quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
Emergentes transferem US$ 827 bi a ricos
Por Assis Moreira - Valor 18/01
De Genebra
As economias emergentes transferiram US$ 826,6 bilhões para as nações ricas em 2011, numa alta de 25,3% em relação ao ano anterior, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
Em relatório sobre as perspectivas econômicas globais para 2012, a entidade diz que isso se explica pelo acumulo adicional de US$ 1,1 trilhão em reservas internacionais dos emergentes em 2011, que atualmente totalizam US$ 7 trilhões.
A vasta maioria desse dinheiro continuou a ser aplicada em títulos do Tesouro americano, de baixíssimo rendimento, e em outros títulos de dívida pública. O resultado foi a transferência líquida de recursos financeiros de emergentes para o mundo desenvolvido em crise, como em anos anteriores, só que em ritmo maior dos que o dos últimos dois anos.
A maior transferência foi de países asiáticos, refletindo os saldos comerciais e alta acumulação de reservas, sob a liderança da China. No entanto, no último trimestre de 2011, pela primeira vez em uma década, as reservas da China declinaram US$ 20,5 bilhões, acompanhado a baixa de seu saldo comercial.
Mas Pequim continua a controlar US$ 3,2 trilhões em reserves internacionais, quase o triplo das reservas do Japão, o segundo maior detentor desses recursos. Analistas acham que a queda chinesa foi temporária e as reservas voltarão a subir este ano - a questão é até que ponto os chineses vão diversificar os investimentos em títulos de outros emergentes com expansão robusta e rendimento melhor.
Em 2011, a América Latina transferiu liquidamente cerca de US$ 54 bilhões, mesmo nível do ano anterior, para o mundo desenvolvido. Até os países mais pobres do mundo transferiram dinheiro em termos líquidos para os ricos, cerca de US$ 7 bilhões.
Por outro lado, a ONU calcula que o fluxo de capital privado para os emergentes e economias em desenvolvimento aumentou para US$ 575 bilhões em 2011, comparado a US$ 90 bilhões em 2010 - ou seja, alta de 538,8%.
O maior componente desse fluxo foi de Investimento Direto Estrangeiro (IDE). Foram US$ 429 bilhões, mais de US$ 100 bilhões do que no ano anterior, ilustrando a confiança das empresas na expansão dessas economias. A Ásia recebeu 45% do total, seguido pela América Latina. A expectativa é de que esse fluxo continuará aumentando.
Já o fluxo de portfólios de curto prazo começou a declinar fortemente no segundo semestre, com investidores retirando recursos das ações de emergentes. A ONU calcula que a entrada líquida desse tipo de capital declinou 35%, numa prova de sua volatilidade.
Na verdade, dados atualizados ontem pelo RBC Capital, do Royal Bank of Canadá, estimam que a deterioração moderada do fluxo para portfólio acelerou no terceiro trimestre, e continuou negativo no fim do ano. E o resultado foi a redução de mais de US$ 130 bilhões em 2011, ante os US$ 240 bilhões de fluxo que tinha tomado os rumos dos emergentes nessa categoria em 2010.
Segundo RBC Capital, os países mais severamente afetados foram a Coreia, o Brasil e a República Checa. No Brasil, isso se explica em parte pela taxação no fluxo de capital de curto prazo.
De maneira geral, países que mostraram mais resiliência à saída de capital de curto prazo, como Chile e Colômbia, tiveram menos desvalorização de suas moedas no período, segundo o banco canadense.
Para o próximo ano, tanto os economistas da ONU como os bancos projetam alta volatilidade nos fluxos de capital para os emergentes.
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