quinta-feira, 29 de março de 2012

Defasagem no preço e importação de combustíveis pressionam Petrobras



Por Cláudia Schüffner - Valor 29/03
Do Rio

Os preços da gasolina e do diesel vendidos no Brasil estão 28% mais baratos no Brasil quando comparados aos preços praticados nos Estados Unidos. Os valores se referem aos preços da gasolina A (antes da mistura com álcool) e do diesel com baixo teor de enxofre vendidos nas refinarias da Petrobras no país (antes do pagamento de impostos ao consumidor), comparados aos valores praticados no Golfo do México, incluindo custos com frete, na terça-feira.

Essa defasagem coloca pressão adicional sobre os custos da Petrobras, já elevados pela importação adicional de gasolina e diesel para atender ao consumo crescente. Se a situação permanecer ao longo de 2012, a Petrobras vai perder R$ 2,9 bilhões apenas com a importação dos dois combustíveis.

Pelos cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), somente em janeiro a Petrobras perdeu quase R$ 1 bilhão em função da defasagem do preço da gasolina e do diesel. Se a Petrobras continuar importando gasolina e diesel para atender ao mercado sem corrigir os preços, vai perder cerca de R$ 6 bilhões este ano, prevê Adriano Pires, do CBIE.

Outro fator que afeta a companhia é o aumento da demanda por combustíveis, que só começará a ser parcialmente atendida a partir de 2013, quando a refinaria de Pernambuco (Rnest), entrar em operação. Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), no ano passado foram vendidos diariamente 489 mil barris de gasolina, o que exigiu, na média, importações diárias de 34 mil barris. O aumento do consumo de diesel exigiu importações de 162 mil barris/dia, já que a produção de 718 mil barris/dia não atendeu à demanda, de 880 mil barris/dia.

Com base no balanço de 2011, o aumento da demanda provocou elevação da parcela de combustíveis importados nas vendas da Petrobras, de 28% para 32% do total. No ano passado, o consumo aparente de gasolina A cresceu 15% em relação a 2010, e a importação cresceu 333% na mesma comparação. Já as vendas de gasolina C cresceram 18,8%, segundo dados da ANP. Já o consumo aparente de diesel cresceu 3% com relação a 2010, o que elevou em 3,6% as importações. Este ano a situação deve piorar para a companhia, devido à previsão de aumento no consumo.
O assunto se tornou fonte de constrangimento na Petrobras. Oficialmente, os diretores e a presidente da estatal, Graça Foster, afirmam que ainda não há perda. "Não existe defasagem, vendemos pela média", disse ontem uma fonte da companhia.

"Esse negócio de estar ou não na média é balela", afirma o analista de um grande banco, que prefere não ser identificado. "Ajuda a ter preços mais altos em determinados produtos, mas o problema é que como a empresa não tem capacidade de refino, tem que importar. E isso tem impacto no resultado."

O efeito da defasagem sobre os custos da empresa é grande, porque a Petrobras tem que comprar gasolina e diesel no mercado internacional, pagando preços estabelecidos com base em um barril de óleo que está custando mais caro do que o preço de venda no Brasil.

No último trimestre de 2011, o Preço Médio de Realização (PMR) - média do preço de vários combustíveis produzidos pela empresa, notadamente gasolina, diesel, nafta, GLP, combustível de aviação e óleo combustível - era de R$ 173,00 por litro, que equivaliam a US$ 96. O petróleo do tipo brent (utilizado como parâmetro nas contas da estatal) fechou ontem cotado a US$ 124,77 o barril.

Apesar de não comentar o assunto, a direção da Petrobras vem tentando faz tempo reajustar preços, sem sucesso. A Petrobras tem na presidência do conselho de administração o ministro da Fazenda, Guido Mantega. E é justamente a Fazenda quem segura os preços dos combustíveis para manter a inflação sob controle, como afirmou o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, em recente entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo".

Maílson da Nóbrega, sócio da Tendências Consultoria, se diz impressionado com as afirmações de Lobão. Segundo o economista e ex-ministro, as declarações mostram a intervenção do acionista controlador na companhia.

"Eu fui da época do controle de preços e a Petrobras se machucou muito. Mas era diferente, havia um processo hiperinflacionário e o controle de preços era parte dos instrumentos de controle do governo. Agora estão usando a Petrobras como instrumento para atingir a meta da inflação", critica, lembrando que, em 2011, o IPCA variou 6,5%, não por acaso o limite superior da meta de inflação. Ele vê aí riscos para a credibilidade do Banco Central e também para o regime de metas.

"No ano passado, o governo só conseguiu cumprir a meta de inflação. Se o cumprimento da meta depender de intervenções do governo em preços relevantes como o do petróleo, o regime de metas foi para o espaço", afirma Maílson. Na opinião do ex-ministro, a utilização da Petrobras para controlar preços da economia gera um ambiente de incertezas para quem investe na Petrobras.

Pires, do CBIE, acha que a situação hoje é pior que na época de controle de preços, quando existia a conta-petróleo. "A Petrobras vendia mais barato, mas se creditava junto ao Tesouro para receber essa diferença. Agora não. Sem controle de preços, o governo tunga o acionista e a empresa. É um dinheiro que ela nunca mais vai ver", afirma.

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