimos anos, uma fatia relevante das empresas conseguiu adaptar sua estrutura de custos para arcar com os desafios do real mais forte.

"Uma parcela importante das empresas mudou o mix de componentes, com a importação de partes. Para as empresas com fornecedores internacionais, uma taxa de câmbio depreciada não é interessante", afirmou.

Barros afirma que um câmbio de R$ 1,80 para a média do setor industrial seria muito razoável em um horizonte de curto prazo. No entanto, diz, é um desafio para alguns segmentos, entre eles o têxtil, que passa por problemas estruturais e gostaria, de acordo com a mediana das respostas obtidas pela pesquisa, de um câmbio mínimo de R$ 1,98 para exportar.

Para Ruy Baumer, presidente do Sindicato da Indústria de Artigos e Equipamentos Odontológicos, Médicos e Hospitalares do Estado de São Paulo (Sinaemo), o ideal, para que a indústria pudesse competir de igual para a igual no mercado internacional, seria que a moeda brasileira perdesse força e voltasse para um patamar entre R$ 2,20 e R$ 2,30 em relação ao dólar.

"As empresas, porém, conseguem sobreviver com o câmbio a R$ 1,80, ao reduzir ao máximo os custos e trocar os fornecedores nacionais de matérias-primas e componentes por insumos importados", afirmou. Outra iniciativa, explica Baumer, foi ampliar a capacidade de produção para minimizar o custo por unidade.

Como decorrência da contínua valorização da moeda nacional ante o dólar, as empresas passaram a reduzir preços e comprimir margens. "Por isso, cada vez menos companhias têm capacidade de investir em inovação, o que limitará ainda mais a competitividade dessas empresas no mercado internacional futuramente", disse o presidente do Sinaemo.

No setor, a taxa mínima de câmbio para que as exportações continuem a competir com os concorrentes internacionais é de R$ 1,79 hoje, ante R$ 1,85 em março do ano passado, de acordo com a mediana das respostas obtidas pelo Bradesco.

As importações também foram a saída encontrada por outros segmentos industriais, como o de equipamentos elétricos e eletrônicos. Para Luiz Cezar Rochel, gerente de economia da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), o setor está desnacionalizando componentes ou parte do portfólio. Nesse caso, se antes a empresa produzia cinco produtos aqui, agora fabrica três e importa os outros dois. Desse modo, o crescimento do faturamento é mantido, mas o nível de produção é bem mais fraco.

Mesmo com essa alternativa, algumas linhas de produção da indústria eletroeletrônica estão sendo fechadas, diz Rochel. Por isso, o gerente da Abinee afirma que "a taxa de câmbio a R$ 1,80 é o mínimo aceitável para que a indústria possa sobreviver, mas minha sensibilidade é de que deveria estar em torno de R$ 2,30".

No caso da indústria de móveis, as importações de produtos finais incomodam menos, mas a formação de joint ventures entre empresas brasileiras e internacionais facilitou o desembarque de componentes, como material para gavetas e armários, com custo bastante favorável, afirma Lipel Custódio, diretor da Associação Brasileira das Indústrias do Imobiliário (Abimóvel). Como parte da cadeia é hoje alimentada por importados, o câmbio mínimo para as empresas do setor, que era de R$ 1,91 em março do ano passado, passou para R$ 1,79.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Plástica (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, é mais duro e afirma que o atual patamar de câmbio é proibitivo e tira do jogo as empresas brasileiras do campo de competição internacional. "A participação das exportações na receita das empresas caiu e elas estão perdendo terreno também no mercado interno", afirma.

Segundo Coelho, o real menos apreciado serviria de contraponto ao custo Brasil, como os preços de energia elétrica e gás natural, a carga tributária e o complicado sistema de arrecadação de impostos, além da infraestrutura deficitária. Essas seriam soluções de médio e longo prazos, diz Coelho, e a indústria precisa de remédio no curtíssimo prazo, o que seria possível com a desvalorização do real.

Para Barros, do Bradesco, no entanto, não é o câmbio o principal agravante para o problema de falta de competitividade da indústria brasileira. "A maior dificuldade da indústria hoje é o fato do mundo estar abarrotado de produtos industriais, com empresas desesperadas por mercados em que há crescimento do consumo", afirma. Como o varejo no Brasil apresenta dinamismo, ainda que venha se desacelerando, o país é um claro destino para exportações, avalia.

BC compra dólares e R$ 1,80 pode ser "novo piso"


De São PauloDepois de sete dias apenas observando a movimentação do mercado, conforme o dólar saia de R$ 1,730 para R$ 1,80, o Banco Central (BC) voltou a marcar presença no mercado de câmbio.
Foram duas compras à vista, que não impediram uma queda no preço da moeda americana, mas serviram para manter o dólar acima de R$ 1,80.

Ao retomar atuação quando o dólar ameaçou perder tal linha de preço, o raciocínio imediato é de que R$ 1,80 seria o "novo piso" para o preço do dólar, depois da luta em torno do R$ 1,70.

Segundo o vice-presidente de tesouraria do Banco WestLB, Ures Folchini, o governo tem uma nova estratégia para o câmbio. Antes, esperava o dólar atingir R$ 1,70 para lançar as atuações e medidas. Agora, o BC e o governo não devem esperar para ver até onde o dólar pode cair. "Ele está querendo mudar o patamar da moeda", diz Folchini

Na visão do tesoureiro, essa "guerra cambial" tem de ser observada dentro de uma ótica de política de governo, que está focada, agora, no crescimento econômico e na manutenção dos níveis de emprego. Duas variáveis que podem ser afetadas pelo preço da moeda.

Segundo o superintendente de tesouraria do Banco Banif, Rodrigo Trotta, as atuações do BC não estavam no programa.

A sua percepção era de que a autoridade monetária deixaria o mercado trabalhar sozinho com o real no atual nível de preço. "Não que o BC tenha acenado um nível de preço. Não acredito nisso", diz o especialista. Para Trotta, ainda é cedo para se pensar nisso. Pode ser que o BC tenha atuado para retirar excesso de moeda do mercado e não para defender uma linha de preço.

De fato, o volume estimado para o mercado interbancário foi elevado, com giro de cerca de US$ 2,1 bilhões, concentrados no período da tarde. Por isso, diz Trotta, é melhor aguardar as próximas sessões para ver qual será a postura da autoridade monetária.

No fim do pregão, o dólar comercial mostrava baixa de 0,17%, a R$ 1,804 na venda. Mas antes disso caiu a R$ 1,788 (-1,05%) e subiu a R$ 1,812 (+0,28%). No mês, a moeda sobe 4,88%.

Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o dólar para abril perdia 0,46%, a R$ 1,8075, antes do ajuste final.

O BC comprou dólares às 12h10, pagando R$ 1,8057 e voltou ao mercado por volta das 15h40, tomando moeda a R$ 1,8046. O dólar chegou a subir após os leilões, mas não se sustentou.

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