quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Tesouro capta pela menor taxa da história

Valor 04/01

Sem depender das captações externas para financiar a dívida - como ocorria no passado - e com as contas fiscais em ordem, o governo brasileiro tem se destacado no segmento de dívida soberana. Ontem, o Tesouro Nacional realizou a primeira operação em dólares do mercado internacional do ano, com a reabertura do bônus de 10 anos, o Global 2021, e pagou a menor taxa da história (3,449% ao ano) para um papel já emitido pelo Tesouro.
O prêmio da emissão, no entanto, ficou um pouco superior à reabertura do mesmo papel feita no ano passado. Em julho de 2011, o governo brasileiro captou US$ 550 milhões com esse mesmo bônus, pagando um "spread" sobre o título americano de mesmo vencimento de 105 pontos bases. Desta vez, o prêmio foi de 150 pontos.

A justificativa é que hoje os prêmios de risco estão mais altos para todos os países e os papéis do governo americano estão em patamares muito baixos, devido à política de afrouxamento monetário do país. Além disso, na comparação com outros emergentes, o Brasil tem conseguido as melhores taxas. O México, por exemplo, também realizou uma operação de 10 anos, ontem, mas pagando um prêmio superior ao brasileiro (180 pontos básicos de spread).

O desempenho dos bônus nacionais nos mercados secundários também tem sido positivo. O retorno para o investidor (yield) do bônus de 10 anos brasileiro - Global 2021 - caiu de 4,6%, no início do ano, para 3,38% hoje. Vale lembrar que o cupom desse título (remuneração de face) é de 4,875% ao ano.

A estratégia do governo brasileiro tem sido a de aproveitar janelas de mercado para fechar operações pontuais, mas na melhor condição possível. Com isso, o Tesouro tem feito lançamentos com taxas sempre decrescentes, conseguindo reduzir seu custo de captação de 10 anos no exterior em mais de 100 pontos básicos ao longo de 2011, mesmo com a piora da crise financeira internacional.

A consequência indireta dessa estratégia é a melhora da condição de captação também para as empresas. Afinal, as condições de captação do Tesouro servem de referência também para operações do setor privado.

A queda do prêmio sobre os papéis brasileiros contrasta com o custo pago pelas grandes economias europeias. A Itália, por exemplo, tem emitido dívida soberana com juros próximos a 7% ao ano para títulos de dez anos, enquanto a reabertura do bônus da República do Brasil com vencimento em 2021, ontem, pagou metade disso.

A transação superou as expectativas. Na abertura do negócio, na manhã de ontem, o Brasil pretendia captar US$ 500 milhões, pagando um spread em torno de 160 pontos básicos. A emissão foi liderada pelos bancos BNP Paribas e Itaú BBA, com coliderança da BB Securities.

A demanda pelo papel brasileiro também surpreendeu e chegou a US$ 3,6 bilhões. Ainda assim, o Tesouro Nacional preferiu captar apenas US$ 750 milhões para garantir a qualidade da operação e ter um melhor desempenho dos papéis do secundário - importante para garantir que empresas brasileiras aproveitem o momento para também captar a taxas baixas.

Durante a madrugada, o Brasil realizará uma nova rodada no mercado asiático (green shoe), que deve atingir o total esperado de mais 10% do volume já captado (US$ 75 milhões), levando o total captado para US$ 825 milhões.

Essa estratégia é possível pois o país não depende desses recursos para financiar sua dívida. A necessidade de financiamento no exterior está atrelada apenas ao papel institucional de abrir mercados e estabelecer patamares de juros (a chamada curva de juros) para balizar operações de empresas brasileiras. As obrigações do Tesouro no mercado externo somam menos de US$ 50 bilhões, com vencimentos neste ano bastante reduzidos, da ordem de US$ 2,8 bilhões.

O governo se beneficiou ontem, também, de um dia bastante positivo para os mercados, com forte alta das bolsas e queda do dólar frente as moedas internacionais. A menor aversão ao risco foi puxada por dados melhores do que o esperado da atividade das principais economias do mundo: Estados Unidos, China e Alemanha.

Nesse ambiente e com o sucesso da captação brasileira, a expectativa é de que as companhias nacionais aproveitem o atual momento de otimismo do mundo para buscar recursos no exterior, antes que novas notícias negativas elevem novamente a aversão ao risco. Entre as candidatas estão a Petrobras e a Vale, além dos grandes bancos brasileiros. Emissões de países emergentes também são esperadas para os próximos dias, como Colômbia, Peru, Rússia e Filipinas.

Mas a janela continua restrita, a exemplo do que aconteceu no segundo semestre do ano passado, às empresas de primeira linha e ainda limitado ao apetite de risco dos investidores internacionais. Os investidores iniciaram o ano bastante desalavancado, depois de um fim de ano bastante negativo e a atual janela deve se prolongar pelos próximos dois dias, na expectativa dos dados de novas contratações da economia americana (payroll), que será divulgado na sexta-feira. Se os dados saírem positivos como apontam os analistas, o período de estabilidade pode se estender por mais uma semana.

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