sexta-feira, 2 de março de 2012
China reduz participação de dólares em suas reservas
Por Tom Orlik e Bob Davis
The Wall Street Journal,de Pequim
Novos dados do Tesouro dos Estados Unidos indicam que a China perdeu o gosto por investir tanto das suas reservas, de US$ 3,2 trilhões, em dólares e pode estar aumentando as compras de papéis em euros numa época em que uma crise de dívida está assolando mercados europeus.
Economistas há muito têm avisado que se a China começar a reduzir suas compras de títulos de investimento americanos, os juros poderiam subir nos EUA, prejudicando a economia americana. A diversificação das vastas reservas da China, porém, ainda não causou danos, em parte por causa da forte demanda mundial por papéis americanos como um investimento seguro em tempos difíceis.
De maneira geral, a demanda estrangeira por investimento em dólar continua forte. As reservas em dólares fora dos EUA subiram em US$ 1,8 trilhão, ou cerca de 17%, para US$ 12,52 trilhões nos 12 meses até junho, segundo dados do Tesouro americano.
Mas os números, uma das raras pistas sobre como a China investe suas reservas, sugerem que a porcentagem de dólares nas reservas de Pequim caiu de 65% em 2010 para 54%, o nível mais baixo em 10 anos. As compras de papéis americanos foram iguais a apenas 15% do aumento das reservas chinesas nos 12 meses, caindo de 45% em 2010 e de uma média de 63% nos últimos cinco anos, segundo cálculos baseados em informação publicada pelo Tesouro dos EUA e pelo governo chinês.
Alguns economistas dizem que a mudança por parte da China foi bem calculada. "Seria ótimo para a China adotar uma estratégia contrária e escolher momentos em que o dólar está forte para diversificar agressivamente a composição cambial da carteira de sua reserva", disse Eswar Prasad, um especialista em China do centro de estudos americano Brookings Institution.
A China não diz como investe suas reservas estrangeiras, que cresceram muito nos últimos dez anos. Pequim tem usado seu controle sobre o câmbio como um pilar de sua estratégia de desenvolvimento e amealhou imensos superávits comerciais. Isso requer que o Departamento Nacional de Moeda Estrangeira do governo chinês - também conhecido pela sigla em inglês Safe - invista esses recursos no exterior. No passado, o Safe deu sinais de que cerca de dois terços de suas reservas estão em papéis dos EUA, uma porcentagem que geralmente está de acordo com os dados anuais recolhidos pelo Tesouro.
Os novos dados do Tesouro sugerem que a China começou a diversificar rapidamente sua carteira de moedas. "Isso indica claramente a intenção da China de não pôr todos os ovos na mesma cesta", disse Lu Feng, diretor do Centro de Pesquisas Macroeconômicas da China da Universidade de Pequim.
A China tem muitos motivos para tentar reduzir sua exposição ao dólar. Entre elas estão os juros baixíssimos dos títulos de dívida do Tesouro americano e a vulnerabilidade a decisões de Washington sobre a administração de sua dívida que poderiam causar inflação que corroeria o valor desses papéis. O debate no ano passado sobre aumentar o teto de endividamento dos EUA deflagrou temores de que o governo americano poderia deixar de fazer alguns pagamentos.
Para calcular a porcentagem de dólares nas reservas da China, dados do Tesouro dos EUA sobre compras chinesas de papéis americanos têm de ser comparados aos dados de Pequim sobre o montante de suas reservas. Esse cálculo é complicado pelo impacto de flutuações cambiais sobre o valor das reservas chinesas. Mesmo assim, está claro que a China está comprando menos papéis baseados em dólar do que vinha fazendo.
Dados do Tesouro mostram que as reservas da China em papéis dos EUA subiram 7%, para US$ 1,73 trilhão, em 30 de junho, o que se traduz num aumento de US$ 115 bilhões em relação a 12 meses antes. No mesmo período de tempo, as reservas chinesas cresceram em 30%, para US$ 3,2 trilhões, um aumento de US$ 743 bilhões. Essencialmente, o ritmo das compras chinesas de papéis americanos não chegou perto do ritmo de expansão de suas reservas, o que reduz a porcentagem de ativos em dólar no cofre de moeda estrangeira da China.
Nick Lardy, um especialista em economia chinesa no centro de estudos americano Peterson Institute, observou que uma queda nos investimentos chineses em dívida emitida pelas gigantescas agências hipotecárias estatais dos EUA Fannie Mae e Freddie Mac responderam pelo grosso do declínio. No período coberto pela pesquisa anual, a China continuou a engrossar sua carteira de dívida do Tesouro americano, disse ele.
Dados mensais sobre a carteira chinesa de dívida soberana dos EUA têm sido considerados menos confiáveis do que a pesquisa anual. Mas o Tesouro agora introduziu uma nova técnica de pesquisa com objetivo de melhorar a precisão dos dados. Os números mais recentes mostram que a carteira chinesa de papéis do governo americano caiu em US$ 156 bilhões, para US$ 1,15 trilhão, no período coberto pela pesquisa anual. Isso sugere que a diversificação da China para além dos dólares continuou no segundo semestre de 2011.
Enquanto a China pareceu perder seu apetite por dólares entre junho de 2010 e junho de 2011, a moeda americana caiu 9,2% versus um amplo leque de moedas, segundo o Federal Reserve, o banco central dos EUA. De lá para cá, ela subiu cerca de 3%, conforme a crise europeia se aprofundava e a economia americana mostrava sinais de recuperação.
Lawrence Summers, que foi secretário do Tesouro no governo Bill Clinton e economista da Casa Branca no de Barack Obama, alertou contra atribuir a alta e a queda do dólar às decisões de investimento da China. "Fundamentos econômicos são fatores muito mais importantes no valor de moedas do que realocações de carteira, mesmo de grandes investidores", disse Summers. "Mais importante para o dólar serão as decisões políticas em Washington, não decisões de investimento em Pequim."
Para onde foi o dinheiro não investido em dólares? A Safe não diz. Funcionários da agência de câmbio não responderam a perguntas enviadas por fax ontem. Mas líderes chineses têm sido mais enfáticos em que querem ajudar os 17 países que usam o euro a superar suas dificuldades.
Wang Tao, economista do UBS na China, disse que o montante de dinheiro que teria saído de investimentos em dólares é tão grande que seria difícil investir em outros papéis sem atribular os mercados. Ela disse que embora a China possa estar diversificando, provavelmente não o está fazendo na velocidade que os dados do Tesouro dos EUA sugerem.
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