quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
A melhor esperança de crescimento
Por Martin Wolf - Valor 11/01
Entre 2007 e 2012, a economia chinesa crescerá cerca de 60%. A Ásia emergente como um todo vai crescer quase 50%. No mesmo período, as economias dos países de alta renda crescerão meros 3%. Quem pode duvidar de que o mundo está passando por uma profunda transformação? A velocidade da convergência das rendas per capita está provocando extraordinária divergência de crescimento entre países avançados e emergentes. Isso tem persistido apesar do fraco crescimento dos países de alta renda discutidos na semana passada (nesta coluna). Enormes choques, como os ocorridos em 2008, afetam efetivamente as taxas de crescimento das economias emergentes. O mesmo provavelmente seria verdade se a zona do euro implodisse. Mas o efeito não parece perdurar.
Se observarmos em detalhes o crescimento das economias emergentes, veremos que a Ásia é a região mais dinâmica e a menos afetada pela crise mundial de 2008 e 2009. A África Subsaariana ficou em segundo lugar em relação à Ásia nos dois aspectos. A América Latina e Europa Central e Oriental revelaram-se menos dinâmicas e mais vulneráveis aos choques.
E agora, então? Como argumenta o Institute of International finance (IIF, associação mundial de instituições financeiras) em seu mais recente Capital Market Monitor: "A questão-chave para 2012 é saber se as peças vigorosas do sistema econômico e financeiro mundial - as economias de mercado emergentes e os setores empresariais não financeiros - são suficientemente robustos para amortecer o possível impacto do elevado risco de crédito associado às economias maduras".
Assim como é verdadeiro para os países de alta renda, o consenso das previsões para este ano tornou-se mais sombrio desde o início de 2011. Mas a piora nas previsões é bastante modesta. Em dezembro, previa-se que a China ainda cresceria 8,3% em 2012 e a Índia 7,5%. Não é de surpreender que os dados mostrem um rebaixamento do crescimento proporcionalmente bem maior para a Europa Central e Oriental, principalmente devido aos riscos na zona do euro. A expectativas em relação à América Latina - principalmente quanto ao Brasil - também são mais pessimistas do que um ano atrás.
Quais são os riscos, para melhor e para pior? Para as mais importantes economias emergentes, as chances de resultados melhores do que previstos podem não ser importante, pois já se espera que o desempenho delas seja muito bom. Sim, o crescimento poderá ser de 10% na China e 9% na Índia. Mas isso dificilmente seria uma grande surpresa. Uma parte do mundo emergente que poderá surpreender positivamente é a Europa Central e Oriental, desde que a zona do euro também caminhe melhor do que se teme.
Muito mais significativa é a possibilidade de grandes surpresas com viés desfavorável, particularmente no caso chinês, que tornou-se uma poderosa força motriz para outras economias emergentes, especialmente para os exportadores de commodities. Talvez seja isso que os mercados de ações pareçam estar dizendo, com grandes quedas nos índices dos mercados de ações desde o verão do ano passado (hemisfério norte). Mas, como diz a anedota, os mercados acionários previram 10 das últimas três recessões. Os mercados das economias emergentes são particularmente voláteis: alguns são puros casinos.
Assim, quais são os riscos de desempenhos piores do que os previstos para os grandes países emergentes? Algumas das vulnerabilidades resultam do próprio crescimento. O desenvolvimento torna uma sociedade mais móvel, mais exigente e mais bem educada e informada. Suas preocupações também mudam: a renda per capita na China está agora em níveis que produziram poderosas turbulências sociais e políticas em outros países. Assim, uma revolução de aspirações crescentes, reforçada pelas novas tecnologias da informação, restringem o que um governo pode fazer impunemente, mesmo com partido único.
Além disso, um desenvolvimento rápido é quase sempre desequilibrado. A China não é exceção. Wen Jiabao, o primeiro-ministro chinês, qualificou a economia chinesa de "instável, desequilibrada, descoordenada e, em última análise insustentável". Entre os problemas resultantes estão os da gestão da transição de uma economia puxada por investimentos para outra, puxada por consumo, e do enfrentamento das consequências de enormes bolhas imobiliárias.
Os países emergentes sofrem também com as vulnerabilidades externas. A mais óbvia, neste momento, é um grande choque nos países de alta renda, provavelmente emanados da zona do euro. Uma combinação de calotes soberanos, falências bancárias e até mesmo saídas de membros importantes da zona do euro certamente criariam turbulência. O ânimo cada vez mais isolacionista da direita americana poderia, então, levar ao ressurgimento de seu protecionismo historicamente tradicional.
Um ponto crucial para os países emergentes é o acesso a recursos essenciais a preços razoáveis. Uma das novas características mais importantes da economia mundial é que as commodities estão muito caras, apesar do fraco crescimento dos países de alta renda. Essa é uma medida da transformação do padrão de crescimento econômico mundial. Um grande choque no mercado petrolífero seria extremamente perturbador. Tendo em vista os acontecimentos no Golfo, isso não é inconcebível.
Contra isso, no entanto, lembremos que os países emergentes ainda mantêm grandes oportunidades para convergência com os níveis de produtividade dos países de alta renda. Em termos de paridade de poder aquisitivo, a renda real per capita chinesa era pouco mais que um quinto da americana em 2010. Na Índia, era inferior a um décimo. Esses países continuam a desfrutar o que o economista Alexander Gerschenkron denominou "vantagens do atraso". Em todos esses aspectos, a própria China é uma fortaleza. Considerando a combinação de potencial de crescimento e dinamismo econômico, é muito mais provável do que improvável que o crescimento será rápido em qualquer ano, ao menos no curto prazo. Mas, durante muitos anos, serão prováveis grandes choques adversos.
Os países emergentes, com a Ásia à frente, provavelmente continuarão a crescer rapidamente em 2012, como fizeram em 2010 e 2011. Isso é extremamente importante para o bem-estar humano. Mas os países emergentes não estão imunes a desastres de baixa probabilidade e alto impacto - internos, externos ou, mais provavelmente, uma combinação de ambos. Embora disponham de grandes amortecedores, esses poderão não se comprovar sempre suficientes. Para além dessas condições, os países emergentes não serão capazes de induzir os países de alta renda a um crescimento rápido. Os países de alta renda terão de salvar-se por seus próprios esforços. É isso o que os líderes de países emergentes argumentam. Eles estão certos. (Tradução de Sergio Blum)
Martin Wolf é editor e principal comentarista econômico do FT
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