quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Nuvens negras sobre os titãs de eletrônicos do Japão



Por Daisuke Wakabayashi
The Wall Street Journal

Em apenas três dias da semana passada, as três fabricantes mais célebres de eletrônicos do Japão - Sony Corp., Sharp Corp. e Panasonic Corp.-, abandonaram as esperanças de obter lucro anual, projetando prejuízos combinados de quase US$ 17 bilhões para o ano fiscal que se encerra em março.

A hemorragia ocorre anos depois de as empresas terem adotado estratégias distintas para melhorar suas magras margens de lucro. A Sony tentou espremer sua cadeia de suprimentos. A Sharp construiu uma fábrica gigantesca e de ponta pra produzir painéis de cristal líquido no Japão. A Panasonic adquiriu uma rival local menor para expandir-se em novas áreas.

Problemas de curto prazo contribuíram para a atual maré de resultados negativos: um iene forte, o terremoto e tsunami que devastaram o Japão no ano passado, as inundações na Tailândia, custos crescentes da energia e a crise financeira europeia.

Mas os problemas que afligem empresas como Sony, Sharp e Panasonic são mais básicos. As marcas japonesas, que já foram dominantes na indústria de eletrônicos, simplesmente não estão criando aparelhos que as pessoas queiram tanto. Os que elas chegam a criar não são diferenciados o bastante, e as empresas acabam numa concorrência de preços brutal. E, quando o consumidor deseja mudanças, elas não podem reagir rápido o suficiente porque seus recursos estão espalhados por demasiadas linhas de produtos.

O resultado é que elas não podem acompanhar as inovações da Apple Inc. - com seus iPads e iPhones - ou o poderio de manufatura da Samsung Electronics Co., uma potência de semicondutores, celulares, e televisores. Para colocar em perspectiva os US$ 17 bilhões de perdas projetadas pelas três empresas japonesas, a Apple lucrou US$ 13,1 bilhões só no último trimestre e a Samsung reservou US$ 41 bilhões para despesas de capital em 2012.

O leque de eletrônicos produzidos pelas empresas japonesas inclui tevês, aparelhos de DVD Blu-ray e laptops, com a Sony oferecendo também câmeras digitais e consoles de jogos. No entanto, elas perderam, em grande parte, o trem dos aparelhos portáteis, e os resultados das vendas são prova disso.

Na divisão de eletrônicos e videogames, uma das mais importantes da Sony, a receita do terceiro trimestre fiscal caiu 24% em comparação com o ano anterior. Na Panasonic, a divisão de produtos digitais audiovisuais teve queda de 19% no faturamento do trimestre terminado em dezembro. A divisão de eletrônicos da Sharp, que não inclui painéis de LCD, registrou queda de 5,3% na receita em relação ao trimestre terminado em setembro, algo especialmente alarmante, já que o trimestre de dezembro inclui as vendas de Natal.

"Historicamente, este é o período mais difícil já vivido pelos fabricantes de eletrônicos do Japão", diz Kaminaga Masugi, sócio da firma de consultoria estratégica Roland Berger. "Eles nunca realmente tinham sido desafiados antes, e agora enfrentam ataques de todos os lados".

Há paralelos entre os titãs americanos de tecnologia da década de 1970 e as empresas japonesas de eletrônicos de hoje, diz Kaminaga. Enquanto aqueles que se empenham em adaptar seus negócios podem sobreviver e, em última análise, prosperar, como fez a International Business Machines Corp., algumas empresas podem terminar à beira do colapso, como a Eastman Kodak Co. E da mesma forma que as empresas americanas foram desafiadas pelo surgimento de empresas de tecnologia do Japão, as japonesas agoram enfrentam uma concorrência crescente, não só de rivais coreanas, mas também, em algum momento, da China.

Na sexta-feira, a Panasonic projetou um prejuízo líquido de 780 bilhões de ienes (US$ 10,2 bilhões) para o atual ano fiscal, por causa de contínuos problemas em sua divisão de tevês, onde a aposta em monitores de plasma não deu os resultados esperados, e de uma baixa contábil relacionada à aquisição da Sanyo Electric Co.

Desde 2009, a Panasonic investiu cerca de 820 bilhões de ienes para transformar a Sanyo em uma subsidiária integral para acelerar uma iniciativa de produtos eficientes no consumo de energia. A lógica por trás da estratégia era fornecer um contrapeso para a deficitária divisão de eletrônicos da Panasonic, com áreas onde a Sanyo é forte, como as de baterias recarregáveis e painéis de energia solar.

Mas logo depois que a Panasonic começou a investir na Sanyo, a concorrência passou a empurrar para baixo os preços das baterias. A Panasonic informou que as perspectivas de lucro da Sanyo "se deterioraram significativamente".

A Sony agora prevê um prejuízo de 220 bilhões de ienes (US$ 2,87 bilhões) para o ano que termina em março. A empresa começou o ano fiscal esperando lucro, mas já no segundo trimestre fiscal havia se resignado a terminar com prejuízo.

A Sharp projetou um prejuízo para o atual ano fiscal de 290 bilhões (US$ 3,8 bilhões), o que seria o maior já registrado em seus 100 anos de história.

Parte dos problemas da Sharp resulta do investimento em uma fábrica de painéis LCD de 1 trilhão de ienes que foi inaugurada em 2009. A fábrica da Sharp foi elogiada pelos arrojados métodos de produção, mas à medida que a economia global desacelerava, a Sharp terminou com um grande excesso de estoque.

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