Nouriel Roubini - FSP 19-02
Crise na Europa, freada na China, incertezas nos EUA e tensões no Oriente Médio ameaçam retomada global
Desde o fim de 2011, diversos desdobramentos positivos reforçaram a confiança dos investidores e conduziram a uma alta acentuada nos ativos de risco, a começar por ações e commodities em todo o mundo.
Os dados macroeconômicos dos EUA melhoraram, as companhias de primeira linha dos países avançados se mantiveram lucrativas, a China e os emergentes registraram somente ligeira desaceleração, e o risco de uma moratória unilateral e/ou saída de alguns membros da zona do euro se reduziu.
Além disso, sob seu novo presidente, Mario Draghi, o BCE (Banco Central Europeu) parece disposto a fazer o que for preciso para reduzir o desgaste do sistema bancário e dos governos europeus e também para baixar os juros. Os bancos centrais das economias avançadas e emergentes realizaram injeções maciças de liquidez. A instabilidade se reduziu, a confiança está em alta e a aversão ao risco se moderou -por enquanto.
Mas ao menos quatro riscos de baixa devem se concretizar neste ano, solapando o crescimento global e terminando por afetar a confiança dos investidores e o valor de mercado dos ativos de risco.
Primeiro, a zona do euro está em profunda recessão, especialmente os países periféricos, mas agora também as economias centrais, para as quais os mais recentes dados mostram contração na produção da Alemanha e da França.
Segundo, surgiram indícios de um enfraquecimento no desempenho da China e do restante da Ásia. Na China, a desaceleração em curso é inconfundível. O crescimento nas exportações se desacelerou acentuadamente e caiu abaixo do zero com relação aos países periféricos da zona do euro. A expansão nas importações, que sinaliza alta futura nas exportações, também se reduziu.
De forma semelhante, o investimento chinês em imóveis comerciais e residenciais está se desacelerando de maneira acentuada, e o preço das casas começa a cair.
O investimento em infraestrutura também recuou, e muitos projetos de ramais ferroviários de alta velocidade estão suspensos.
Terceiro, embora os números quanto aos EUA tenham sido surpreendentemente encorajadores, o ímpeto de crescimento parece estar perto do pico. O aperto fiscal será mais forte em 2012 e em 2013, o que contribuirá para a desaceleração, e o mesmo se aplica ao fim dos benefícios fiscais que estimularam os investimentos de capital em 2011.
Além disso, dados os problemas continuados nos mercados de crédito e de habitação, o consumo privado se manterá contido.
Por fim, os riscos geopolíticos no Oriente Médio estão em ascensão, graças à possibilidade de uma resposta militar de Israel às ambições nucleares iranianas.
Embora o risco de conflito armado permaneça baixo, a batalha verbal em curso está se ampliando, bem como a guerra clandestina que Israel e os EUA travam contra o Irã.
Além disso, existem tensões geopolíticas mais amplas e que não devem se atenuar, no Oriente Médio.
É possível até que se intensifiquem. A Primavera Árabe produziu resultados relativamente favoráveis na Tunísia, onde começou, mas os desdobramentos no Egito, na Líbia e no Iêmen continuam bem menos previsíveis, e a Síria está à beira de uma guerra civil.
Em outras palavras, há muito que poderia sair errado no Oriente Médio, e diversas combinações de incidentes causariam medo nos mercados e resultariam em alta considerável no petróleo.
A despeito do crescimento econômico fraco nas economias avançadas e da desaceleração em muitos mercados emergentes, o petróleo já está cotado a mais de US$ 100 por barril. Mas o ágio imposto pelo medo poderia trazer alta significativa de preço, com os efeitos negativos previsíveis que isso teria sobra a economia mundial.
Com tantos riscos em tantas áreas, os investidores, para surpresa de ninguém, darão preferência à liquidez em suas carteiras e rejeitarão ativos fixos de risco quando esses riscos de baixa previsibilidade vierem a se materializar.
Essa é ainda outra razão para acreditar que a economia mundial continua longe de obter uma recuperação equilibrada e sustentável.
NOURIEL ROUBINI é presidente da Roubini Global Economics (www.roubini.com) e professor na Escola Stern de Administração de Empresas (Universidade de Nova York).
Este artigo foi distribuído pelo Project Syndicate.
domingo, 19 de fevereiro de 2012
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